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Nós e a Corrupção

Ultimamente, o conceito mais presente no meu dicionário cotidiano tem sido aquele que se remete aos preceitos da corrupção. Me deparo com pessoas falando sobre corrupção no dia a dia, ligo a TV para acompanhar os telejornais a perspectiva não é diferente, procuro ler colunistas e a palavra com seus significados aparece nos textos que esses escrevem, nas redes sociais, que possui, ou melhor, é utilizada para compartilhar felicidades, não é raro, pelo contrário, mais do que corriqueiro ver postagens com sujeitos indignados, se referindo a temática que norteará a reflexão.



As discussões que acompanho são no mínimo duais com relação ao conceito e a prática da corrupção no cenário nacional. Desse modo, me deparo com análises sensatas, no qual, procuram compreender o viés histórico da corrupção, reiterando o elemento endêmico da mesma. No entanto, acompanho análises que na minha ótica, são um tanto quanto superficiais, atribuindo, ou reproduzindo perspectivas que apontam para a corrupção como se ela pertencesse a um conjunto específico de sujeitos, partido político, ou qualquer outro seguimento social.


No tempo presente, se você procura transparecer uma imagem de alguém engajado socialmente, preocupado com o presente e consequentemente com o futuro do país, um dos grandes passos para conseguir transparecer essa imagem começa indubitavelmente pelo diálogo sobre a corrupção. De fato, as pessoas que se indignam com o mencionado conceito no território nacional, detém toda a razão para socializar essa indignação, devido ao fato de que, uma das origens das nossas principais mazelas sociais, está diretamente associada com o elemento corruptivo. Porém, penso que há um grande equívoco social ao pensar, ou mesmo atribuir conceitos para se elencar a prática da corrupção em seu estágio atual no Brasil.


Infelizmente não tenho condições de mensurar o percentual de atribuições relacionadas ao aspecto corruptivo que acaba introduzindo-o, apenas como determinismo pertencente a conjuntura representativa da política. Não tenho condições de ser mais incisivo sobre esse percentual, no entanto, posso afirmar sem medo de estar equivocado que, a ampla maioria das menções elencadas anteriormente, não consegue, ou reluta em reconhecer que a prática da corrupção é um hábito cultural no território brasileiro. O conceito de cultura, evidentemente não se refere apenas a questões construtivas, mas, também, aos grandes problemas sociais, como por exemplo, a cultura do estupro, ou a cultura da violência.


Ambas são compreendidas erroneamente no âmbito de uma ampla parcela da sociedade, como algo menor, pertencente a uma conjuntura específica de indivíduos, se distanciando assim, no campo da interpretação, de uma perspectiva que há relacione, como pertencente a uma conjuntura mais ampla. Quem nos possibilita uma importante noção histórica da corrupção nos rincões brasileiros, sem distinção social, é o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902 -1982), principalmente por meio do seu clássico livro Raízes do Brasil (1995), no qual, faz uma análise sobre as entranhas socioculturais desse imenso território, analisando principalmente as conjecturas que formam a sociedade brasileira, entre essas, o que dá sustentação a nossa análise, o viés da corrupção, que pode ser compreendida também, pelo adágio popular de “jeitinho brasileiro”.


O conceito de e do “jeitinho brasileiro”, se refere geralmente a um indivíduo que se considera e é considerado esperto, conseguindo levar vantagens pessoais diante das relações que estabelece com outras pessoas, principalmente no que tange a negociações, sendo oportunista, aproveitando-se de uma estrutura social que possibilita essa prática e, valoriza o jeitinho, que em síntese, na maioria das situações se refere a um hábito corruptivo. Poderíamos citar vários exemplos, desde furar a fila de um banco, estacionar em locais proibidos, mentir para conseguir vantagens pessoais, discriminar grupos minoritários e assim sucessivamente.


Exemplos simplórios, porém, de uma importante carga de significado, em virtude de evidenciarem uma prática nossa, inserida no dia a dia, tida e compreendida como algo irrelevante por nós mesmos. No entanto, os hábitos descritos acima, nos ajudam a refletir sobre uma sociedade corrupta, porém, que não se considera corrupta, adorando apontar o dedo para os outros, se colocando em um panteão de pureza social. A indignação contra a corrupção, assim como as discussões sobre essa temática, reitero, penso ser legítimas, se constituindo como elementos necessários, principalmente para caminharmos em uma perspectiva que possa dirimir os impactos dessa mazela social em nosso meio.


Assim, o que consideramos como algo menor, tem um grande significado e impacto social. Não há corrupção maior, ou menor, há, infelizmente, corrupção. Acreditar no fim da mesma, é uma utopia, a meu ver, perigosa, e um tanto quanto moralista. O grande desafio social, penso, não pode estar relacionado ao anseio de se acabar com a corrupção, mas, a perspectiva de diminuir os impactos da corrupção em nosso meio.

Para isso, compreender que direta, ou indiretamente corroboramos e somos participes dessa sociedade corrupta, continua sendo um desafio para aqueles que compreendem que os problemas sociais são endêmicos, complexos ao mesmo tempo, no qual, não serão resolvidos por passe de mágica, e tampouco elegendo-se novos e velhos postulantes à heróis nacionais. O momento requer reflexão, autocrítica, e a partir dessas premissas, muito diálogo.


Boa Semana Para Vocês!

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