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Jean Carlos

Diferença

Em uma análise sobre os atuais desdobramentos que concorrem no campo político, econômico e ideológico brasileiro, podemos chegar a uma constatação sintomática: vivemos em uma sociedade que não está preparada para o diálogo construtivo e muito menos para o exercício do contraditório. Quando nos referimos a diálogo e contraditório estamos querendo dizer que ainda não estamos preparados para ouvir e aceitar as idéias e opiniões divergentes da nossa. Se se nos deparamos com algo que se distancia bruscamente de nossas convicções e ideologias somos inclinados a receber com desprezo, ódio e intolerância o “diferente”. Quando nos referimos ao “diferente”, grifado em aspas, não estamos querendo tratar o termo de forma pejorativa. É importante dizer que o “diferente” aqui é pensado por nós como condição humana ontológica, ou seja, ser diferente faz parte do Ser, faz parte da natureza humana. A “diferença” que nos é peculiar é um elemento que existe independentemente de nossas ações coletivas e individuais ao longo da História. A desigualdade, por outro lado, corresponde a ações provenientes das contingências humanas, da forma como nos organizamos e nos reproduzimos social, política e economicamente.


Lembro-me das aulas de História da América lecionadas pelo professor Valtuir quando de minha graduação em História na Universidade Estadual de Goiás (Câmpus Itapuranga). Havia por parte do professor Valtuir uma preocupação exacerbada em descontruir estereótipos e preconceitos sobre diferentes contextos e realidades sociais e históricas constituídas. Além disso, éramos provocados a refletir criticamente sobre a necessidade de olharmos para o “outro” diferente a partir de suas especificidades sociais, culturais, regionais, locais, políticas, econômicas, entre outras. Quando nos direcionávamos a pensar a América Latina éramos induzidos a pensá-la por dentro, através de si mesma, sem aquela visão discursiva e ideológica produzida pela Europa. Além disso, enfatizava o professor para pensarmos na América como um cipoal de diversidades e diferenças, levando em consideração as especificidades e particularidades da realidade sociocultural latino-americana.


Com efeito, discursos unilaterais que se prestam ao proselitismo decorrem de leituras obnubiladas por concepções generalizadas dos fatos e eventos históricos-sociais. É certo que significativa parcela da sociedade contemporânea se equivoca em julgamentos pré-concebidos, preconceituosos e estereotipados, que por sua vez resultam em pensamentos e ações violentas, fascistas, ditatoriais e intolerantes. Tais elementos não deixam dúvidas sobre um ponto, qual seja, a negação da principal característica das sociedades: a diferença. Desse modo, agir contra a diferença e a diversidade é estar na contramão de nossa própria condição humana, de nossa particular e evidente determinação ontológica.


Portanto é imprescindível que se desejamos uma sociedade que se aproxime da justiça social e da diminuição da desigualdade socioeconômica é preciso que abordemos a diversidade e a diferença em todos os campos da vida cotidiana, uma vez que estamos inseridos em uma conjuntura de relações sociais diversas. A falta de conhecimento histórico e cultural é em grande medida a causa mais evidente de um desconhecimento sobre a diversidade cultural, étnica, religiosa, política, econômica, social e identitária dos homens e sociedades. Um velho ditado diz que eu só posso falar de algo com devida propriedade e certeza se o conheço muitíssimo bem. Essa é uma questão nefrálgica. Proferir leituras e interpretações baseadas apenas no plano dado da imediaticidade do real é cair no ledo equivoco da generalização. A partir do momento em que me predisponho a conhecer com interesse e profundidade o “outro”, estou acertando em considerar o meu próprio eu diferente, diverso e plural. Além do mais conhecer sobre o “outro” implica na salvaguarda de possíveis erros históricos e sociais, evitando assim, o desconforto do constrangimento.


Boa semana para todos e todas!

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