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Haters



A internet tem se transformado em um interessante objeto para análise das transformações de nossa sociedade contemporânea, suas expressões de pensamento e comportamento são evidenciadas e amplificadas através da personificação virtual de seus usuários. A internet deu voz e visibilidade a qualquer um que tenha acesso a ela, e assim sendo, nos oferece a possibilidade de observar as formas como nos portamos enquanto grupo. E diante de tantos grupos que se manifestam nesta grande rede mundial, um chama a atenção por sua absurda manifestação de ódio gratuito a qualquer coisa que se mova, assim são os Haters.


Haters é uma expressão inglesa, mais precisamente um adjetivo que significa: “odiadores” ou também pode ser entendida como “os que odeiam”. O termo se popularizou na internet para identificar perfis que disseminam ódio e agressões verbais a coisas ou pessoas na internet.


O ódio está longe de ser uma novidade em nossa sociedade, a história nos mostra que diferentes gerações manifestaram o ódio de diferentes formas, grupos fascistas e neonazistas já praticavam suas atrocidades muito antes da internet surgir, então o que há de diferente nesta nova geração? As manifestações de ódio assim como os preconceitos estão diretamente ligadas a dificuldade de aceitação do outro, ou mais especificamente do diferente. A atual geração limitada da capacidade de empatia agora se depara com uma manifestação cada vez mais ampla da diversidade social nas ruas e também nos ambientes virtuais, o choque entre as diferenças e a incapacidade de uns para aceitá-las produz a amplificação da manifestação desse ódio que agora atinge a qualquer um, seja por qualquer coisa que diga, que pense ou até mesmo simplesmente por existir.


Para os Haters a manifestação de ofensas, preconceitos, ódio e até mesmo ameaças de agressões e ameaças de morte são um divertimento, praticam o ódio por esporte. Para observar a atuação desse grupo basta abrir as caixas de comentários de qualquer noticiário, ou qualquer vídeo do Youtube, perfis de artistas e celebridades nas redes sociais ou mesmo qualquer coisa que tenha uma caixa de comentário, certamente encontrará ofensas das mais diversas formas nestes espaços, normalmente voltadas para a depreciação e destruição da pessoa ou das ideias professadas por ela.


Apesar da onda de ódio espalhada pelos Haters alcançar todas as pessoas seja de qual grupo for, é mais uma vez nas minorias onde se concentra o maior número de ataques. Perfis em redes sociais de mulheres feministas, políticos ou artistas homossexuais e transexuais, ou até mesmo de artistas que adotam crianças negras, são bombardeados com mensagens machistas, homofóbicas ou racistas sem o menor pudor, é um verdadeiro show de horrores de ofensas e ameaças.


Nos últimos anos as lutas das minorias contra diversos tipos de violências como racismo, machismo e homofobia provocaram uma mudança social, revelando as faces do preconceito em nosso país, provocando um retraimento das manifestações preconceituosas nos ambientes públicos. Porém, o preconceito brasileiro continua ali guardado, escondido no receio, em frases como “Não vou dizer isso porque hoje tudo é preconceito” ou “Não sou preconceituoso, mas...” (normalmente a continuação após a palavra “mas” é carregada de preconceitos) o que se observa é que há uma vergonha em professar preconceitos em público, mas há uma persistência em mantê-los bem lá no fundo, porém, hora ou outra estes preconceitos são expressados, e se não encontram lugar para expressa-los em público, encontram na Internet o espaço perfeito livre de recriminações diretas.


O anonimato dos perfis falsos (Fakes) e a pouca legislação sobre crimes virtuais favorecem a impunidade e prejudicam muito a solução destas questões. Tal facilidade para cometer uma violência virtual, da coragem a pessoas que em situações normais do cotidiano não teriam coragem de proferir as mesmas palavras pessoalmente e acabam recorrendo aos ambientes virtuais das redes sociais como uma válvula de escape para suas frustrações, destilando ódio gratuitamente a qualquer pessoa.


A internet em teoria um instrumento que de alguma forma deveria conectar e aproximar as pessoas tem se revelado uma ferramenta de violência anônima. Porém culpar apenas a internet por essa nova onda de ódio é um grande erro, precismos reconhecer que o problema dos Haters é social e cultural e reflexo de uma sociedade está longe de resolver seus problemas com o ódio e a intolerância, em razão de nossa dificuldade de superar pensamentos e práticas retrogradas e violentas de relações pessoais, e a retomada do pensamento conservador por nossa sociedade é um claro exemplo disso. A internet não nos trouxe uma novidade com os Haters, pelo contrário ela apenas evidenciou algo que estava escondido, sendo uma ferramenta que deu voz e visibilidade ao que há de mais retrogrado, atrasado e enraizado em nossa sociedade: o ódio.


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