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Impressões de uma jovem sobre o suicídio

Recentemente, quando alguns colegas e eu estávamos dialogando sobre os modus operandi da sociedade brasileira, fui indagado por uma jovem que queria saber o meu conceito sobre o suicídio. Somente para contextualização, um dos assuntos que até então mais havia permeado entre as nossas conversas estava vinculado diretamente as formas de violência existentes em nosso meio.



Desse modo, penso que a questão levantada pela jovem talvez não tenha sido compreendida pelos seus pares, (não compreendemos o suicídio como uma crítica a violência social) porque naquele momento, quando todos(as) avidamente falavam de homicídio, furto, sequestro, violência policial, e inúmeras críticas a ineficiência do estado, à jovem trouxe a temática do suicídio para a roda de conversa.


Importante ressaltar que no contexto temporal do diálogo, a cidade interiorana que nos encontrávamos, a saber, a cidade de Porangatu, passava por um processo de práticas de suicídios impressionantes. Em uma cidade com pouco mais de trinta mil pessoas, distante de ser pacata, mas como dizem; “a maioria conhece todo mundo”, acompanhar cotidianamente os burburinhos de que fulano havia se suicidado, que sicrana tão jovem havia retirado a sua própria vida era demais, não somente para a jovem, mas para uma grande parcela da sociedade. Os suicídios atingiram principalmente os jovens, que transitavam entre os 15 e 20 anos.


Na construção da conversa, e diante da pergunta “inesperada” naquele momento, respondi que: “O suicídio era um ato de coragem, sendo resultado de uma violência cometida por todos nós”. Quando remeti ao conceito de violência social, as faces que tentavam entender os motivos da pergunta modificaram-se rapidamente, fazendo uma importante associação com o que estávamos dialogando anteriormente. No entanto, percebi que o conceito de coragem não soou bem aos ouvidos da jovem. Percebendo a receptividade um tanto quanto inquietante, resolvi me valer do método defendido pelo filósofo Sócrates, a saber, devolver, ou procurar responder uma “pergunta” com algumas indagações.


E assim o fiz, perguntando o que eles(as) pensavam sobre o suicídio. No calor da conversa, inúmeras colocações foram feitas, algumas de cunho mais progressistas, outras de caráter conservador, e poucas falas elencando o sentido da rebeldia, e também da revolta da pessoa para com o meio. Procurei ouvir atentamente as observações, porém, em uma fala em especial, eu estava mais interessado, principalmente na fala da jovem que havia feito a pergunta.


O meu interesse estava concentrado no seguinte aspecto, por acreditar que, quando se faz uma pergunta, provavelmente a pessoa que fez, já tem conceitos construídos, ou opinião formada sobre o que perguntou, e espera que a resposta venha em duas vertentes, a primeira que corrobore com suas ideias, e a segunda seria evidentemente no teor das contradições. Provavelmente a minha resposta sucinta e vazia tenha ficado no meio termo. Mas deixemos o que penso sobre o suicídio para um outro texto, e continuemos à acompanhar a construção da narrativa.


Diante do silêncio de quem tinha perguntando, procurei formular uma indagação idêntica ao que ela havia feito. Assim, questionei-a da seguinte maneira: “E você, o que pensa sobre o suicídio?” Não teve um silêncio de cinema no espaço que estávamos, porque as pessoas continuaram falando, mas mesmo assim consegui ouvir sua tímida e entrecortada resposta. Assim, ela me disse: “Ah, eu penso que as pessoas que se suicidam é porque não tem Deus no coração”. Diante dessa assertiva, algumas pessoas que estavam no local, acenaram com a cabeça no sentido de corroborarem com a resposta.


Evidentemente que não fiquei surpreso com a análise, porque infelizmente, o que paira no imaginário coletivo, é que, os fatores que levam ao suicídio é a ausência da religiosidade no convívio da pessoa. As impressões que vão ao encontro da resposta da jovem, podem ser percebidas por meio das conversas do cotidiano, ou por meio das redes sociais, que trazem a temática cotidianamente para o centro das atenções. No entanto, na maioria das vezes as prováveis conversações encontram no sustentáculo religioso, ou ausência desse, um local confortável para o diálogo.


No tocante ao enredo, rapidamente os assuntos se deslocaram para outras vertentes e o tema suicídio saiu de pauta. Quando as pessoas se dispersaram, e ela estava saindo, eu disse o seguinte: “Nunca fomos tão religiosos”. Ela fitou os olhos, pensou, imagino, em me contradizer, mas saiu em um profundo e inquietante silêncio. Depois desse acontecimento, nunca mais tive a oportunidade de voltar à conversar com essa jovem sobre o suicídio e outros temas, mas em breve pretendo retomar o diálogo.


Por meio dos diálogos que estabelecemos no cotidiano, quase sempre é possível compreender, ou encontrar o microcosmo social. Por fim, se desejas minimamente compreender a realidade que vive, procure, no primeiro momento, conversar com seu vizinho(a).


Abraço e boa semana para vocês!.


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