No cenário atual, uma das frases que mais escuto é “Política não se discute”. Então, deixo aqui, de início, uma dúvida, por qual razão?
Cada ato cotidiano gira em torno da política, se você trabalha, estuda, dirige ou tem o direito de questionar, em algum momento algum governante que está espalhado pelo mundo desenvolveu uma lei que permitiu que tais atos pudessem acontecer. A política está nas nossas mais variadas ações, e isso é um fato quase indiscutível, por exemplo, se você está lendo isso agora é porque, em algum momento, uma política pública permitiu que a alfabetização fosse para todos. Concluímos, então, que absolutamente tudo envolve política!
Bom, muitos afirmam que não gostam de política, algo que não é um absurdo se formos pensar, quando a nossa educação, desde a escola, não nos induziu a gostar de tal discussão. “Gostar” não seria bem a palavra mais correta, tecnicamente, ninguém gosta de discutir, mas é preciso. As leis são de certa forma complexas, e a falta de indução para se aprofundar torna ainda mais limitador o interesse e a compreensão. A política em si é confusa, são muitos partidos, muitas leis, e variados escândalos envolvendo os mesmos, fazendo assim, mais uma vez, a diminuição do interesse pelo assunto.
Afirmo que é uma estratégia de política, quanto menos se entende mais fácil se domina, quando não entendemos sobre determinados assuntos o mais sensato a se fazer é não questionar. Por exemplo, como se questiona algo que não se sabe se é errado? Enfim, se política fosse para a sociedade, era um tema chave desde a educação básica. O ato de não se posicionar já remete a um posicionamento, sendo não o mais correto a se fazer.
Como já citado, política é confusa, e parece, sem concordar com a afirmação seguinte, que a saída mais fácil é apenas repetir o que todos falam, já que o ato de procurar de forma única, diretamente de fonte confiável é trabalhoso e requer um tempo. Sinceramente, é desesperador o famoso Fake News! Notícias de ambos os lados políticos, sem ter fundamento. Quando se fala em propagação de notícias falsas pode se iniciar com um link “inofensivo” no grupo da família, que se estende a uma corrente sem fim de compartilhamentos e se alastra dentro de uma relva de mentiras que afetam, em algum momento, determinadas pessoas.
O ato de discutir política deveria ser uma formação de diálogo, onde ambos se beneficiassem com o que o outro tem a oferecer, mas o que mais perceptível é um egoísmo fechado em uma bolha pessoal, onde um despeja sobre o outro seus posicionamentos, e o outro está apenas “abstraindo e fingindo demência”, até que seja sua vez de lançar suas opiniões que consequentemente serão para o vento.
Um diálogo político deve ser saudável, e mesmo que não se concorda com a fala alheia o ideal é aceitar. Não esquecendo que posicionamento político é diferente de uma capa para ofender e prejudicar outra pessoa, isso tem outro nome. Enfim, os debates atuais não são uma forma de acrescentar uma visão além daquela que o outro já possui, mas para demostrar o quanto o outro está errado. Se tornou uma guerra de egoísmo, onde quem grita mais alto ganha o troféu, sem pensar que ao tentar prejudicar o outro, consequentemente está se prejudicando também.
Política é uma decisão em conjunto, um trabalho coletivo que deveria ser para o bem comum, não uma batalha de apenas um grupo seletivo que busca benefício próprio, não pensando nas dificuldades do próximo. Enfim, a coletividade deveria ser efetivada na prática.
Relembrando a pergunta feita no início, política se discute? Sim, política se discute sim, debater de forma sensata e com argumentos cabíveis, é assim que desconstrói mazelas da sociedade, é assim que crescemos democraticamente e ajudamos na construção de uma sociedade mais habitável, respeitando a ideia e o espaço do outro.
Somente para reiterar, discurso de ódio não é posicionamento político.
Wey Venâncio
(Ativista Feminista e graduanda do Curso de História da UEG – Porangatu).
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