A afirmação de que o Islamismo é a religião que mais cresce no mundo não é dúbia. Para este texto não penso ser necessário indicar fontes ou dados quantitativos que possam vir a sustentar a assertiva. Ao realizar uma busca simples na internet, jornais, revistas e outros, o/a leitor (a) poderá perceber que se trata de uma informação honesta. Ao lado do Cristianismo, o Islamismo está presente em todos os cinco continentes do planeta, onde adeptos de Alá e do Islã (termo que significa submissão a Deus, Alá) professam sua crença e fé.
A motivação que parte do autor em discorrer sobre o tema advém de um momento peculiar que deve ser compartilhado com o/a amigo (a) leitor (a). Certa feita, estava em um salão de cabeleireiro. Ao estar no recinto esperando pacientemente minha vez, ao lodo de mais duas pessoas, o assunto emergiu do vazio. No decurso do assunto, ouvi a seguinte proposição: “Precisamos contratar os islâmicos para jogar uma bomba no Brasil”! Pronto. Daí em diante, o assunto caiu no ostracismo. A assertiva proferida referia-se ao atual momento crítico que perpassamos. Inerente ao fato da situação política que vivenciamos – e que, é importante que se diga, não é resultado do contexto atual, mas ao contrário, é fruto de contextos anteriores -, depreende-se duas questões iniciais: a) de que a percepção para a resolução dos problemas estruturais do país se restringe à finalidade bélica e radical, e b) que há uma associação – equivocada é claro – entre islâmicos e terroristas.
No momento exato em que ouvia tais absurdos, refletia internamente, como que em um movimento introspectivo, sobre aquela associação errada. Pensei em começar a contradizer os interlocutores daquele discurso obnubilado. Entretanto, contive-me. Sabe-se que tais discursos são senso comum, vindos de uma maciça propaganda midiática que por intenção política e ideológica quer empreender tal semelhança entre os fiéis islâmicos e grupos terroristas isolados para relegar a estes a responsabilidade por completo dos flagelos acometidos em diversas localidades.
Lembro-me que a poucas semanas estava trabalhando com este tema em sala de aula. Quando introduzi o tema (Islamismo) das aulas vindouras, uns dois ou três alunos proferiram: “Nossa, vamos estudar o Estado Islâmico!”. Minha reação foi de quem tivesse sido provocado, intensamente. Precisava descontruir aquela imagem torpe e diluída sobre aquele tema em específico. Desde então, portei-me de uma metodologia dinâmica. Trabalhei com textos diversos, slides, vídeos, documentários etc. Precisava desconstruir a associação que alguns tinham entre grupos terroristas específicos, que se diziam potentados defensores da fé islâmica, para com o real e verdadeiro Islã. Acredito que consegui desconstruir, ao menos de início, aquele edifício preconceituoso sobre o Islamismo naqueles alunos (as).
Não raras vezes o Islamismo é confundido com o terrorismo. Em particular, os atos de terror que concorrem diariamente nos noticiários propiciando a todos grande espanto e medo, é correlacionado com a crença islâmica em sua totalidade. Certamente, podemos dizer, que essa “confusão” não é fortuita e muito menos ocasional. Em parte, há de se admitir, o condicionamento da analogia islamismo-terrorismo é síntese mais do que evidente de um desconhecimento histórico alarmante. Leva-se em conta também, importa acrescer, determinadas estratégias políticas e ideológicas, como afirmamos acima, que visam escamotear os genuínos preceitos do Islã.
A partir do entendimento da História do Islamismo, fica muito fácil não associar a religião aos atos terroristas. A religião que surgira no século VII da era cristã e que teve como principal interlocutor Maomé, o profeta, se sustenta sob cinco pilares notadamente essenciais, são eles: oração cinco vezes ao dia; caridade; peregrinação a Meca (cidade sagrada para os mulçumanos); jejum e profissão de fé (admissão que Alá é Deus único). Em grande parte, o Islamismo se difundiu a partir da Península Arábica, Oriente Médio e África. Seu principal mecanismo difusor foi, sem sombra de dúvida, a prática corriqueira do comércio árabe com diversos outros povos. Na sua fase colonial, verifica-se que nos estudos de História do Brasil é notadamente presente a influência do Islamismo uma vez que grande quantidade de negros africanos escravizados e traficados como mão de obra abastecedora dos engenhos de açúcar e adjacências, eram islamizados.
Na hinterlândia de sua dinâmica exclusiva, decorrência proeminente da crise de sucessão que aportara no centro da questão política do Islã, as ramificações foram intermitentes. Em parte, sunitas (85% da comunidade mulçumana mundial) e xiitas (15% dos islâmicos no mundo) dividem, cada qual a seu modo, o direito e o dever de profissão de fé do Islã. A dicotomia gestada no limiar da religião islâmica gerou, como de costume, setores mais conservadores, outros mais liberais, e outros tantos mais radicais. Há países mais conservadores, aqueles que conservam os princípios descritos no Alcorão (livro sagrado para os adeptos do Islamismo), outros mais liberais (via de regra países Ocidentais) e outros mais radicais (geralmente aqueles em que o Estado é teocrático).
De todo modo, a circunscrição do equívoco da associação do terrorismo ao Islã é decorrência mais do que sintomática do fundamentalismo religioso, que não deixa de ser político, ideológico e porque não, econômico. O fundamentalismo prevê as vias mais extremadas de qualquer solução a um determinado conflito. O ódio alimenta grupos isolados dissidentes que se proclamam detentores dos preceitos islâmicos. Em geral, faz-se o uso deturpado do Alcorão para legitimar atos bárbaros de terrorismo. Outrossim, os fundamentalistas islâmicos sustentam a intolerância não apenas religiosa, mas humana e subjetiva. Entrementes, se quer uma profusão unilateral, sem reconhecer as diferenças que subsistem no bojo do próprio Islã.
Por uma infeliz coincidência presenciamos hoje uma crise humanitária que atinge milhões de pessoas, não apenas nas regiões de conflito (Oriente Médio – Síria, Israel, entre outros), mas em todo o mundo. Trata-se do que vou denominar de xenofobismo islâmico. A onda de imigrantes vindos das regiões de conflito (Síria, principalmente) para a Europa e outras regiões, tem disseminado o ódio e a aversão ao estrangeiro, em que pese, o de cultura e valores islâmicos. Tanto é verdade que na França se formulou uma lei onde mulheres islâmicas que vivem no país não devem usar a burca em locais públicos. As pretensões de Donald Trump em diminuir ou mesmo sanar a entrada de mulçumanos nos Estados Unidos reforça a tese da potencialização crescente do xenofobismo islâmico.
É desses atos de intolerância e desmensurado preconceito que se aumenta a violência e o ódio. É preciso distinguir grupos minoritários que não representam o Islã nos seus fundamentos primeiros e basilares e que, em sua grande maioria, são financiados por uma grande rede de oligopólios capitalistas cujo interesse funda-se no advento do lucro exacerbado, do verdadeiro Islamismo pregado por Maomé e exercido na prática por seus fiéis adoradores.
Sendo assim, o Islamismo não é o terrorismo!
Boa semana para todos vocês.