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Foto do escritorAlexandre B. Marques

DANÇANDO À BEIRA DE UM ABISMO



O fenômeno das redes sociais, assim como tudo o que derivou da revolução tecnológica que vivenciamos, traz em seu bojo uma série de desafios em todas as áreas de conhecimento, particularmente no campo das humanidades.


A mudança de contexto, comparando o aqui e o agora com o que se verificava há algumas décadas, é muito grande, o que torna inócuo boa parte do arcabouço teórico desenvolvido nos campos da economia, da política, da administração, da psicologia social etc.


Assim como a mudança de compreensão do que somos, percebida ao longo do Renascimento no final da Idade Média, provocou o surgimento de novas formas de entender a sociedade para além do convencional, o mesmo ocorrendo, por exemplo, logo depois de Revolução Industrial no século XVIII, diante das consequências perturbadoras da mesma com o surgimento de grandes centros urbanos e agravamento das desigualdades sociais, o mundo no qual vivemos apresenta problemas completamente novos que irão demandar soluções igualmente criativas, sob pena de cairmos em armadilhas das quais não seremos capazes de escapar.


A maneira como resolvemos nossos problemas em sociedade pode exemplificar o que estou dizendo. Senão, vejamos:


Nasci no final da década de 1970, minha formação política durante a adolescência se desenvolveu de forma presencial e participativa, isto é, elegíamos o representante da turma que falava por nós nos Conselhos de Classe, tínhamos um Grêmio Estudantil, éramos estimulados a interagir. Por meio desse exercício aprendíamos a conviver com o diferente, dava para notar na prática que a divergência era a regra e que conversando é que a gente se entende. Havia, portanto, uma abertura para o diálogo, o que me faz lembrar as aulas que tive sobre Platão.


A formação política atual se dá diante da tela de um aparelho de celular ou do monitor de um computador. Trata-se de uma formação individualista e narcisista. Explico: Ela é individual porque dispensa o debate. Quando você está usando o seu celular e acessa um vídeo; se você gosta do que está vendo acompanha o vídeo até o final e da like, se não gosta, você simplesmente sai do vídeo e até cancela o autor, simples assim! Não somos mais obrigados a ouvir o outro, a divergência não é mais tolerada, apenas o indivíduo importa. Ao mesmo tempo, essa formação é narcisista, uma vez que os algoritmos se encarregam de apresentar para você somente aquilo de que você gosta, resultando na falsa impressão de que o mundo inteiro converge para concordar com a sua opinião “iluminada”.


Esse tipo de “desconstrução” política, individual e narcisista que predomina em um mundo digital cada vez mais onipresente é o sonho de consumo para os discursos extremistas, para os totalitarismos políticos e para o esvaziamento dos debates, limitando enormemente a capacidade criativa do homem.


Presos nesta armadilha, corremos o risco de limitarmos nossa visão de mundo e condicionarmos a solução de problemas a respostas simplistas e rasas, ou seja, flertamos com a possibilidade de pensar apenas dentro da caixinha, rejeitando tudo e todos que possam apresentar qualquer ideia que destoe daquilo que temos como nossas verdades. Neste caso, em última instância, corremos o risco de regredir ao nível de completos idiotas.

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