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Migrações


Na história da humanidade, as migrações sempre tiveram como fator preponderante a manutenção e reprodução social da vida. Em diferentes contextos, fatores e variáveis determinaram as condições para que as migrações de fato ocorressem: clima, condições geográficas, disponibilidade e exploração do solo e de recursos naturais, busca por alimentos (caça e pesca), entre outros. Além destes, enfatiza-se o elemento místico e religioso, que de uma forma ou de outra, estiverem (e ainda estão) envolvidos nos processos de transição migratória. Nessas circunstâncias, pode-se mesmo afirmar que a trajetória da existência e experiência humana na terra é nitidamente marcada pelas migrações historicamente vivenciadas.


Dentre as possíveis definições, o conceito de migração é balizado a partir de uma concepção assente na ideia de transição, mudança, passagem ou deslocamento. Diante dessa compreensão, têm-se a percepção de que os processos inerentes à migração ou migrações se referem tão somente às alternâncias de lugares, regiões, cidades, estados e países. De fato, do ponto de vista categórico e semântico, o termo representa as determinações apresentadas. No entanto, é preciso ir além e refletir sobre os significados e os sentidos diversos que os processos migratórios revelam. Não se trata apenas de um processo material, mas também hermenêutico, ontológico, simbólico e cultural.


Na contemporaneidade, o marco das migrações tem como pano de fundo as condições materiais de existência. Com isso, queremos dizer que o capital implica consideravelmente nas forças que engendram as diretrizes migratórias, e isto não se deve negligenciar. Nessa perspectiva, os sujeitos sociais, homens, mulheres e crianças são tomados como força produtiva e mão-de-obra barata, que ao depender da região, é de fácil apropriação devido às parcas condições de emprego, qualificação profissional e qualidade de vida. Em muitos casos, impulsionados por forte propaganda ideológica, milhares de sujeitos são levados, quase que de modo “forçado”, a migrarem de suas regiões para outras em busca de melhores oportunidades.


Em grande parte, a questão estrutural é muito importante para se compreender as migrações. Não se deve jamais negar as condicionantes dos processos políticos, econômicos e ideológicos para as análises das migrações como um todo, pois são esses processos que, na atual conjuntura, moldam as formas diversas que subsistem na seara dos quadros migratórios. Todavia, outros elementos podem ser acrescentados e levados a termo quando se pretende ir além do espectro materialista. As leituras sobre as migrações devem buscar no sujeito social as formas de representação que este elabora do “antes”, “durante” e do “depois”. Ou seja, significa considerar homens e mulheres como agentes - “migrantes” - que são, portanto, os principais protagonistas deste processo todo. Trata-se de realçar os quadros culturais, simbólicos e tradicionais como sendo moldados e transformados durante o que denominamos por migrações. Isto é, não são apenas fatores econômicos e políticos que inferem nas migrações, mas elementos do próprio Ser (ontológico), dos costumes, hábitos, sentimentos, vivências e experiências dos sujeitos migrantes.


Outra questão a ser enfatizada é que, ao migrar, o sujeito não deixa para trás seus costumes, hábitos e cultura. Ao contrário, estes e outros se reinventam, se reconfiguram, se reinterpretam. A transformação, a mudança, o deslocamento, alternância e a transição aqui não são de todo estéreis do pondo de vista da cultura. Mas férteis no sentido da diversidade, das relações socioespaciais e socioculturais. São formas e maneiras de representação do passado, do presente e do futuro com base na territorialidade, desterritorialidade, multiterritorialidade. A complexidade dos processos migratórios só pode ser realmente compreendida a partir dessas perspectivas.


Desse modo, a apropriação dos sentidos ontológicos, simbólicos e de representações a despeito das migrações só se é possível por meio das narrativas e memórias, que por sua vez, denotam as experiências e vivências dos sujeitos migrantes. Isto porque a memória é viva e traduz os anseios, as esperanças, as trajetórias, as dores, as alegrias, a tradição, a crença, os valores.


Por essas e outras razões, buscamos ressaltar a importância dos sentidos e significados ontológicos das migrações por meio de aspectos simbólicos, culturais, psicológicos, discursivos, e não abordar apenas um modelo específico de migração. No caso das migrações, não são apenas pessoas físicas e bens materiais que transitam de um lugar para o outro. São memórias, costumes, sentimentos, discursos, sonhos, esperanças, vivências e experiências que percorrem diversos espaços, sejam eles materiais e/ou imateriais.


Boa semana para todos vocês!

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