Desde os primeiros meses de 2016, uma questão essencial tem pairado no imaginário do campo progressista, a saber, a ideia se haverá eleição presidencial em 2018. O final do ano se aproxima, e pelo transcorrer do processo é provável que a eleição aconteça. Embora, nomes, como o filósofo Vladimir Safatle, têm suscitado os caminhos que o espectro conservador poderá argumentar para que o pleito eleitoral não ocorra, como a ideia da instabilidade institucional, sendo uma carta na manga, possível de ser utilizada desde que o(s) candidato do projeto político que governa o país não reúna condições para ser eleito.
Hoje quem representa a situação governamental é o presidenciável Geraldo Alckmin, que segundo dados da última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 10 de junho, se encontra com 6% das intenções de voto. A projeção não é animadora, sendo possível que depois de muitos pleitos eleitorais o PSDB não consiga levar o seu candidato para o segundo turno. Diante do provável cenário, seria audácia afirmar a possibilidade de não haver eleições? Hipóteses na frágil democracia brasileira nunca podem ser descartadas, porém, sem apoio popular, será muito difícil construir uma narrativa para impedir a realização das eleições.
Por outro lado, as esperanças do campo progressista estão centradas no peleito eleitoral, isso porque as principais narrativas de resistência têm se demonstrando inócuas ao longo dos últimos anos, como destaca o historiador e colunista da Revista Forum Rodrigo Perez Oliveira. Por exemplo, a bandeira encampada pelo não vai ter golpe, mas vai ter luta, não foi suficiente para impedir a consolidação do golpe parlamentar, assim como Lula Livre não foi capaz de criar condições que inviabilizasse a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.
As ideias e as mobilizações foram e continuam sendo válidas, porém fracassaram diante do propósito central, e o fracasso está relacionado na e com a dificuldade do campo progressista de dialogar com outros espaços, além de seus nichos. Se eventualmente o diálogo tivesse acontecido, haveria grande mobilização popular, pelo fato de as raízes terem sido construídas historicamente, algo que o espaço progressista deixou esmorecer ao longo da última década, por uma série de fatores, o principal talvez seja explicado pela utopia da “esquerda” no poder.
Mas, voltando para a esperança eleitoral, tendo em mente a possibilidade de acontecer, e acontecendo, está longe de representar a pujança democrática. Recentemente, em entrevista ao jornalista Juca Kfouri, o filósofo Renato Janine Ribeiro disse que nos países com democracia consolidada os líderes da corrida presidencial não deixam de disputar a eleição. Infelizmente essa não é a realidade brasileira, em decorrência de motivos distantes de serem constitucionais, Lula, líder das intenções de voto, segundo a última pesquisa Datafolha, com 30% da preferência do eleitorado se encontra trancafiado em Curitiba por um suposto que crime que dizem que cometeu, porém, não conseguem comprovar.
É uma grande utopia imaginar que a candidatura de Lula será aceita pelo TSE, entretanto, a estratégia do Partido dos Trabalhadores de alongar a novela é perfeitamente compreensível. Se a democracia estivesse consolidada no poder judiciário, Lula seria candidato, e a esperança do campo progressista teria maiores e melhores condições de se concretizar. Mas, como “todos” dizem, o golpe parlamentar não foi feito para devolver o poder ao Partido dos Trabalhadores dois anos depois.
Levando em consideração o possível impedimento, é provável que os suspiros do campo progressista se voltem para o candidato com maior representatividade na corrida presidencial, e esse candidato, segundo o Datafolha, é Ciro Gomes, aproximando-se de 10% das intenções de voto. No campo das hipóteses, uma aliança entre o PDT e o PT colocaria, provavelmente, Ciro no segundo turno. No entanto, nesse momento, pensando em seguimentos importantes do Partido dos Trabalhadores, a aliança é uma utopia. A resistência e crítica de setores do PT ao pedetista é algo difícil de compreender, porque parece que Ciro é o principal adversário do partido, no entanto, essa é uma leitura equivocada.
É verdade, Ciro tem tecido críticas aos 13 anos de gestão petista, principalmente as composições e alianças do último ano de governo Dilma, e também se recusou a visitar o ex-presidente Lula em um dos momentos mais difíceis do líder sindical, recordando, pedido de prisão expedido por Sérgio Moro. As duas menções são apenas uma síntese, porque quem acompanha as entrevistas de Ciro sabe que há críticas mais incisivas, como a aliança do PT com o (P)MDB. Porém, fica a pergunta, as análises e críticas do pedetista são todas injustas? Penso que não. O fato de não ter visitado o ex-presidente significa antipetismo e concordância com a condenação? Também não, pelo contrário, a aproximação entre os principais representantes do PT e do PDT é histórica, iniciada desde a década de 1980 e perdurando até os dias atuais.
Nesse sentido, os defensores da ideia de Lula ou nada, não podem se esquecer que o PDT votou praticamente majoritariamente contrário ao golpe parlamentar. Por falar nesse termo, Ciro tem condenado o golpe veementemente, dizendo que irá rever todas as medidas contrárias ao povo pobre, adotadas por Michel Temer. Questões parecidas havia sido anunciadas por Lula antes da arbitrária prisão. Ciro e Lula se parecem, e o ex-presidente entende a semelhança de forma considerável.
Por exemplo, as críticas destrutivas ao pedetista não irá reverter a injusta prisão de Lula, tampouco um apoio ao Ciro significa deixar de lutar pela liberdade do ex-presidente. Ciro e Lula não são incompatíveis, pelo contrário, são os possíveis caminhos para reverter, diante da esperança que ainda resta ao campo progressista, os retrocessos construídos pelo golpe parlamentar.
Nesse sentido, seria muito mais inteligente capitanear forças para construir alianças, do que fazer de tudo para destruí-las. Afinal, quais interesses a ruptura da centro-esquerda atenderá? É provável que não seja o interesse de Ciro, e tampouco o objetivo de Lula. Dentro de um contexto, no qual o campo progressista está na defensiva, é importante olhar, observar e entender além do nicho.
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