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Havia Flores

Desde a tenra idade, tenho tido a oportunidade de acompanhar vários discursos de diferentes representantes do estado, e de pretendentes à representantes, sobre o que pensam acerca da educação. Em uníssono, dizem que o caminho do desenvolvimento do país passa impreterivelmente pela educação. Nos dias atuais, quando estou muito distante de ser uma criança, continuo ouvindo os mesmos dizeres, quando não os mesmos sujeitos a reiterarem o discurso de valorização do preceito educacional. Se as falas continuam as mesmas, em tese, significa que pouquíssimas ações têm sido feita para melhorar os índices educacionais no país.



Quando se fala em educação, nunca é demais reiterar que o conceito é amplo, e a escola é um dos seguimentos, no entanto, não está desassociada das práticas esportivas, culturais, e de lazer. Por exemplo, uma cidade pode ter a melhor infraestrutura no quesito de prédios escolares, docentes extremamente capacitados, e discentes comprometidos com o processo de ensino/aprendizagem, porém, se não houver espaços de lazer, atividades culturais e praças esportivas disponíveis para a sociedade, isso significa que no âmbito educacional, a hipotética cidade não se distancia da realidade brasileira.


Educação requer um componente de fatores intercalados, no qual, a sociedade representada pelos moradores de bairro, poder público e comunidade escolar, atuam diretamente nesse processo de construção das diretrizes, tendo um diálogo constante, visando a construção de um conjunto social verdadeiramente educado. Quando nos referimos a interação coletiva, introduzimos um preceito básico dentro de uma sociedade democrática, a saber, a participação popular.


Entretanto, falar em participação social dentro da política brasileira, se constitui como uma grande utopia, porque as bases históricas de sustentação da política nacional não está ancorada na participação popular, mas na representação. No entanto, essa representação não se encontra vinculada as classes populares, pelo contrário, seu ancoradouro está vinculado diretamente aos interesses dos grandes grupos econômicos, e religiosos do país.


Por exemplo, o conceito de bancada da Bala, do Boi, e da Bíblia, no intuito de pensar representantes do congresso nacional, não se enraizou no imaginário coletivo por mera casualidade, mas ancorado na consolidação desses grupos dentro da política nacional. Se engana quem pensa que os mencionados grupos estão apenas na esfera federal, eles encontram mecanismos para se entremearem em todos os espaços representativos da política, seja nas grandes, médias ou pequenas cidades.


Importante ressaltar que a não participação popular não se manifesta por inércia social, longe disso. O que explica a não participação social é um conjunto de fatores, entre esses, o fato de que as importantes lideranças das classes populares, raramente conseguem se eleger diante da estrutura das campanhas eleitorais, quando conseguem colocar seus blocos na rua, já pode ser considerado uma importante conquista.


Outro detalhe não menos importante, está no fato de que as representatividades políticas, não se sentem representantes do conjunto social, mas atuam como se fossem donos desse seguimento. Assim, se relacionam conosco como se fossemos coisas, e não sujeitos. Por meio da coisificação que nós é atribuída, temos que conviver diariamente com inúmeras atrocidades que dilaceram a perspectiva de igualdade social.


Para a concretização de uma sociedade igualitária, investir em educação cultural, esportiva e escolar, é primordial. Porém, para a implementação desse projeto, como fora mencionado anteriormente, o diálogo entre diferentes setores sociais é um mecanismo sine quo non. Como, infelizmente, esse diálogo não acontece por parte dos “representantes da política”, a sociedade fica à mercê da ideologia de mercado desses representantes.


Diante dessa evidência, nos deparamos cotidianamente com notícias alusivas a possibilidade de fechamentos de escolas, independentemente da viabilidade sociocultural da mesma, assim como espaços universitários, públicos diga-se de passagem, sendo ameaçados de terem suas portas fechadas, dia após dia. Em hipótese alguma podemos esquecer das escolas dirigidas por militares, e por fim, como resultado dessa política de desconstrução social, a recorrente tendência de construção de mais unidades prisionais para dirimir a violência.


No entanto, não é só de e da ausência de esperança que vivemos, há ainda esperança, e essa força surge justamente da mobilização social, quando pessoas se reúnem em prol de causas que de fato às interessam, como a luta e labuta de inúmeras comunidades espalhadas por esse imenso país para que os “representantes políticos” não fechem as suas escolas. E geralmente, a mobilização social, por mais difícil que seja de se efetivar, traz resultados importantes para a comunidade, e talvez a principal conquista esteja no envolvimento coletivo.


A tendência do fechamento de escolas, assim como a militarização das mesmas, equivale a devastação de um jardim repleto de flores. O primeiro mecanismo, elimina de vez, e o segundo vai eliminando gradativamente. A luta para a manutenção das flores é importante, assim como o envolvimento para a construção de novos jardins.


Abraço e boa semana para vocês.

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