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Foto do escritorJean Carlos

Implicações do Capitalismo na determinação conceitual de cultura, identidade e região



O texto pretende versar a respeito do conceito de Cultura tão somente a par de sua dimensão conceitual, considerando, para tanto, outras categorias pertinentes, tais como Identidade e Região. De modo singular, a produção textual não abrange a amplitude genuinamente existente acerca da concepção de Cultura, que se apresenta diversa e múltipla. Menos ainda comporta todo sinóptico quadro teórico-metodológico, bem como não abrange a literatura especializada sobre o tema. Procura-se sublinhar a concepção de cultura no decurso do processo histórico de desenvolvimento do modo de produção capitalista, implicando, assim, transformações no modo de compreender e interpretar as práticas culturais desde então. Logo, objetiva-se ressaltar as categorias de identidade e região no contexto do imaginário social e nas dimensões binarias fortemente difundidas na literatura e no senso comum.


As sucintas reflexões são resultado de debates e discussões realizadas no âmbito da disciplina Cultura e Identidade, do curso de pós-graduação em Identidade, Cultura e Região (UEG/Câmpus Itapuranga).


Para iniciar, entende-se que a sociedade global foi alvo de profunda transformação a partir do momento em que o capitalismo se consolida como sistema político e econômico, processo que efetivamente ocorre a partir da acumulação primitiva de capital no seio das Grandes Navegações e no transcurso da chamada Revolução Industrial. De fato, a sociedade ainda sente os efeitos atenuantes da condicionante do capitalismo que se torna cada vez mais hegemônico. Diante dessa constatação óbvia, porém necessária, os elementos que definem a Cultura também se alteraram ao longo do tempo, incorporando valores e conceitos do capital, assim como o inverso, o capital incorporando e se apropriando de preceitos da Cultura.


Diante disso, convém salientar as mudanças na análise das culturas populares a partir do capitalismo e como esse espectro determinou uma nova abordagem dos quadros culturais. Para Canclini (1982), a Cultura nada mais é do que uma constituição de valores materiais e imateriais, determinada por fenômenos invariavelmente produzidos mediante representações simbólicas das estruturas e das instituições. Tal definição serve de base para a compreensão, reprodução e transformação da sociedade, pois toda cultura está relacionada com uma prática e uma elaboração abstrata da realidade. Ademais, o autor entende que a Cultura está indissociada do aspecto econômico uma vez que “não existe produção de sentido que não esteja inserida em estruturas materiais” (p. 29).


Se a Cultura é uma inconstante alternância de significados definidos pela estrutura socioeconômica, como assevera Canclini (1982), não menos importante é a determinação que a dimensão político-ideológica imputa por meio das hierarquias sociais no entendimento das chamadas “culturas populares”. Para esse autor, fica claro que as culturas populares são um resultado rigoroso de apropriações do capital cultural em contraposição a uma conflituosa relação com as esferas hegemônicas. Em última instância, o autor destaca que as visões românticas (derivadas do Romantismo) e positivas (oriundas do positivismo) servem de máscara para o verdadeiro e real sentido da constituição das culturas populares, a saber, a dimensão político-ideológica. Como ponto de apoio, recupera a teoria gramsciana da interação conflituosa entre culturas subalternas e/ou subalternizadas e culturas dominantes e/ou hegemônicas para identificar os quadros formativos dos elementos culturais em suam amplitude.


Na esteira dessa discussão, a Globalização, como processo que alcança todos os lugares e sujeitos e que não se define tão somente por alterações no/do espaço geográfico, atomização de redes técnicas, mundialização e internacionalização de capitais, indústrias e empresas, gera, no conjunto dos quadros culturais, importante influência. Jacques Leenhadrt admite ser a Globalização um processo que se inicia com as primeiras navegações marítimas, especialmente a partir do século XIV em diante, e que se operou também nos moldes de uma genuína “revolução epistemológica”. Esta, gerou a construção de um conhecimento e um saber prático em relação ao “outro” que desponta para a integração completa e absoluta do mundo ocidental, baseada na degradação cultural e identitária dos povos nativos das Américas. Por seu turno, o autor expõe limpidamente uma contradição: a Globalização é um processo e um efeito da difusão de saberes, conhecimento, informações, de técnica, de capital e etc. No entanto, as sociedades e seus estilos culturais são vistos a partir das permanências, das normas e das identidades estáveis. Finaliza observando a necessidade imanente de se renovar os instrumentos cognitivos para aprimorar as bases epistemológicas do sentido de emancipar o homem e a sociedade da interpretação estéril e vazia de significado quando se está discutindo as identidades.


A construção de identidades, como assinala Edgar de Decca, além de ser relacional, ou seja, é determinada pelas relações sociais e muito especialmente na relação com o “outro”, configura-se numa projeção utópica e abstrata. Ao indicar as inferências que modulam as identidades nacionais, o autor chama a atenção para três questões principais: a) as identidades nacionais (considerando aqui os conceitos-chave de Estado e Nação) são produtos do século XIX; b) realçam a diferença pelo exótico (necessidade objeta de falar de si próprio) e c) representação do nacional pelos parâmetros da modernidade europeia. Em último caso, as identidades são formadas por conflitos de identificações com a utopia pretendida e a realidade presente que, por seu turno, contraria e se distancia dessa dimensão utópica.


Por essas e outras razões é que a construção de identidades se opera no aparelho cognitivo antes de atingir a prática. Um clássico exemplo é o da oposição binária Litoral/Sertão (Cerrado). Significa que a identidade ou as identidades construídas do Sertão e do Cerrado foram estabelecidas por meio das utópicas visões sobres esses espaços. Comumente se afirma que o Sertão e o Cerrado foram/são lugares ermos, desconhecidos, inóspitos, bárbaros, de natureza bruta e selvagem. Esses estereótipos são ilações de oposição, representando o Litoral o oposto. Se trata, portanto, de uma tentativa de construção identitária imóvel, estática, totalizante e unidimensional, pois não considera aspectos culturais, simbólicos e subjetivos. A questão que se coloca neste momento é como identificar as alternâncias propiciadas pela Globalização e o Capitalismo no contexto das identidades. Certamente que não se deve ir pelo caminho cômodo das leituras totalizantes e globalmente estáticas.

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