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A Fragilidade da Democracia dentro da Terceira República

Nos últimos meses, alguns intelectuais tem defendido a hipótese de que, devido ao golpe parlamentar sofrido pela, ex presidenta Dilma Roussef, chegou-se ao fim a Terceira República no Brasil. Entre os pensadores defensores dessa ideia, podemos destacar o filósofo, Vladimir Safatle e, também o cientista político, João Feres Júnior. Assim, na ótica desses, estaríamos vivenciando um período híbrido, caracterizado por um estado de exceção com característica constitucional, se sustentando por meio do conceito de impeachment.


Tendo como base esse parâmetro levantado acima, do qual, endosso as teses, temos como grande desafio em nosso país, consolidar definitivamente a democracia. Não digo restaurar, porque os moldes da democracia no Brasil após o fim do golpe civil-militar (1964-1985) demonstrou ser extremamente vulnerável, desigual, caracterizada por favorecimentos as grandes elites econômicas e, provavelmente o que se configura como mais prejudicial, quando os poucos anos, no qual, convivemos com a democracia construída, esse sistema não conseguiu se enraizar socialmente, demonstrando ser factível de se desestabilizar por qualquer conchavo político.


O não enraizamento da democracia nos últimos anos que, flertamos com ela, pode ser explicada pela ausência de tradição democrática permeada em nosso meio social, oriunda de um processo histórico caracterizado por sucessivos golpes. Nos acostumamos com golpes em decorrência do nosso passado histórico, porém, estamos distantes de nos acostumarmos com a democracia. A crítica um pouco mais enfática se explica por uma série de fatores. Por exemplo, não é fortuito que, uma série de generais violadores de direitos humanos, quando cometeram os mais horrendos crimes durante a mencionada ditadura civil-militar, continuem dando nomes a tantos monumentos importantes nos mais diferentes espaços dos rincões brasileiros.


Temos praças, hospitais, escolas, rodovias, entre outros que, trazem na sua identidade o nome de alguém que, perseguiu, torturou e, matou inúmeras pessoas. Continuar homenageando esses indivíduos não significa um desconhecimento social para com o regime, mas, um forte indicio de uma nostalgia por parte de uma parcela social. Se tivéssemos um enraizamento democrático, essa parcela não aceitaria de maneira alguma a perpetuação simbólica da violência, exigiriam dos “representantes políticos” uma retirada imediata desses nomes que, mancham a história do país de sangue e opressão.


Demonstra ser uma continuidade da história repressora, o significativo apoio popular que, candidatos/as da extrema-direita recebem, principalmente quando aumentam o tom de voz, vociferando preconceitos contra as mais diferentes camadas sociais. Ao tentarmos observar o conteúdo social propalado por esses sujeitos, rapidamente percebemos que, não há conteúdo, mas, uma propagação de ódio e, apologia à violência. Fatores esses que, agradam uma série de fanáticos, no qual, não estão preocupados com conteúdo social, porém, se preocupam se determinado indivíduo colocam o dedo em riste quando fala e, se o tom de voz é ameaçador, se assim for, pronto, está aí alguém para ser defendido.


Também não é fortuito que, de forma cada vez mais intensa, nos deparamos com sujeitos do nosso cotidiano se referindo ao período ditatorial com um ar de saudosismo, procurando justificar os seus dizeres com frases mais ou menos assim: “Naquele tempo não havia corrupção”. Evidentemente que, essas pessoas sabem que a corrupção é algo endêmico na conjuntura social. Porém, não é a preocupação com a corrupção que, as move, mas, uma violência internalizada e idealizada como forma de governabilidade, reflexo de um autoritarismo ainda embrenhado social e, institucionalmente.


Por último, não demonstra ser fortuito que, uma boa parte da grande imprensa mantenedora do golpe civil-militar de 1964, podendo ser sintetizada por meio do grupo Globo de Comunicação, continua ativa e dando as diretrizes sociais no tempo presente. A frágil democracia que, a sociedade brasileira vinha tentando construir, não foi capaz de regulamentar e consequentemente democratizar os grandes meios de comunicação no país. Em uma sociedade, no qual, não há tradição democrática, ter um monopólio midiático demonstra ser extremamente danoso.


Assim, regulamentar os meios de comunicação no Brasil, se configura como um desafio importante para a construção de uma nova democracia brasileira. Sem a regulamentação da mídia, a nova democracia que, não temos ainda o parâmetro de quando se consolidará, não terá condições de se sustentar. O grande problema da Terceira República foi, estabelecer relações harmoniosas ou, de afagos com àqueles que, historicamente sempre estiveram no poder.


A Terceira República flertou com esses poderes ocultos, porém, ainda muito influentes em nosso meio. Como afirma o sociólogo francês, Roland Barthes: “O poder está em todo o lugar, até mesmo nos lugares que, você não espera”. Porém, no caso brasileiro, os atores do poder eram e são os mesmos, presente nos mesmos lugares de sempre. A Terceira República ruiu em decorrência de não conseguir, não compreender ou, não querer enfrentar de forma sistemática essa estrutura dos poderes.


No dicionário brasileiro, a palavra democracia foi inserida muito recentemente e, a escrita, infelizmente foi feita a lápis, quando esse lápis demonstrou ser de uma qualidade no mínimo duvidosa. A nova democracia deve ser escrita sem receio para com os enfrentamentos sociais, políticos e principalmente de cunho econômico. Partindo por meio desses parâmetros, acredito que, teremos maiores e melhores condições de escrever com nitidez e, de forma definitiva a palavra democracia no dicionário cotidiano do país.


Abraço, boa semana para vocês!.

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