Na ultima sexta-feira, dia 25, eu estava em casa e havia terminado meu almoço. A TV estava ligada no noticiário. Em instantes, percebi que uma notícia urgente estava pronta para ser divulgada, chamando minha atenção para a frente da TV. Rompia-se mais uma barragem de rejeitos de minério de ferro em Minas Gerais, dessa vez no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. Em 2015, uma barragem também se rompeu no município de Mariana, Estado de Minas Gerais. De um município para o outro, a distância não chega a 130 Km.
Minha reação, assim como acredito que tenha sido a de milhares que acompanhavam o noticiário naquele instante, foi de espanto e inconformidade. Espanto porque não se negligencia o sentimento de surpresa e impacto que tal evento provoca. Inconformidade pois não podia crer que mais uma vez um acontecimento tão lamentável estava em curso, em um mesmo ambiente (uma barragem de rejeitos de minério de ferro), em uma mesma circunstância, ou seja, um crime. Era de se inconformar. Perguntava-me no consciente: será que não apreendemos a lição. Muitos, creio, também se indagaram dessa forma.
Mas, reflitamos. Trata-se de um acontecimento que envolve, mais uma vez, uma empresa do ramo de extração, beneficiamento e comercialização de minério de ferro, a VALE. Ah! Não esqueçamos que a VALE é uma das principais acionistas de uma outra empresa, a SAMARCO, aquela mesma da barragem de Mariana, em 2015. Conclusão: Dois crimes praticados por uma mesma empresa, pode-se considerar dessa forma. Aqui, não analiso o acontecimento em Brumadinho/MG como tragédia ou tragédia anunciada. Trata-se, ao meu ver, de um crime, majoritariamente praticado por megaempresas de capitais estratosféricos contra seres humanos e meio ambiente. É um crime, um atentado!
Essas empresas multibilionárias não estão nem aí para as pessoas e o meio ambiente. Querem explorar, lucrar. A inadimplência é um instrumento para lucrar, burlar as leis, as regras e a burocracia, afinal, isso custa dinheiro e tempo. O Estado também é conivente, na fiscalização, nas leis, nas regras. Para essas empresas, o Estado concede milhões em incentivos fiscais, sem ao menos dimensionar os potenciais riscos. O crime será irreparável, como o foi em Mariana, tanto do ponto de vista humano, social e ambiental. Dinheiro nenhum (dos bilhões e bilhões bloqueados da VALE pela justiça) será mensurável para sequer relativizar os danos e os efeitos causados.
Pessoas morreram. Seres humanos esquecidos, mas que agora, por um instante estão sendo noticiados. Esquecidos pelo Estado e pelas elites, explorados, humilhados, sem casa, mortos, debaixo daquela lama fétida. O crime, o atentado é brutal. O capitalismo é assim: avassalador, destrutível, irreparável em suas investidas. Medidas cautelares, investigações internas e auditorias serão uma constante na mídia, uma tentativa de mostrar que após o crime ações efetivas estão sendo tomadas. O valor das multas nem sequer atinge em médio grau a estrutura da VALE. Mas é importante demonstrar certo “arrependimento” por meio de ações preventivas, agora.
O crime e o atentado não começam quando a barragem se rompe, ou quando o viaduto cai. Mas se iniciam quando agentes de governos e de grandes empresas usam da corrupção, quando elaboram leis para flexibilizar, a exemplo, leis ambientais e de demarcação de terras indígenas. Isso sim é o prenuncio do crime que se atenta. Não se trata aqui dos efeitos, pois os efeitos são uma consequência. Trata-se das ações tomadas, sejam elas no âmbito governamental ou privado, ou, como é mais comum, no misto dos dois.
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