O grande dilema das camadas progressistas no Brasil atual, é tentar se reencontrar. No entanto, é necessário que o reencontro se dê em todas as instâncias, primeiro consigo, passando pelas bases, até desembocar no alto calão da política representativa, fazendo desse último espaço o local da participação coletiva.
É evidente que os desafios são imensos, principalmente pelo contexto em questão, quando forças conservadoras pululam de todos os lados, e o que é pior, o campo progressista se encontra atônito, com dificuldades para entender e estabelecer estratégias de resistência e de atuação efetiva.
Diante da conjuntura desfavorável, existem alguns indícios, tímidos, sinalizando para uma possível união da esquerda junto ao pleito presidencial. Porém, analistas como o filósofo Vladimir Safatle, tem levado, já há algum tempo, questões interessantes, uma delas está relacionada com a falta de projetos do campo progressista. Ou seja, o que a esquerda, representação, tem para oferecer? A pergunta tem sido negligenciada pelos interlocutores. Talvez o silêncio seja pelo fato de a esquerda, nesse momento, ter pouco para dizer, a não ser denunciar as atrocidades e a desconstrução do bem estar social no país.
A união, por exemplo, de uma candidatura única do campo progressista tem que reunir condições para fazer com que o sujeito, que esteja sofrendo diretamente com as intervenções destrutivas do neoliberalismo, volte a sonhar. O sonho, a utopia, o desejo de uma vida digna deve ser real. Sem ser contraditório, a utopia não pode ficar somente nos devaneios, é necessário que o diálogo impacte diretamente no cotidiano social.
Se não houver capacidade de penetração, é possível que à ultradireita, depois de mais de 30 anos, volte, infelizmente ao poder, porém por meio das vias democráticas. Além do ato de fazer sonhar, é importante que os setores progressistas tenham consciência que é necessário uma junção de forças. Entretanto, o ato de unir, impreterivelmente, não pode representar unanimidade, tanto das ideias, quanto dos projetos, pelo contrário, a união por meio de divergências pode possibilitar a construção de projetos que reconheçam, justamente, as especificidades e desigualdades sociais que moldam, historicamente, o país.
Porém, se a ideia for unir para unir, é melhor não unir. A junção somente será bem vinda de acordo com as proposituras que enfrentem o problema nevrálgico do país, a saber, a desigualdade social. Talvez, a ideia de gerir o capital, conciliando-o, não seja suficiente para o necessário enfrentamento, porque é justamente o capital, destrutivo no Brasil, que constrói e promove à desigualdade. Nesse sentido, políticas de intervenção alvissareiras, utópicas, entretanto reais, podem construir um projeto político que reacenda às massas.
Quando o sujeito não tem medo do futuro, “experienciando” no presente a construção do tempo vindouro, a política de destruição social não reina, tampouco a cultura do ódio. O caos encontra espaço quando há a sensação de que hoje é o último dia.
O desafio das camadas progressistas não é somente fazer sonhar, mas construir sonhos e desejos coletivos, demonstrando que, depois de hoje, existe o amanhã, e depois do amanhã, existe outro amanhã, e depois do outro amanhã, há um não mencionado amanhã, e depois do não mencionado amanhã, existe o ainda não pensável amanhã.
É, o caminho de reconstrução do país pode passar por essas diretrizes. Por fim, continuem acreditando nas flores.
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