top of page

Orgulho LGBT

Nesse (último) domingo, dia 18 de junho, acontece (aconteceu) a 21ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, trazendo como pauta o seguinte tema: “Independentemente de nossas crenças, nenhuma religião é Lei! Todas e todos por um Estado Laico”. Apesar de trazer o nome da capital paulista, em decorrência do evento acontecer na respectiva cidade, a parada é considerada o maior evento artístico e cultural do seguimento LGBT do mundo, envolvendo pessoas de diferentes cidades e consequentemente de muitos países, para em uníssono gritarem: “Eu tenho orgulho de ser lésbica, homossexual, transexual, bissexual, eu existo como pessoa, e quero ser respeitada(o) como ser humano”. (Grifo meu).


No âmbito do processo histórico, as manifestações culturais de comunidades, grupos, etnias e, outros sujeitos segregados socialmente, sempre foram importantes, em virtude de evidenciarem um mecanismo de ocupação de espaço e, também de autoafirmação dos indivíduos, enquanto indivíduos. Por exemplo, a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, se caracteriza, a meu ver, como um importante meio de demarcação de espaço sociocultural e, como parte, reafirma uma luta sistemática contra o preconceito arraigado socialmente.


Nas últimas décadas, em decorrência das redes sociais, a sociedade brasileira de uma forma mais ampla, tem se desnudado, uns para com os outros, e esse desnudar nos apresenta uma configuração social carregada historicamente de preconceito, se recusando a reconhecer a importância e a beleza da diversidade cultural, da pluralidade de ideias e assim sucessivamente. Diante da recusa, procura homogeneizar, cristianizar e, nos “heterogeinizar” socialmente.


Existe assim, uma padronização social e, aquelas(es) que se distanciam desse padrão imposto, idealizado, religioso, familiar, machista, entre outros, sofre infelizmente às consequências pela sua autoafirmação, muita das vezes ‘contracultural’ ao paradigma vigente. Essa historicidade do conservadorismo em um país que, não consegue avançar por meio de uma educação humanitária, demonstra ser mais difícil, não digo de ser desconstruído, mas, de ser um campo aberto para a reflexão e para o diálogo.


Por exemplo, é muito comum ouvirmos em nosso dia a dia, quando o assunto se volta para a prática do preconceito, dizeres nesse sentido: “Eu, de maneira alguma sou preconceituosa(o), mas...) É justamente esse, mas, que traz consigo uma carga histórica considerável, demonstrando ser o principal meio que, evidencia um enraizamento sistemático de um caráter conservador da nossa conjuntura social. O viés do caráter pode ser melhor compreendido na prática do cotidiano, por meio de diferentes formas estabelecidas e naturalizadas, como procurarei demonstrar logo abaixo.


Assim sendo, A Parada do Orgulho LGBT, em todos os sentidos é fundamental, independentemente do contexto, seja mais ou menos conservador, porém, no que tange o auto reconhecimento e como consequência autoafirmação, demonstra a meu ver, à sua característica mais essencial. Historicamente as pessoas pertencentes “a comunidade LGBT”, sempre se encontraram reclusas, ocultadas intencionalmente, com medo e receio de se reconhecerem como pertencentes ao seguimento. O ocultamento do sujeito para com ele mesmo, não se construiu em virtude de uma vergonha do indivíduo pela sua orientação sexual, longe disso, mas, se materializou e se materializa em decorrência da violência física e, não menos dolorida, no campo simbólico que, ele(a) sofre cotidianamente.


A violência física é mais perceptível, porém, aquela que se manifesta no meio simbólico, consegue se entremear socialmente, se disfarçando de não violência, dificultando assim, a sua percepção. É corriqueiro esse disfarce aparecer por meio do tom nenhum pouco ingênuo da brincadeira. Afinal, no tempo presente é muito comum nos depararmos com preconceitos travestidos de piadas sobre negros e principalmente sobre grupos pertencentes a comunidade LGBT. Desse modo, ao acharmos engraçado esse preconceito jocoso, estamos literalmente possibilitando a continuidade da manifestação simbólica do preconceito.


Segundo o sociólogo, Lalo Leal, o humor que provoca dor, não é humor, mas, violência. A prática cultural do riso, segundo a perspectiva da historiadora, Kelly Nunes (2012) deve ser compreendida como algo sério dentro do âmbito social, em virtude do riso somente ter sentido, se for entendido socialmente. “Você não entendeu a piada?” Sem compreensão representativa, o riso perde a sua viabilidade e seu sentido. Se torna perceptível, por meio dessas perspectivas de análise, o quanto a violência simbólica está presente em nosso meio, se disfarçado de diferentes formas, dificultando sobremaneira a sua identificação.


No campo da violência prática, sempre é importante ressaltar que, o Brasil é o país mais violento do mundo no tocante à sujeitos pertencentes à comunidade LGBT. O índice de homicídio ou, das mais diferentes formas de agressão, culminando em inúmeros suicídios é algo alarmante. No entanto, muitas das vezes esse caráter da violência passa desapercebido, ou é compreendido subjetivamente falando, como fraqueza emocional, outra forma disfarçada de preconceito, por compreender a violência contra homossexuais – representação – como algo menor, não merecendo atenção, no sentido de coisificar o sujeito.


Em um contexto caracterizado pelo ressurgimento intenso de uma parcela da sociedade defendendo valores da família tradicional, orgulho “Hetero”, bancada da Bíblia e tantos outros problemas que, a sociedade brasileira ainda não conseguiu resolver, A Parada do Orgulho LGBT, demonstra ser um alento de movimento sociocultural de suma importância, rompendo com a invisibilidade imposta, procurando ocupar espaço físico, simbólico e cultural, principalmente no tocante a humanização.


Em síntese, viva a Comunidade LGBT e todos os “grupos” que, procuram o auto reconhecimento e lutam e labutam para dirimir os impactos do preconceito inserido e entremeado à moda brasileira.


Abraço, boa semana para vocês.

44 visualizações

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page