O Partido dos Trabalhadores perdeu a eleição majoritária, embora, importante ressaltar, conseguiu resistir aos ataques midiático/jurídico dos últimos anos vide o número alto de deputados/as federais eleitos, totalizando 56, o que lhe dá a maior bancada federal para o ano vindouro.
No entanto, mesmo com a resistência do PT, nós, humanistas, somos os grandes derrotados desse processo. Talvez a frase não seja propícia para o momento, porque há no imaginário social, majoritariamente no campo progressista, a crença de que é necessário ser forte o tempo todo, e consequentemente resistir.
É evidente que o cenário sombrio que se desnuda demanda resistência. Porém, além da constatação uma pergunta é válida, afinal, resistiremos de quem e do quê? A resposta óbvia é aquela que vai ao encontro do autoritarismo militar de Bolsonaro, o possível silêncio da grande imprensa, o cada vez mais frequente lavar as mãos do poder judiciário, principalmente quando as pessoas se levantarem contrárias as medidas mais austeras de Paulo Guedes, e tantas outras ações ultraliberais que se concretizarão no futuro próximo.
Não resta a menor dúvida, quem comandará as ações políticas/públicas do país será o “Posto Ipiranga”, porque no neoliberalismo, à moda brasileira, a felicidade do mercado vale muito mais do que o pão na mesa do trabalhador.
No sentido macro, será importante analisar atentamente as movimentações dos “órgãos” mencionados acima, embora o campo progressista já esteja acostumado porque desde 2015 às instituições têm funcionado como nunca, no entanto, o funcionamento, como tem acontecido nos moldes atuais, é desfavorável para nós. Tem sido tempos difíceis, e diante da constatação sempre tem alguém com a melhor das intenções dizendo: “Calma, vamos resistir”.
Infelizmente o olhar atento não poderá ficar direcionado somente à esfera macro, mas também deverá observar atentamente o espaço das relações do cotidiano. Nos últimos dias vários textos estão sendo publicados com o intuito de pensar o perfil do eleitorado de Bolsonaro, atestando que quem votou no antigo capitão, não necessariamente, comunga com suas teses.
As produções que reforçam os diferentes perfis do eleitorado estão corretas, porque não é somente o aspecto conservador/moral que explica o fenômeno Bolsonaro, mas uma confluência de fatores, como o desgaste do meio político, criminalização da grande mídia endereçada aos grandes partidos e suas figuras mais ilustres, medo, insegurança social, notícias falsas e tantas outras.
Enfim, é provável que se fizermos uma pergunta para o eleitor/a do Bolsonaro, indagando-o se se considera fascista, definição representativa do presidente eleito, não há dúvida que a maioria, conhecendo ou não à literatura existente, rejeitará o rótulo.
Se de um lado há a constatação da existência de parte do eleitorado não fascista, de outro é evidente que uma parcela considerável dos eleitores se identificam com o cenário da institucionalização da violência, acreditando que é necessário varrer ou prender os inimigos, que pode ser qualquer um que não comungue com os ideais retrógrados do representante maior.
Como mencionado, o cenário para quem se identifica e defende pautas humanitárias não é, e não será nada fácil, porque quem conspira poderá estar mais perto do que imaginamos. Nesse sentido, como resistir diante de um cenário que parece previsível, mas está muito distante de ser?
Não há uma resposta única que conforte à resistência, ou melhor, que aponte caminhos para essa resistência. Outro ponto importante, não é questão do tempo presente, mas já tem um longo tempo que o campo progressista não consegue construir mecanismos para resistir. Gritamos “não vai ter golpe”, e o golpe se fez presente, depois lutamos para não acontecer a prisão da mais significativa liderança popular da América Latina, e o Lula está preso. Gritamos que os fascistas não passariam, e eles passaram. Agora, como acreditar na nossa capacidade de resistência? Sinceramente, não tenho resposta, e sinto-me confortável de não tê-la.
Porém, mesmo sem saber quais caminhos devemos trilhar, também sei que é necessário resistir. Diante de um cenário sombrio, não saber talvez seja mais válido do que o autoengano, afirmando que sabe, mas sem saber. O silêncio, nesse momento, não é desespero, medo ou inércia, mas um dos caminhos para se encontrar alternativas para resistir.
Mais do que nunca, é necessário ouvir os ecos do silêncio.
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