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O ESPECTRO DA FOME E A POLÍTICA DA MORTE NO BRASIL DE BOLSONARO



Eu gostaria de escrever sobre outro tema, com toda a certeza. Talvez falar de um Brasil em que todos nós pudéssemos compartilhar a alegria e o prazer de sentar em uma mesa e comer um prato de arroz, feijão, carne, salada e tomar um suco ou até mesmo um refrigerante. De poder escrever sobre um Brasil em que todos nós pudéssemos ter a oportunidade de ter um emprego com carteira assinada e um salário digno. Mas, infelizmente hoje, esse não é o assunto que irei abordar neste texto.


Irei me dedicar, em algumas poucas palavras, ao tema difícil e tenebroso da fome. Fome, que significa a total e completa ausência de comida. Fome, que também gera a insegurança alimentar, isto é, a ausência de alimentos e nutrientes básicos necessários à mínima manutenção do corpo humano. Fome que gera doenças. Fome que gera a morte.

A fome atinge hoje 33,1 milhões de pessoas no Brasil. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN, 2022). Os dados ainda revelam que em pouco mais de um ano (desde a pandemia da COVID-19), 14 milhões de brasileiros passaram compor as tristes estatísticas da fome no país. Isso sem contar ainda os 58,7% da população brasileira que convive diariamente com a insegurança alimentar, em grau leve, moderado ou grave. Os números da pesquisa mostraram que o Brasil regrediu a patamares da década de 1990, contexto de boom inflacionário e insegurança econômica altamente elevada.


Nos anos que se seguiram à pandemia da Covid-19, o problema da fome foi potencializado. Junto ao problema da precariedade do acesso à higiene, saneamento básico, acesso a meios de isolamento seguro e eficaz, a maioria da população pobre e trabalhadora do Brasil se viu também distante de condições mínimas de alimentação. A informalidade cresceu e o desemprego aflige hoje 11,1% da população brasileira (ALVARENGA, 2022). Na superficialidade dos números e dados estatísticos, não é preciso ser um especialista em economia para constatar que a esmagadora maioria da população brasileira mergulhada no pavoroso espectro da fome é composta por homens, mulheres e crianças pobres, negros, pessoas em situação de rua e moradores de periferias e favelas espalhadas por todo o país.


A fome, como sabemos, é um problema social, político e econômico, que afeta milhões de pessoas pelo mundo. Mas é também fruto da desigualdade social e econômica, da concentração de renda e riqueza, elementos inerentes ao sistema capitalista. Para se ter uma ideia de tamanho contraste, enquanto a fome e a miséria aumentaram exponencialmente nos últimos anos no Brasil, o lucro dos três maiores bancos privados do país (Bradesco, Itaú e Santander) alcançou a cifra de R$18,2 bilhões só no primeiro trimestre de 2022, um aumento de 7,8% em comparação com o mesmo período do ano passado (FERRARI, 2022). É o lucro das grandes corporações financeiras açambarcados às custas da miséria, da pobreza, da fome e da morte de milhares de brasileiros.


A grande questão, é que a fome, assim como qualquer outro problema social e econômico, pode ser facilmente atenuado, até mesmo dirimido. E o Brasil já provou isso em 2014, sob o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, quando o país saiu do Mapa da Fome da ONU. Bastam políticas públicas que priorizem o bem estar social da população, que lhes ofereça condições mínimas e dignas de trabalho, moradia, educação, saúde e alimentação. Exemplos nós temos, como é o caso do Programa Fome Zero, criado em 2003, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e depois convertido em um dos maiores programas de renda à população da história, o Bolsa Família.


Em 2018, o Brasil retorna ao Mapa da Fome. As políticas públicas até então criadas e postas em práticas começam a ser duramente atacadas, quando não, extintas. O governo Bolsonaro, deliberadamente, vai minando as tão importantes políticas públicas de bem estar social, culminando no desastre econômico e social que vivenciamos. A fome, que representa o maior dos retrocessos humanos, tem por grande causa a falta de vontade política daqueles que nos governam. Desse modo, Bolsonaro tem responsabilidade nos assombrosos números da fome divulgados recentemente. A fome no Brasil é um problema que exige do Estado e de seus governantes seriedade e compromisso social com toda a sociedade brasileira. Ao invés disso, o governo Bolsonaro tem induzido ataques à democracia, insuflando o ódio e a violência contra o povo pobre, negro, LGTBQIA+.


Portando, conceitos como o de Necropolítica e Aporofobia estejam tanto em voga. O primeiro conceito, desenvolvido por Achille Mbembe, filósofo camaronês, tem significado na prática deliberada do Estado e de quem o ocupa de promover, por meio do poder político, social e econômico, a decretação de quem deve morrer e de quem deve viver. Isso se aplica na medida em que ocorre a distribuição desigual da oportunidade de viver e morrer entre os membros da sociedade no interior do modo de produção capitalista. E, neste caso, a fome seria um desses meios. O segundo conceito, uma extensão do primeiro, representa a repulsa, a aversão e o desprezo pelos pobres e miseráveis, defendendo, inclusive, a sua eliminação física. Ora, se um governo retira dos trabalhadores os seus direitos e dos pobres as políticas públicas necessárias às suas vidas, nada mais correto do que classificar este governo como aporofóbico e necropolítico.


Por fim, é preciso ter esperança e mostrar a todos e todas que este tenebroso e pálido cenário de fome, morte, ódio e desprezo pode ser modificado. E nesse sentido, não vejo outra possiblidade de retomada do crescimento e desenvolvimento econômico e social no Brasil que não passe pela eleição do ex-presidente Lula.




Fontes consultadas


Rede PENSSAN. 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil: fome avança no Brasil em 2022 e atinge 33,1 milhões de pessoas. Fome avança no Brasil em 2022 e atinge 33,1 milhões de pessoas. 2022. Disponível em: https://pesquisassan.net.br/2o-inquerito-nacional-sobre-inseguranca-alimentar-no-contexto-da-pandemia-da-covid-19-no-brasil/. Acesso em: 12 jun. 2022.


ALVARENGA, Darlan. Desemprego fica estável em 11,1% no 1º trimestre e atinge quase 12 milhões, diz IBGE. G1. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/04/29/desemprego-fica-em-111percent-no-1o-trimestre-diz-ibge.ghtml. Acesso em: 12 jun. 2022.


FERRARI, Hamilton. Bancos privados lucram R$ 18,2 bilhões no primeiro trimestre: lucro líquido recorrente do Bradesco, Itaú e Santander subiu 7,8% em comparação com o mesmo período em 2021. Disponível em: https://www.poder360.com.br/economia/bancos-privados-lucram-r-182-bilhoes-no-1o-trimestre/. Acesso em: 12 jun. 2022.

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