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A violência não é um problema de condição econômica



Tem-se acompanhado nos últimos anos, um aumento significativo da violência em todas as regiões brasileiras. Raramente, os meios de comunicação de massa (televisão, rádio, internet, entre outros) por meio dos jornais e telejornais, não ficam sem noticiar um dia sequer algum ato de violência praticado. A grande ênfase que se tem dado a esse tema na mídia, vem provocado um verdadeiro pânico social. Até mesmo em cidades pequenas, onde, supostamente, estariam a tranquilidade, a calmaria e o sossego, tem se observado um crescimento nos índices de violência.


Evidentemente que a violência se constitui como um problema social historicamente determinado, e se caracteriza por ser endêmica. Com isso, defende-se a ideia de que a violência se atomizou, atingindo todos os lugares e regiões. Diferentemente do que supõe alguns e de modo equivocado, a violência não é um problema social tão somente existente em países subdesenvolvidos. Países economicamente desenvolvidos também perpassam por este percalço e, em alguns casos, revelam números bem superiores do que em comparação com outros mais pobres.


O que se pode assumir diante de uma análise aprofundada, é que há níveis de violência diferentes quando se estabelece uma comparação de realidades socioeconômicas e culturais de distintos países. Como afirmamos no parágrafo anterior, essa proposição não é uma regra, estando em constante variação. Mas podemos dizer que países que investem pesadamente em educação, esporte e cultura, como Suécia, Dinamarca e Islândia, possuem taxas de violência se baixíssimas. Por outro lado, países que não priorizam a educação, a cultura e o esporte, não conseguem diminuir as estatísticas de homicídios, roubos, furtos, sequestros, assaltos e etc.


Diante do exposto, o texto tem por objetivo discutir resumidamente o tema da violência como problema social que não deve ser negligenciado e muito menos deixado à margem do debate que envolva outras questões, tais como, saúde, educação, cultura, esporte, lazer, entre outros. Destaca-se ainda, que entendemos a violência não como um problema de momento e nem mesmo fruto do acaso, e sim, como um processo de questões mais profundas e complexas. Nesse sentido, afirmamos que a violência está muito mais associada a uma opção política, ideológica, de segregação sociocultural e econômica, do que de qualquer outro motivo.


Entrementes, a violência real, física e concreta, torna-se um problema social vislumbrado por alguns como resultado da elevação da pobreza e miséria socioeconômica. Significa que quanto maior a desigualdade social, maior é o índice de violência. Esse argumento, ao meu ver, é pobre de sentido e raso de justificação. Evidentemente que devemos enfrentar a pobreza como um problema estrutural gravíssimo e, que, em certas circunstâncias, aliada com outros fatores, possa influir nos atos de violência real exercidos. Todavia, devemos observar que as condições estruturais e conjunturais da maioria da população são resultado de um processo histórico e político de segregação e exploração social. Em um país rico como o nosso, é totalmente contraditório ver tantas pessoas morando nas ruas e passando fome, sem condições mínimas de saúde, educação, emprego, lazer e etc. Volto a afirmar que o discurso de que a pobreza é um fator elementar para o aumento da violência, simplesmente por entender que todo ladrão é pobre e negro (que é outra construção social advinda da continuidade da escravidão no nosso país, que se opera de outras formas), não possui sentido algum, sendo, portanto, uma construção ideológica e política oriunda das elites e oligarquias desse país.


Neste contexto, o fato de haver uma espetacularização com teor demagógico da violência, em especial, por parte da mídia, contribui para o pânico e histeria social. Não se trata aqui, em qualquer circunstância, de negligenciar o fato real e evidente da falta de segurança pública (outra reflexão possível), mas sim, de se propor um debate e uma reflexão sobre o papel exercido da mídia na divulgação de notícias referentes a atos de violência. Tenho comigo a leve impressão que a maioria dos telejornais e meios de comunicação praticam o sensacionalismo e usam da mencionada espetacularização da violência, como método de angariar audiência, afinal de contas, esse tipo de noticia vende muito bem (basta analisarmos programas como Brasil Urgente, do Datena, entre outros).


No nosso cotidiano, o efeito desse processo de espetacularização se reflete no nosso comportamento, até mesmo em nossos lares. Andamos nas ruas com medo e receio de sermos alvo de alguma violência. Olhamos para as pessoas como se elas fossem suspeitas. É muito comum associarmos a “bandidagem” a quem não se veste adequadamente, a quem reside nas ruas, aos negros e etc. E novamente reproduzimos o discurso de que a condição socioeconômica e a cor da pele condicionam o sujeito ao estado de “meliante” e “vagabundo”. Outro fator, é a própria condição de nossas residências. Nossas casas, hoje, são verdadeiros presídios. Com “medo”, erguemos muros altos, com cercas elétricas, alarmes, câmeras e, ainda por cima, contratamos os serviços de um vigia particular. Isto tudo para termos a falsa impressão de segurança.


Esse medo e essa falsa sensação de segurança são, no meu entendimento, criados, fabricados. São criados e fabricados para manter o povo sob controle social, sob rédeas. Esse discurso ganha, a cada dia maior intensidade. Um dos expoentes do discurso de que a violência deve ser combatida pelas vias da repressão e opressão, com uso da força, é o de Jair Bolsonaro. Além de apresentar em suas falas um ódio às mulheres, negros, comunidade LGBT, entre outros, defende a ideia de que todo “cidadão de bem” deve ser armado. Evidentemente que a possível solução, para muitos, soa apetitosa. O problema da violência seria, desde então, resolvido com o simples armamento da população de “bem”. Ora, nada mais pobre de sentido e de sensatez. Não se resolve o problema da violência com armas e ódio. Vejamos um exemplo: suponhamos que duas pessoas estejam em um engarrafamento de uma grande metrópole. Os ânimos à flor da pele. Uma dessas pessoas resolve sair do veículo e tirar satisfações e, de repente, saca uma arma. Já podemos supor o resultado.


Violência não se resolve com mais violência.


Lembro-me de Darcy Ribeiro, quando diz que a falta de investimento e prioridade nas áreas da educação, saúde, cultura e lazer, reflete uma intencionalidade, uma opção política, uma decisão ideológica. Minha visão sobre o tema da violência é de que se faz necessário maior enfrentamento desse problema social não como algo fruto da condição econômica de alguém, mas, sim, de um percalço que só se pode combater com educação, saúde, emprego, cultura, lazer e etc. Enquanto não houver vontade política e senso de prioridades direcionados a esses quesitos, não iremos conseguir saltar para uma nova sociedade, mais justa, igualitária e tranquila.


Enfim, nosso conceito de violência precisar ser repensado.


Boa semana para todos vocês!

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