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Do conceito de Região Cultural à leitura da identidade goiana



Se se pode intentar delimitar conceitualmente região cultural como sendo espaços ou áreas habitadas por povos e comunidades distintas culturalmente e que apresentam traços culturais, materiais e imateriais comuns (Wagner e Mikesell, 200); também se pode afirmar que subsistem formas de identificação específicas em um conjunto de variáveis resultantes da apropriação, vivência e disputa de diferentes culturas e identidades. Certamente que por essas e outras razões se torne complexa a tarefa de definir claramente o que seja uma região cultural na contemporaneidade.


Tal complexidade existe em razão do processo de espacialização da cultura, implicando na atomização das práticas culturais no tempo e no espaço. Nesse sentido, as circunstâncias históricas, sociais, políticas e econômicas, de onde se pode extrair os efeitos e as transformações do homem e da sociedade na dimensão têmporo-espacial, inseriu, no entendimento epistemológico e prático do que se pode pensar a respeito das regiões culturais, uma estirpe política e ideológica. Não sem razão, os efeitos das relações de poder inerentes às formas de tratamento para com as regiões culturais de sujeitos e grupos, consubstanciou as articulações na delimitação de espaços específicos (Toponímia). De tal modo, se tornam cada vez mais fluídos e dinâmicos os processos socioespaciais na contemporaneidade, que não se pode afirmar contundentemente que existem regiões culturais bem definidas e estruturadas. Ao contrário, deve-se considerar a existência de regiões culturais, mas também residuais e emergentes, principalmente no tocante aos elementos definidores das instâncias material e imaterial da cultura.


Diante desta constatação, podemos estabelecer uma ponte entre o debate do complexo entendimento do que se pode denominar de regiões culturais e as leituras da identidade goiana. Inicialmente, se pode afirmar, como faz Chaul, que somos frutos de uma mestiçagem oriunda de traços culturais do nativo, do negro e do branco europeu. Traços estes que compõem nossa diversidade identitária e cultural, e que de formas variadas constituem espaços, lugares e regiões de exercício da cultura. A par dessa observação, a construção dos traços culturais distintos dos diferentes povos e comunidades que circunscrevem a identidade goiana perpassa, sobretudo, pelo crivo do processo histórico-social.


Significa que nossa cultura e identidade, por vezes, fora construída entre estereótipos e preconceitos provenientes do olhar do outro (europeu), delimitando contornos de “goianice” e “goianidade”. Evidentemente que pesa sobre o ângulo de observação e análise da identidade goiana – se é que se pode falar de uma – o fato da dimensão política e econômica possuírem variáveis determinantes nessa construção cultural e identitária. Talvez a principal relação que se possa estabelecer esteja voltada para o campo das diferenças e da diversidade, que em sentido amplo, configuram nuances distintas e especificas, mas que podem nos servir de aproximação numa possível caracterização de traços culturais específicos.


Por mais que a discussão aqui esteja voltada para o campo acadêmico e conceitual, estabelecer uma relação entre uma região cultural ou regiões culturais e a identidade como ponto de convergência na construção do “ser” e “estar” goiano não retira a validade da reflexão. Reitera-se que não se pode delimitar nem geográfica e nem etnologicamente região(ões) cultural(ais), pois se trata de um campo ilimitado de possibilidades de apropriação e reinvenção de valores, tradições, costumes e símbolos. Nesse ínterim, o mais correto seríamos propor que a cultura de diferentes povos, experiencias e modos de vida convergiram para a construção identitária do povo goiano. Desse modo, uma dada região(ões) cultural(ais) aglutina traços de cultura diversos e específicos, mas que determina e caracteriza aquela porção do espaço em que se situa.


Quando se pensa na tradição e na cultura goiana, logo imaginamos as festas religiosas, de santos, folia de reis, cavalhadas e etc., bem como eventos de celebração associados ao mundo rural, como festa da colheita, festa do doce e tantos mais. Isso sem mencionar os traços culinários que representam essa miríade de experiências e culturas que constituem nosso povo. Diante disso, tomarei a liberdade de dizer que o povo goiano e sua cultura pode ser entendida como sendo fruto de um “caldo cultural”, termo cunhado por um amigo que também escreve para o Além dos Muros. O termo cai bem, não só para o caso goiano, mas também a toda sociedade brasileira, em todos os sentidos.


*O presente texto é resultado de reflexões tecidas no âmbito da disciplina Categorias de Análise da Geografia, do curso de pós-graduação em Identidade, Cultura e Região (UEG/ITAPURANGA). O texto base que motivou a discussão é de autoria de Roberto Lobato Corrêa, intitulado Região Cultural – um tema fundamental.


Boa Semana a todos(as)!

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