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Criança, Jovem e Adulto

Enquanto sociedade, o Brasil tem uma dificuldade enorme para encontrar meios de diminuir os seus problemas do tempo presente. Isso acontece porque na maioria das vezes se recorre às alternativas implementadas em contextos anteriores, quando, por várias circunstâncias em vez de resolverem, às alternativas proporcionaram o efeito contrário, intensificando as feridas abertas. Porém, mesmo abertas e se alastrando por todo o corpo, o remédio adotado continua a ser o mesmo.


A nossa dificuldade em se desvencilhar do caráter conservador, que não é somente uma característica, mas, um valor cultural construído historicamente, faz com que nossos pensamentos em um sentido majoritário, sempre esteja parecido com os nossos antepassados. Há uma dificuldade sociocultural de se contextualizar enquanto campo das ideias. Por exemplo, engana-se quem pensa que a violência é um problema do tempo presente, embora quem pense desse modo se encontra ludibriado pela sensação, fazendo-o sempre voltar a nostalgia de tempos passados. No entanto, enquanto conjunto social, fomos muito mais violentos do que somos atualmente.


Não há como adentrar nesse metiê de análise sem pensar nas origens da violência, ocasionada majoritariamente pelo meio social, deixando as pessoas vulneráveis socialmente. Porém, não há uma preocupação com essa origem, e muito menos com o fato do sujeito ter sido criança, adolescente e, provavelmente ter enfrentado as maiores atrocidades, como violência, preconceito, desestabilidade emotiva, ausência de oportunidades, distanciamento escolar, segregação aos espaços de lazer, cultura, entretenimento e outros. Todos esses fatores mencionados, fizeram com que lutasse, não para viver, mas, para sobreviver.


Assim, como essa tentativa de identificação por meio das raízes passa ao largo do pensamento majoritário, somente há efetivamente preocupação quando a ferida se encontra infeccionada, ou seja, quando o sujeito está na fase adulta. Nesse estágio, o conservadorismo aponta sempre duas alternativas. A primeira delas é a sempre recorrente criminalização do indivíduo, materializada por meio de um desejo desmesurado por vingança.


A violência do cotidiano, na maioria das vezes individual, é, totalmente diferente dessa última, porque essa violência vingativa é um sentimento coletivo e, são as mesmas pessoas que desejam e anseiam por vingança, tidas e compreendidas por justiceiros ou “cidadãos de bem” que, no estágio inicial do problema, quando a precariedade social reina no universo infantil, fingem não perceber o enraizamento, reitero, histórico da questão.


A violência do cotidiano é um ato transgressivo do sujeito que à comete, principalmente pelo fato desse indivíduo não aceitar pacientemente a desigualdade social enfrentada ao longo das gerações. A grande maioria se fecha e aceita de forma amena, outros, se revoltam e procuram diminuir os efeitos práticos da desigualdade social reinante. À essa transgressão, muitos compreendem pelo conceito equivocado de roubo.


Quem convive com a desigualdade passada de geração em geração não rouba, mas, é um transgressor do contrato social, procurando uniformizar do seu modo as relações sociais. O roubo se apresenta como pertencente a outra natureza. Assim, quando a elite privilegiada retira das classes subalternas as condições de viver de forma digna, isso sim é roubo, porém, alguns preferem chamar isso de corrupção.


A outra alternativa recorrente apresentada pelos “cidadãos de bem” para diminuir esse problema apresentado, está vinculado ao estado policialesco. Como não temos tradição democrática e tão pouco progressista, a conjuntura majoritária imagina que as soluções sempre estão e estarão no encarceramento em massa, na construção de mais presídios e no aumento de policiais nas ruas. Desse modo, naturalizam as ações desses agentes públicos, mesmo quando essas ações se pautam exclusivamente pela violência com relação aos menos favorecidos. A sociedade que adora culpar o sujeito pela sua vulnerabilidade é, a mesma que se satisfaz com os homicídios cometidos pelos órgãos repressores do estado.


A criminalização, concomitantemente com o estado policialesco, tido e compreendido como mecanismo natural se apresentam como um reflexo de um mesmo fenômeno, a saber, a nossa identidade sociocultural. Sem ser pessimista, mas, com os direcionamentos que se apresentam para um futuro próximo, há uma forte tendência do caráter conservador que nos molda se intensificar. Se eventualmente essa probabilidade se concretizar, as feridas abertas se tornarão uma hemorragia, levando o paciente, Brasil, ao seu estado de óbito. Porém, há esperanças e, essas estão concentradas na perspectiva da insanidade não pertencer como um conceito cultural ad eternum no território brasileiro.


Abraço e boa semana para vocês.

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