Com o fenômeno da circulação abrangente das redes sociais no cotidiano da sociedade, há, no imaginário, a impressão de que o monopólio dos grandes veículos de comunicação, entenda, nessa circunstância, tevê, perde rapidamente espaço.
De fato, nos últimos anos o acesso à Internet aumentou consideravelmente no país, atingindo, segundo pesquisa do IBGE realizada em 2016, 116 milhões de pessoas, correspondendo a 64,7% da população. Tendo passado mais de dois anos da pesquisa, é provável que os índices aumentaram, e esse aumento deveria impactar, diretamente, na forma como a sociedade se relaciona com os meios de produção do conhecimento.
É possível que a Internet, enquanto fenômeno popular, seja a maior revolução do século XXI, principalmente por possibilitar que espaços de comunicação, até então restritos a um grupo pequeno de sujeitos, adquiram cada vez mais amplitude, possibilitando, minimamente, uma pluralidade de vozes, fator imprescindível para qualquer núcleo social que tenha na consolidação da democracia o fito único.
No âmbito dos preceitos democráticos, alguns conceitos estabelecem uma relação de proximidade, como liberdade de imprensa, assim como a ideia da pluralidade de vozes. A partir da intensidade do acesso à internet, há a sensação de que os valores da liberdade estão fortemente assegurados no país, impedindo-nos de caminhar, por exemplo, para o monopólio midiático.
Entretanto, a sensação de garantia da liberdade pode e deve ser relativizada, porque o monopólio da comunicação, mesmo com a intensidade da internet, continua atuante no Brasil. Algumas problemáticas podem ser inseridas para explicar esses dois fenômenos que aparentam ser contraditórios, mas que estabelecem uma relação umbilical. Por exemplo, existe no imaginário popular uma crença, considerável, de que os espaços dos meios tradicionais de comunicação, como os telejornais, são os únicos capazes de produzir a denominada verdade jornalística.
Nesse sentido, é corriqueiro nos depararmos com inúmeras pessoas que reproduzem os dizeres dos telejornais como se fossem uma verdade absoluta. Reforçar o que foi dito pela grande imprensa seria meramente inocência do telespectador/a? Não, pelo contrário, o fato da crença é apenas, embora preocupante, uma constatação social.
Segundo dados da “Pesquisa Brasileira de Mídia”, realizada em 2016, quase 90% da população se vale da tevê como veículo informativo, ou de entretenimento. Por meio da pesquisa é possível notar que mesmo com o advento da Internet, o número de pessoas que assistiam televisão diariamente, em 2016, era de 77%. Somente para comparação, no ano de 2014, 73% dos entrevistados/as disseram que assistiam cotidianamente aos programas televisivos, e em 2013 o índice era um pouco menor, quando 65% afirmaram que assistiam.
No tocante ao percentual de pessoas que tinham acesso à Internet no ano de 2013, segundo dados do IBGE, o número chegava a 48%. Somente para reiterar, em 2016 o número de acordo com o instituto se aproximava dos 65%, evidenciando um crescimento exponencial de internautas em menos de três anos.
Tudo bem, as pesquisas demonstram que cada vez mais os computadores, tablets, smarthphones e outros estão conectados, porém, no Brasil, o fenômeno ainda não é indício de que os aparelhos de televisão estejam sendo desligados. A evidência demonstra não somente a capacidade de resistência dos meios tradicionais de comunicação, mas, também, suas influências para conseguir se manter ativos diante da chegada do novo.
Por meio das possibilidades de análise sobre a resistência/influência do tradicional, em detrimento das múltiplas vozes, continuemos mensurando, pelo menos no imaginário social, a credibilidade endereçada aos telejornais. Outra hipótese para se pensar os motivos que leva a sociedade a optar pelo telejornal em detrimento de outros espaços está no fato de que à Internet, ou um seguimento mais específico, como às redes sociais, são um espaço de entretenimento, e não necessariamente de informação, e produção de conhecimento. Através da hipotética leitura, o entretenimento, assim como o humor, sátira, conversas com amigos/as virtuais, e outros, não estariam relacionados com o desnudar social, mas como um escape da vida cotidiana.
Outra hipótese, provavelmente menos plausível, está relacionada com a preocupação da sociedade com as fake news, possibilitando que a construção do conhecimento sobre questões sociais tenha nos telejornais o ancoradouro, digamos, seguro, diferentemente das redes, suscetíveis às manipulações da informação.
Se houver dúvida com relação a criticidade social, acerca da resistência com relação as notícias na rede, existe a possibilidade de se deslocar para o fato de a prática da leitura não ser um hábito cotidiano da população brasileira, seja pelo excesso de trabalho, ou pelo fato de o investimento da educação escolar ser ainda incipiente no cotidiano social, impedindo a conjuntura maior de se aproximar dos espaços da mídia alternativa, que possuem nos blogs o principal meio de difusão, demandando leitura para a construção do conhecimento, porque, geralmente, os espaços alternativos não possuem recursos para fazerem telejornais diários, e a escrita se apresenta como possibilidade mais viável.
Outro fator explicativo sobre a influência da tevê no imaginário, está relacionado com a historicidade/tradição desses grandes veículos, circulando no cotidiano há várias décadas, diferentemente dos espaços alternativos, que estão se apresentando timidamente a população. A timidez não é pela falta de capacidade, mas pela ausência de condições, explicável pelo monopólio dos grandes veículos de comunicação no Brasil, quando conseguem centralizar e estabelecer uma série de mecanismos para impedir a difusão de múltiplas vozes.
O país, mesmo sobre a direção de governos progressistas, não conseguiu, e para ser mais sincero, se esquivou da propositura, e também do diálogo para se construir meios para democratizar a mídia, possibilitando e incentivando os editoriais jornalísticos a falarem em uníssono, quando a fala única atende à interesses específicos, privilegiando, ou melhor, reforçando os privilégios dos detentores do poder.
Valorizar o advento e a inserção da Internet nos lares brasileiros é fundamental, porém é necessário continuar reiterando a necessidade da democratização da mídia, porque somente assim será possível acreditar na construção de uma sociedade que tenha na diversidade, perante todos os níveis imagináveis, o preceito para se enraizar e caminhar, democraticamente, para o ainda incipiente século XXI.
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