Evidentemente que nenhum país, por mais “desenvolvido” que seja, está preparado para uma pandemia como o Coronavírus. Quando chega, a probabilidade de devastação social é enorme. Por exemplo, a intensidade da doença nos locais que o vírus está circulando há algum tempo são assustadores. Na Itália, segundo a Folha de São Paulo, nas últimas 24 horas foram registradas a morte de 475 pessoas. Como a doença está no seu estágio inicial, e os/as cientistas ainda não conseguiram produzir uma vacina eficaz para conter o vírus, é triste, mas não é demasiado afirmar que o número de pessoas infectadas e, consequentemente, mortas deverá aumentar vertiginosamente nos próximos dias e meses.
Aprender quais foram os métodos dos países asiáticos, especialmente China e Coréia do Sul, cada um a sua maneira, utilizaram para lidar com a doença é fundamental. A China, por exemplo, desde quando a pandemia começou a se alastrar conseguiu, pela primeira vez, zerar a transmissão local do Coronavírus entre a sua população. O vírus não faz parte de uma teoria da conspiração como algumas pessoas com pouca capacidade de raciocínio têm assegurado.
O vírus pode ser entendido como um processo natural, resultado da seleção natural do próprio vírus como apontam os pesquisadores e pesquisadoras de universidades dos EUA, Austrália e Reino Unido. O estudo desenvolvido por alguns dos mais renomados cientistas do mundo, tais como André Rambault, da Universidade de Edimburgo, Edward Holmes, da Universidade de Sidney, entre outros, publicados nessa última terça-feira na renomada Revista Nature Medice, identificaram o caráter natural do vírus, sem nenhuma interferência humana na sua criação, quando o vírus desenvolveu a capacidade para se adequar a vários ambientes, não excetuando o corpo humano.
Embora os boatos desonestos estejam diminuindo e as pessoas têm lidado com o vírus com a devida atenção, é importante continuar frisando que estamos diante de uma doença real, as mortes que estão sendo constatadas no Brasil e no mundo são reais. Nesse sentido, é o momento de deixar a irracionalidade de lado e ter uma postura racional, acatando as sugestões dos especialistas e cobrando dos estados que possam investir em ciência e educação para o desenvolvimento, o mais rápido possível, de uma vacina segura para erradicar o coronavírus.
A pandemia chegou no Brasil. Fato. Evidentemente que não existe um contexto favorável para a pandemia chegar. No entanto, dependendo do contexto, o país poderá estar mais bem preparado para enfrentá-la. O Brasil dos tempos atuais, infelizmente, não está preparado para enfrentar o coronavírus. Nos últimos anos o papel do estado foi reduzido drasticamente. Muitas autoridades têm feito de tudo para privatizar o SUS, concursos para a área da saúde tornaram-se utopia, os leitos de hospitais deixaram de ser criados, postos de saúde foram fechados, médicos expulsos, medicamentos deixaram de atender a população mais pobre e a miséria social tem aumentado vertiginosamente. Somente a população de rua, na cidade de São Paulo, como apontam vários estudos, aumentou mais de 40% de 2016 até os dias atuais.
O empobrecimento do país não é uma mera coincidência, faz parte do projeto político e econômico vigente, resultado do modelo neoliberal implementado com todas as forças por Michel Temer, seguindo seu curso de destruição no governo Bolsonaro. É nesse cenário de muita miséria social, com mais de doze milhões de desempregados, quase quarenta milhões de pessoas na informalidade, outros milhões vivendo na rua, resultado do papel do estado cada vez menor, que o Coronovírus começa a fazer as primeiras vítimas no país. Ou seja, o cenário não poderia ser pior.
A pandemia parece ser democrática, mas como demonstraram recentemente, a antropológa Rosana Pinheiro Machado, em excelente artigo publicado no The Intercept Brasil, Coronavírus não é democrático: pobres, precarizados e mulheres vão sofrer mais, e o economista e historiador Mike Davis, na Boitempo, O Coronavírus e a luta de classes: o monstro bate à nossa porta, a pandemia não é nenhum pouco democrática. Não é democrática porque atinge as pessoas mais vulneráveis, serão os mais pobres, aqueles que não podem contar com o estado, aqueles que não podem parar de trabalhar, os ditos empreendedores, como afirma os neoliberais, os moradores das regiões periféricas, os que não possuem rede de esgoto em casa, os moradores de rua, entre tantos outros segmentos que a pobreza atinge que serão os mais afetados. Serão afetados por um simples fato, a saber, são pobres que não contam com a necessária rede de proteção social.
A pandemia é um enorme problema, mas não é exclusivamente responsável pela catástrofe social que nos encontramos. Não foi o Coronavírus que criou a pobreza, quem se beneficia da pobreza é o sistema capitalista. É o modelo neoliberal, ávido por lucro, que coloca as pessoas na rua, desemprega-as para contratá-las novamente sem nenhum direito trabalhista. É o neoliberalismo que impõe o famoso discurso do equilíbrio das contas públicas para justificar o fechamento de hospitais e negar o direito à saúde para as pessoas.
Os efeitos do Coronavírus serão mais amenos em alguns países e muito mais intensos em outros. Nos locais que a devastação será maior, todos aqueles que impuseram a diminuição do estado para beneficiar o mercado financeiro e para privilegiar o modelo destrutivista do agronegócio devem ser considerados os grandes responsáveis pelas consequências da pandemia.
Todos os esforços devem estar concentrados para erradicar o coronavírus, ponto. No entanto, além disso, é necessário começarmos a pensar na derrota do modelo político e econômico que maximiza os efeitos do Covid-19. Outra sociedade é possível, verdadeiramente democrática, igualitária, fraterna, com condições de oferecer vida digna para todos e todas. Esse modelo de sociedade está ancorado nas bases do socialismo. Não podemos ter mais medo de defender as nossas teses, o contexto requer que sejamos corajosos para lutar por aquilo que acreditamos.
O coronavírus demonstrou, para todos que querem enxergar, embora muitos não queiram, que o capitalismo neoliberal não tem a mínima condição de oferecer dignidade para as pessoas. Demonstrar essa evidência para a sociedade tornou-se uma questão elementar. Mas, não será suficiente somente criticar o sistema capitalista, é necessário apresentar alternativas de superação ao capital, e essa superação começa por apresentarmos e defendermos as teses do Socialismo.
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