O cantor e compositor, Fernando Antinelli, vocalista do grupo musical, O Teatro Mágico, em uma de suas mais belas composições, intitulada: Sonho de uma flauta, diz que, “nem toda palavra é, aquilo que o dicionário diz”. Na semana anterior, escrevi uma coluna dizendo que, as frases conseguem me tirar do lugar comum. Assim, não tenham dúvidas que, o trecho selecionado acima tem esse mesmo efeito alucinógeno, em virtude de me levar à inúmeros lugares, no qual, tenho dificuldades em descrevê-los, porque além de muitos, esses lugares aparecem e desaparecem em e nos meus pensamentos ao escutar e visualizar as múltiplas apresentações do, Teatro Mágico.
Acho (gosto do termo) que, uma das mais belas expressões culturais do Brasil, se manifesta pelas composições e interpretações de inúmeros artistas musicais, espalhados pelos imensos rincões brasileiros e, espalhados também pelo transcorrer do tempo histórico. Fazer essa afirmação, parece algo um tanto quanto démodé ou, uma mera obviedade, já que, todos/as dizem. Porém, exaltar a arte musical brasileira não é, a meu ver, uma obviedade, mas, um reconhecimento, se distanciando de uma perspectiva nacionalista, para evidenciar o seguinte: Sim, o Brasil foi, é, e sempre será produtor de arte musical, independentemente do contexto em que, possamos nos encontrar.
Sinceramente, fico muito preocupado com generalizações, algo muito típico da sociedade brasileira no tempo presente. Por exemplo, quando recorremos aos/as grandes artistas musicais que, se consolidaram no limiar histórico do país, é muito comum ouvirmos ou, lermos designações pejorativas sobre as composições musicais produzidas na contemporaneidade. A crítica feita a essas designações pejorativas não significam que, não devemos ter uma sagacidade crítica com relação as músicas inseridas e veiculadas na indústria cultural brasileira. As análises são importantes, porém, perdem sua capacidade de circulação à medida que, partem para as generalizações.
Independentemente de apreciar ou não, o que é veiculado pela indústria cultural, em virtude de adentramos em um campo cheio de minúcias no âmbito da definição de cultura ou, não cultura, não podemos partir do pressuposto de homogeneizar a música brasileira por meio das inserções de alguns/mas artistas nos grandes centros midiáticos. Embora, há evidentemente artistas que, se consolidam nesse espaço industrial e que, trazem uma linguagem poética importante por meio de suas canções. O que chamo de linguagem poética está concentrado na capacidade de um/a artista de retirar alguém do lugar comum, de fazê-lo/a literalmente viajar em suas composições.
Assim, as músicas que, acompanhamos cotidianamente nos espaços da grande mídia, não representam evidentemente a música brasileira, representam sim, uma parcela dessa música, no qual, os/as artistas inseridos na e pela grande mídia, devem ser respeitados em suas homogeneidades e, o respeito não exime de se fazer críticas as suas composições, interpretações e, em muitos/as pela falta de autenticidade e originalidade poética.
Quem estabelece críticas a indústria cultural no Brasil, homogeneizando a música brasileira por meio da intensidade da circulação nesse espaço, comete a meu ver, um grande equívoco, no sentido da banalização ou, da generalização como mencionamos, em virtude de fazer com que, pessoas que se distanciam desse parâmetro industrial da música, não procurem os importantes espaços alternativos, no qual, encontrará uma importante representatividade da música brasileira que, se concentra em suas especificidades culturais, atendendo aos mais instigantes preceitos compreendidos por cultura.
A crítica generalizante acaba contribuindo para a manutenção do status quo da música circulante nos espaços midiáticos, porque influencia muitos/as a acreditarem que, a música brasileira é homogênea e, a partir dessa compreensão, o alternativo é rotulado como pertencente à esfera igualitária, sendo rotulado, há um claro impeditivo para uma gama maior de indivíduos circular nesse espaço da diversidade cultural. Talvez, nos deparamos com uma oportunidade ímpar, quando em vez de denegrimos de maneira voraz os “ídolos” contemporâneos da música nacional, poderemos contribuir mais se sairmos da crítica pela crítica e, começarmos a sugerir e, apresentar outras vertentes e possibilidades musicais. Afinal, tudo pode ser, digamos problematizado, inclusive o que, denominamos por gosto.
Não poderia finalizar essa coluna, quando nos propomos a pensar a importância dos espaços alternativos para a música brasileira, sem lamentar a morte de, Belchior. Sem dúvida alguma, o cantor cearense foi e sempre será um dos mais incríveis artistas que, o Brasil conseguiu produzir. Não podemos negar que, a figura física de Belchior se foi, porém, sua arte poética continuará presente. Talvez não à encontraremos no espaço da grande mídia, mas, sempre teremos oportunidade de encontrá-la no espaço alternativo, sendo esse um dos grandes refúgios do “rapaz latino-americano”.
Boa Semana para vocês!