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Do País do Futebol a uma incógnita: o conservadorismo tático do futebol brasileiro



O que esperar da Seleção Brasileira nesta Copa América? Como muitos dizem: é uma “caixinha de surpresa”. O Brasil enquanto seleção de futebol na virada dos anos 2000 vem sofrendo uma perda de status dentro do mundo futebolístico. Com isso, é preciso pensar: o Brasil regrediu? ou seus adversários evoluíram? A resposta mais consistente é dizer, os dois.


O Brasil geralmente tem sido uma seleção que sobrevive de talentos individuais. A copa de 2002 tinha jogadores que desequilibravam como Rivaldo e Ronaldo. No tocante as outras seleções nota-se que há uma evolução gradual no sentido tático e de um trabalho de base muito bem feito, basta observar o que foi a Alemanha na copa de 2010, então, terceira colocada daquela edição, para posteriormente vir a ganhar a copa do mundo de 2014.


A seleção Alemã foi para a África do Sul com jogadores jovens, tinha perdido seu sustentáculo Michael Ballack, mas deixou claro que tinha como projeto a Copa de 2014 e, sobretudo, o seguiu bancando o seu técnico Joachim Löw. Não podemos esquecer o Uruguai de Óscar Tabárez, uma seleção envelhecida, mas competitiva por ter um conjunto e uma noção tática daquilo que seu treinador pede para executar em campo.


Voltando a seleção brasileira, deste a conquista de 2002 vem sobrevivendo de talentos individuais que às vezes superam o coletivo e o aspecto tático. Foi assim na copa de 2006 quando chegou com a seleção mais badalada para aquele mundial, tinha Ronaldinho como jogador melhor do mundo, sobrava técnica, porém, faltava organização tática. Na copa de 2010 tínhamos uma seleção campeã da Copa América de 2007 e campeã da Copa das Confederações 2009 com o então comandante Dunga.


Era um futebol pragmático e resultadista, como diz o Mauro Cesar Pereira comentarista da emissora ESPN. Assim, perde para a Holanda em um jogo normal, mas para uma seleção muito bem configurada pelo Louis van Gaal (treinador), já a seleção de Dunga sobrevivia dos gols de Luís Fabiano e dos lampejos de um Kaká que não se encontrava nas suas melhores condições físicas. Mas a prova cabal de um futebol previsível e sem repertório foi no vexame dos 7 x 1 contra a Alemanha.


Provou que o futebol brasileiro foi superado pelos seus adversários através de muito planejamento e estudo da literatura futebolística (aqui estamos falando de táticas). Mais recente a seleção cai na Copa de 2018 para mais uma seleção europeia, que é algo a se pensar. Diante de uma Bélgica muito bem montada pelo seu treinador Roberto Martínez que deu um nó tático em Tite. Alternando de formação quando o jogo pedia e moldando de acordo com o adversário.


Todo este passeio introdutório para falar de algo que precisa mais de que nunca ser discutido, não só por treinadores e jornalistas esportivos, mas pelos amantes do “bom futebol”. O futebol evoluiu e o Brasil parece que “estacionou no tempo”, quando comparado ao ritmo de outros países. O futebol não é só fabricar jogadores, há uma necessidade gigantesca de começarmos a produzir treinadores alinhados ao “futebol moderno” que tem outra engrenagem. Um modelo mais dinâmico, veloz e tático que sufoca o adversário.


O Brasil diferente da Argentina não consegue exportar técnicos. Há no tempo presente argentinos fazendo sucesso em ligas europeias badaladas Mauricio Pochettino na Premier League, Diego Simeone na La liga e entre outros. O sucesso nas categorias de base do Uruguai que tem 176.215 km², um número populacional menor que o Estado de São Paulo, não é fruto de talentos individuais mais de um trabalho muito bem elaborado, alinhando tático de todas as categorias até a seleção principal com o mesmo propósito de jogo.


O futebol brasileiro ainda nos dá algum sinal com o aparecimento de jovens treinadores como Fernando Diniz, Roger Machado, Rogério Ceni e, sobretudo a chegada de Jorge Sampaoli ao Santos. Tomara que não ocorra com ele o que aconteceu com o colombino Juan Carlos Osorio no São Paulo, que ficou conhecido aqui no Brasil, no sentido pejorativo do termo como o “homem das canetas coloridas” ao estudar e pensar o futebol de forma diferente. Há indícios de uma tentativa de renovação das táticas e ideias de jogo no Brasil, algo que ainda carece de uma nova proposta que saia do pragmatismo e conservadorismo tático que está intrínseco a literatura futebolística brasileira.

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