top of page

Medo: O combustível da perversidade



Apesar do medo, escrevo este texto invocando coragem para superá-lo, pois, toda palavra, todo pensamento expelido gera uma mudança, seja uma pequena mudança de pensamento do outro ou uma grande mudança social e coletiva. Mas a mudança afeta também aos que lucram com a estagnação, e a ameaça de perder seus privilégios faz com que estes respondam com força bruta, em todas as formas de violência. Assim o medo é a gênese do silêncio e da inercia de uns, e também é a matéria prima para violência e o lucro de privilegiados de outros.


O medo está enraizado em todas as esferas de nossa vida coletiva, e em todas elas, há alguém tentando levar vantagem. E por falar de aproveitadores, vamos direto aos maiores: Os políticos! A violência urbana sempre foi uma grande plataforma política, quem de nós não se sente vulnerável diante da violência crescente em nossas cidades, o eleitor desesperado e amedrontado é um alvo fácil, e o discurso de melhoria da segurança pública entra na pauta de quase todos os candidatos, mas os que mais agradam aos desesperados são aqueles que carregam a bandeira da violência como solução, da liberação armamentista e da postura repressora, a personificação do “machão” que promete resolver aos gritos. Ignorando que a real raiz do problema da violência urbana está na desigualdade social, e na marginalização de uma parcela da sociedade esquecida pelo estado, e que a solução para a violência urbana passa primeiro por uma redução das desigualdades e das segregações espaciais. Assim, combatendo as consequências e não as causas o problema da violência urbana permanecerá, e se agravará pois, enquanto houver violência, haverá candidatos se aproveitando disso e também haverá muitos votos.


A violência urbana é extremamente lucrativa! Pois além de votos para os políticos ela é capaz de gerar também audiência para as TVs, afinal, há quantos anos o Datena permanece no ar?! Gera também os lucros para os fabricantes de armas e munições, rende também milionários contratos com administradores de prisões privadas, é o “dinheirinho extra” dos policiais corruptos que fazem vista grossa para o tráfico, e também a complementação de renda para os soldados corruptos do exército que vendem armas para os traficantes. O medo da violência é a propaganda perfeita para se vender segurança. Assim, a população amedrontada paga a cerca elétrica, a câmera de segurança e o pior aceita pagar a extorsão das milícias armadas. Com tanta gente poderosa e influente lucrando, você acha mesmo que alguém vai ter algum interesse em solucionar de vez a violência urbana?


Continuando com os políticos, afinal eles se aproveitam do medo de muitas formas, aproveitam de sua influência e poder para impor o medo da contestação, constroem uma verdadeira blindagem ao seu redor, protegendo-os para que possam praticar seus atos ilícitos livremente sem consequências. Desde pequenos somos ensinados que: “não se deve mexer com fulano por que ele é peixe grande”. Os chamados poderosos de colarinho branco possuem o poder quase divino para destruir a vida daqueles que ousam denunciar a corrupção. São capazes de destruir carreiras profissionais, ridicularizar seus acusadores e em casos extremos, são capazes até mesmo de assassinatos para calar a boca dos que se atrevem a denunciar, alguém aí lembra da fala de um ex-candidato à presidência, que ao escolher atravessadores de um esquema de corrupção disse a seguinte frase: “Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação.”? Os livros de história e as páginas de jornais revelam os incontáveis casos de assassinatos de jornalistas, professores e lideres sociais que denunciaram a corrupção de poderosos políticos. O medo incita o silêncio e a impunidade.


No campo do trabalho o medo é um importante instrumento para a exploração da mão-de-obra. A atual forma de divisão do trabalho do capitalismo moderno e globalizado reduz em todos as áreas o número de postos de trabalho formal, elevando constantemente o número de desempregados, é o que chamamos de desemprego estrutural. A fria e cruel lei do mercado recai então sobre o trabalhador. Em um cenário de pouca oferta de trabalho e muita procura, o empregador encontra uma brecha para pagar o mínimo possível ao seu empregado (a necessidade de uma regulamentação de valor de um SALÁRIO MÍNIMO deixa claro que se empregador pudesse escolher ele pagaria menos que isso). É o medo do desemprego que faz com que o trabalhador aceite condições precárias de trabalho, em muitos casos, condições de trabalho análogas à escravidão. O empregador vê no desemprego a condição perfeita para intensificar sua margem de lucro através da intensificação da exploração da mais-valia de seus funcionários. O próprio termo Mercado de trabalho já sugere uma analogia as mercadorias de uma prateleira onde o empregador escolhe o produto com o menor preço. Se você meu caro leitor já está há algum tempo no mercado de trabalho, provavelmente já ouviu de seu empregador: “Não está satisfeito com o salário? Pede pra sair, tem muita gente querendo estar no seu lugar.”


O Medo da Morte, da doença e da dificuldade também é um terreno fértil para outros exímios exploradores: Os exploradores da fé, aqueles que se aproveitam dos momentos mais frágeis da vida humana para tirarem proveito. Com belas e convincentes retóricas repletas de promessa de curas milagrosas, prosperidade financeira ou uma vida eterna garantida, lucram milhões retirando inescrupulosamente dinheiro de pessoas desesperadas e amedrontadas. Antes que me atirem pedras, não estou generalizado, existem sim os bem-intencionados que fazem boas ações através da fé. Mas como em todas as áreas existem também no campo religioso os que se aproveitam do medo, do desespero e da ingenuidade de um povo que sofre, para construírem seus luxuosos tempos e fortunas.


É assustador pensar a quantidade de situações em nossa sociedade que são movidas por este sentimento tão perturbador que é o medo! Somos um povo a sombra de diversos medos, e a perversidade deste mundo se aproveita de cada um deles. É preciso que tenhamos coragem, para enfrentar e mudar, pois os que lucram contam com seu medo para que tudo permaneça como está. Por fim, que ecoe como um mantra os versos da canção Deserto Freezer de Humberto Gessinger: “Se é o medo que te move, não se mexa fique onde está! se é o ódio que te inspira, não respire o ar viciado deste lugar!”


Boa Semana Meus amigos!

24 visualizações
bottom of page