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Foto do escritorAlexandre B. Marques

Como Goiás estaria sem o isolamento social?


Todos os dias chegam ao meu WhatsApp notícias criticando o isolamento social e defendendo a reabertura total das atividades produtivas. No geral, alega-se que as medidas restritivas são cerceadoras das liberdades, que a roda da economia não pode parar, que se trata de uma conspiração etc.


Pois bem, diante disso, tentei buscar um parâmetro com a intenção de “visualizar” como estaria o estado de Goiás se não tivéssemos adotado nenhuma medida de isolamento.


Nesse intuito, após alguma pesquisa, identifiquei um país democrático que não optou por confinamento algum, baseando sua estratégia em estímulo aos cuidados com a higiene por parte da população. Refiro-me à Suécia. Existem outros exemplos de política análoga como a Bielorrússia e – se não me engano – o Tadjiquistão, todavia, nenhum desses dois são razoavelmente democráticos, portanto, não dá para confiar nas informações que divulgam. Desta forma, resolvi usar como referência, o importante país escandinavo.


Pois bem, vamos aos números!


A Suécia é um país com 10.230.000 habitantes, onde o primeiro caso de COVID-19 aconteceu em 27 de fevereiro e hoje, (27/05/20), registra 35.088 casos da doença e 4.220 mortes.


Goiás, por sua vez, tem 7.018.000 habitantes, registrou o primeiro caso de COVID-19 – salvo engano – em 12 de março e totaliza atualmente 2.717 casos com 108 mortes.


Como a pandemia chegou à Suécia duas semanas antes do seu início em Goiás, procurei “viajar no tempo” e buscar os números de casos positivos para COVID-19 na Suécia em 13 de maio do corrente ano. O resultado, depois de algum esforço de pesquisa, informou que na data pesquisada os suecos contabilizavam 28.420 casos.


Usando o singelo recurso da regra de três simples, obedecendo a proporção do número de habitantes, foi possível estimar que, se Goiás adotasse a mesma lógica contrária ao isolamento, assim como o fez a Suécia, teríamos hoje 19.497 casos e, mantendo a letalidade que temos atualmente (4%), contabilizaríamos 775 mortes.


Percebe o tamanho do estrago? Teríamos uma quantidade de casos superior a 7 vezes o número que temos hoje!


Diante desses números, procurei estimar qual seria a demanda por leitos em um contexto como o descrito com quase 19.500 casos em nosso estado.


Hoje, os números oficiais indicam que temos em Goiás 291 leitos comuns destinados para pacientes com COVID dos quais 137 estão ocupados e 96 leitos de UTI para este fim dos quais 67 estão ocupados.


Não encontrei números oficiais para o quantitativo de pessoas curadas da doença em Goiás, então me baseei em números nacionais que indicam que algo como 40% das pessoas infectadas já estão livres da enfermidade. Se estes números forem válidos para Goiás, podemos dizer que dos 2.717 casos oficias, devemos ter 1.618 pessoas ainda adoentadas. Desse total, 8,5% das pessoas infectadas precisam ser internadas e, aproximadamente uma em cada três pessoas que são internadas precisam de um leito de UTI.


Se convertemos esses números para o cenário projetado de 19.497 casos, ou seja, um cenário no qual não tivéssemos adotado isolamento algum até o momento, teríamos 11.607 pessoas doentes nesse exato momento, das quais 983 estariam precisando de internação e 481 teriam que estar ocupando um leito de UTI.


De posse desses dados, verifiquei que Goiás tem 2.308 leitos comuns e 301 leitos de UTI. Desses, atualmente, 1.560 leitos comuns estão ocupados e 243 leitos de UTI estão sendo usados.


No contexto (hipotético) em que nosso Estado não adotasse qualquer medida de isolamento e, em decorrência disso, ocorresse conosco o que está acontecendo com a Suécia, a quantidade de gente precisando de ocupar um leito comum subiria de 1.560 para 2.406, ou seja, 98 pessoas não poderiam ser atendidas. Da mesma forma, a demanda por leitos de UTI seria de 657 unidades, indicando que 356 pessoas estariam precisando de cuidados especiais e não poderiam ser atendidas. Resumindo, nosso sistema de saúde já estaria colapsado.


Com uma demanda por leitos de UTI duas vezes maior do que a nossa capacidade de atendimento e com parte da população mais seriamente acometida pela doença sem condições de ser internada, seria muito provável que a letalidade da COVID-19 em nosso Estado subisse para além dos 4% que registramos atualmente. Deve ser por isso que a letalidade na Suécia, hoje, é de 12%. Se isso se repetisse em nosso Estado, o número de mortos já seria de 2.345 pessoas, fora as mortes indiretas (gente que não está doente com a COVID, mas que precisaria de atendimento e não conseguiria ser atendida por conta do excesso de demanda).


Em suma, se não tivéssemos fechado as portas da empresas, do comércio e das escolas tal qual nos foi orientado pelas autoridades locais e mantivéssemos a rotina normal, estaríamos presenciando uma catástrofe humanitária.


Hoje, a UFG divulgou um estudo, que aponta que nosso estado é o que mais desrespeita o isolamento social; dois em cada três goianos estão circulando normalmente quando o quantitativo mínimo aceitável seria de 50% de isolamento. Nesse contexto, segundo a pesquisa, se nada for feito, até o final de julho podemos amargar 5.938 mortes diretamente causadas pela pandemia.


O impacto econômico de uma situação como esta causaria uma hecatombe ainda maior do que a que estamos vendo e, diante disso tudo, é muito provável que o governo seja obrigado a intensificar o isolamento o quanto antes. Ou seja, o afrouxamento precoce do isolamento, provocará a intensificação do nosso problema tanto da perspectiva sanitária quanto da perspectiva econômica e, sobretudo da perspectiva social.


Quanto mais tempo a pandemia durar, mais difícil será a recuperação da economia e, diante da falta de alternativas viáveis, o isolamento é a única vacina (improvisada) de que dispomos. Desta forma, atribuir nossos problemas econômicos ao isolamento é o mesmo que culpar o remédio pela dor que estamos sentido, sendo que na realidade, o que está causando a dor não é o remédio e sim a doença!


A luta não é contra o isolamento, é contra a pandemia!

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