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Reconhecer os Saberes

Atribuir representações sobre determinados objetos, sujeitos, práticas comportamentais, qualquer que seja à natureza desses elementos, parece ser uma tônica inseparável da humanidade ao longo do processo histórico, sem, ou com pouquíssimas restrições. Provavelmente, o grande problema das representações designadas para qualquer que seja o objeto, parta do pressuposto de alguém, ou de um coletivo de pessoas que se consideram ‘superiores’, àqueles que tem por objeto de reflexão. Diante da crendice da superioridade, se consideram aptas a designar conceitos representativos.



Podemos partir do pressuposto de que a representação sobre outrem, pode ser compreendida como uma ‘mera’ representação, possivelmente distante da compreensão que os próprios indivíduos tem deles mesmos. Embora, seja importante ressaltar que definições representativas, historicamente vem produzindo inúmeros percalços sociais para quem é representado. Assim, penso que o grande desafio que nos deparamos na contemporaneidade, não seja necessariamente o de procurar definir, ou mesmo dizer o que acreditamos que outro seja, tampouco acreditar-se com possibilidade de dar voz ao outro, mas, acredito que temos que caminhar para uma perspectiva de ouvir e reconhecer o valor dos saberes que circulam cotidianamente.


Principalmente pelo fato de nos encontramos envolvidos direta, ou indiretamente com essa circulação de saberes, se envolvendo com alguns, e recusando tantos outros. Concordo plenamente que a defesa em prol do diálogo parece um clichê, algo um tanto quanto óbvio, que teve seu nascedouro de forma mais consistente na antiguidade, principalmente com os gregos. Mas, como afirma o historiador Chiavenato, em algumas circunstâncias contextuais, dizer o obvio não é uma mera obviedade, mas uma significativa e importante audácia. Posso estar equivocado, porém, tenho a impressão que estamos perdendo a capacidade de dialogar com aqueles que consideramos diferentes no campo ideológico.


Quando afirmo que estamos perdendo essa capacidade de diálogo, embora o respeito as diferenças ao longo do processo histórico nunca fora uma qualidade louvável do ser humano, me refiro ao nosso isolamento de conhecimento, ou melhor dizendo, isolamento com relação aquilo que acreditamos que conhecemos, quando procuramos nos aproximar daqueles que pensam de maneira parecida com nós, distanciando-se evidentemente dos que não pensam.


Não é demasiado afirmar que, o nosso distanciamento com relação aqueles que pensamos que não sabem, produz uma sociedade no mínimo intolerante, sem adentrar necessariamente no amplo conceito histórico da intolerância. A discussão pode parecer sem sentido, porém, se observamos em nossa volta, perceberemos que nos encontramos isolados conosco mesmo, ou envoltos apenas com sujeitos que se aproximam de nós no campo das ideias. Percebo uma dificuldade enorme na sociedade brasileira, no que tange a contemporaneidade, de ter a humildade para reconhecer outros saberes, que evidentemente não são os seus saberes. Em suma, respeitar os dizeres do outro.


O respeito, penso, começa com a humildade para reconhecer que sabe muito pouco, e o pouco que sabe, não significa necessariamente conhecimento. Provavelmente para superarmos dificuldades históricas em nosso país, como o preconceito social, culminando na desigualdade, no racismo, na misoginia, assim como na homofobia, xenofobia, entre outras mazelas produzidas pelas nossas próprias estranhas, teremos que invariavelmente caminhar não somente na e para a arte do diálogo, mas, principalmente para a arte de ouvir. Sendo esse, o primeiro e mais importante passo. A partir dessa capacidade para escutar, estabelecermos um diálogo propositivo com quem escutamos, ou com quem nos escutou.


A tarefa parece simples. No entanto, não é nenhum pouco. Lembra-se dos gregos? Então, há alguns mil anos atrás, a arte do diálogo foi compreendida como uma chave para o grande avanço social, sendo uma concepção idealizada por importantes filósofos da antiguidade, como Sócrates, para nos atermos a um único, entretanto, importante exemplo. E se, estamos falando da necessidade de estabelecermos diálogos em pleno século XXI, rapidamente presumimos que a tarefa não foi nada fácil, não é, e provavelmente não será tão simples, como podemos imaginar.


Boa semana para vocês.

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