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Sociedade dos Padrões

No dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o termo “padrão” é assim definido: “Modelo oficial de pesos e medidas. O que serve de base ou norma para avaliação; medida. Objeto que serve de modelo à feitura de outro. Desenho decorativo estampado em tecido ou noutra superfície” (AURELIO, 2004, p. 542). Apesar de sua definição categórica, o termo nunca foi tão representativo da sociedade em que vivemos. É verdade que a sociedade contemporânea evoluiu em determinados aspectos (ciência, tecnologia, democracia, liberdade individual, conquista de direitos etc.), mas em outros regrediu de forma intermitente (direitos humanos, educação, saúde, questão ambiental, bem-estar social etc.). Nossa sociedade ainda privilegia paradigmas sociais, políticos, econômicos, culturais, étnicos, ideológicos e científicos. Isso demonstra que estamos ainda muito distantes da verdadeira e genuína liberdade, na acepção de obtermos plenitude de ação e pensamento sem que nos ocorra a alienação, o tolhimento e a naturalização dos eventos cotidianos.


Porquanto, estar em desarranjo com os padrões nos torna elementos descartáveis e fora dos quadros normativos e naturais do tecido social do qual somos partícipes. Se não nos “encaixamos” ou nos moldamos de acordo com o paradigma vigente, sofremos retaliações, indiferença, desprezo, inconformidade e, o mais grave, a intolerância e o preconceito. Não estar dentro da “normalidade” significa rechaçamento, em todos os níveis da vida em sociedade.


Numa sociedade como a nossa, ter a cor da pele diferente da minha, uma religião diferente da minha, uma cultura diferente da minha, uma opção sexual diferente da minha, uma condição econômica diferente da minha, um pensamento e/ou uma opinião diferente da minha, já é o suficiente para estar fora do padrão. E se não estou em comum acordo com as normativas impostas, sofro as consequências imediatas. O ódio e a violência talvez representem em melhor exemplo o que significa não compor a estrutura paradigmática que nos circunda. Se paramos para refletir, isto é assustador.


Em muitos casos, essa padronização exacerbada quase não é percebida. Ela está no mais sorrateiro e simples ato cotidiano. Ela está no seio familiar (família nuclear), na escola (bons alunos), no trabalho (meritocracia), nas relações afetivas (homem e mulher), na sociabilidade (não seja introspectivo), no direito de se expressar e opinar (pense conforme eu penso) etc. O mais assustador é que reproduzimos constantemente tais paradigmas e não nos damos conta disso.


Certamente os padrões vigentes estão a serviço de uma forte a ainda presente estrutura conservadora e tradicional no conjunto de nossa sociedade. Há muito tempo ocorre lutas frente ao esfacelamento desse sistema de paradigmas para que se respeite a dignidade da pessoa humana, para que se diminua ou mesmo se erradique a intolerância ao outro. Esse é o mais firme e coerente propósito que devemos perseguir constantemente, dia após dia.


De certo modo avançamos muito no sentido de conquistas de direitos importantes para a desnaturalização dos nossos padrões. Porém, deve ser constante a busca por renovar as forças, fortalecer a luta e dignificar aqueles que se empenham em trabalhar em prol de uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceito e, não obstante, longe de qualquer conjunto de padrões.


Boa semana para todos vocês!

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