Pensar o passado com os olhos do presente nos fortalece nessa construção do processo democrático. É o que penso para fazer memória, não com saudosismo, mas criticidade quando nos referimos ao dia 31 de março de 1964. Nesse contexto o movimento popular democrático fora silenciado com mais um golpe de estado no país. Nessa ocasião foi patrocinado pelas Forças Armadas e de Segurança dos Estados que atuaram para construir e consolidar o golpe civil e militar de 1964. Some-se a tal contexto vivido a interferência da Central de Inteligência norte-americana (CIA), que patrocinou as teses dos estados autoritários nos países da América Latina, não sendo diferente no Brasil.
O grande mote que justificou toda a extensão golpista era a tese de que estavam defendo o nosso Brasil contra as forças comunistas e socialistas que assolavam os países da América do Sul. Mas, por trás deste contexto de “caça às bruxas”, havia um intenso processo social e político de mobilização popular jamais visto na História do Brasil, cujo objetivo era construir e fazer valer ações democráticas e populares. Porém, a partir do golpe, essas forças democráticas foram todas vilipendiadas, perseguidas, desaparecidas, mortas e torturadas nos porões da Ditadura Militar.
Não podemos voltar ao estado ditatorial. Devemos sim, fazer memória, não fazer festa ou comemoração como deseja o atual mandatário de nossa nação, mas temos que lembrar de todo esse processo vivido para que nunca mais aconteça. Afinal, foram 21 anos de Ditadura Militar marcada pela mais brutal repressão, perseguição e silenciamento das vozes que conclamavam para a manutenção da ordem democrática construída às duras penas pelas forças populares e progressistas.
Em meio ao processo histórico vivenciado cabe a todos não aceitarem, em hipótese alguma, que haja grupos ou pessoas que desejem sair às ruas, ou mesmo ocupar os meios de comunicação para festejar a data do golpe. Muito pelo contrário, o culto ou propaganda pública de reverencia à ditadura militar pode ser enquadrado no art. 22 da Lei de Segurança Nacional, com detenção prevista de 1 a 4 anos. Enfim, cabe a nós, cidadãos e defensores da ordem democrática e popular, denunciarmos tais práticas de entidades e/ou pessoas que possam estar reproduzindo e preconizando a volta ao autoritarismo.
Portanto, precisamos reforçar nosso grito em defesa da democracia participativa e popular, assumindo nosso compromisso com a mudança de um Brasil que seja para os brasileiros. A ditadura não pode ser comemorada em hipótese alguma, não há um revanchismo no ar, ao contrário, reconhecemos o papel institucional das Forças Armadas e Segurança, mas desde que respeitem os princípios legais determinados pela Carta Magna de 1988.
Não podemos deixar de enfatizar; Ditadura nunca mais. Esse é o título da obra que foi coordenada por Dom Evaristo Arns. A luta de Dom Evaristo e a sua obra devem servir de inspiração a todos os brasileiros, homens e mulheres, que fazem de suas vidas uma luta em defesa da democracia de fato e de direito. Que possamos ecoar nosso grito em prol de um país que se democratiza a cada instante, com a cara e o jeito de nosso povo.
Todo empenho das forças progressistas deve ser em sinal de demonstração de que não se cabe mais estado totalitário no Brasil. Luta que adquire maior importância quando sabemos que há muitas mentes que desejam à volta ao autoritarismo. No entanto, não aceitaremos retrocesso, não voltaremos ao estado ditatorial. Ditadura nunca Mais.
Vamos nos unir, mesmo em tempo de isolamento social, para reafirmar, mais uma vez e quantas forem necessárias: Ditadura nunca mais, viva a democracia de todos e participação popular sempre!
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