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Teatro de Fantoches


Os fantoches são muito divertidos para as crianças, me lembro que na minha infância eu gostava de assistir aos personagens de fantoches dos programas matinais, aquelas criaturas de pano pareciam reais, e aos olhos das crianças realmente são, possuem voz e personalidade, mas é claro que com o avançar da idade a inocência infantil dá lugar a percepção e a criticidade que te faz perceber que há alguém ao fundo controlando o boneco, e que as palavras proferidas ali, são na verdade palavras de quem controla. Perceber que bonecos inanimados são controlados por alguém é algo que leva tempo para uma criança, mas para um adulto é algo muito óbvio, a nossa dificuldade está em perceber quando seres humanos são feitos de fantoches.


Vivemos em um momento de efervescência política em nosso país e um crescente interesse da população pelo tema, as redes sociais ampliaram a possibilidade de expressar opiniões e julgamentos, vivemos um bombardeio de compartilhamentos de notícias (a maioria FakeNews), que hora pendem para a direita e hora pendem para a esquerda, em um incessante extremismo e polarização que poucas vezes passam por um crivo de criticidade. O que poucos percebem é que essa falta de criticidade conduz a mera reprodução de discursos políticos que atendem a interesses de partidos. 


Para muitos analistas políticos formados no Facebook e Twitter seus discursos são justificados pela seguinte frase: "Essa é minha opinião!" É interessante perceber que essas opiniões que milagrosamente "brotaram" da cabeça de tantos indivíduos são tão semelhantes, e também tão alinhadas aos interesses dos partidos. Movimentos que se intitulam apartidários como o MBL e estão sempre alinhados a ideologias conservadoras dos partidos de direita, até mesmo, muitos de seus membros se candidataram sob a legenda destes mesmos partidos.


Não vivemos uma verdadeira democracia, até mesmo os partidos são fantoches dos que realmente controlam os rumos de nosso país, a saber: O capital financeiro. Os conflitos entre partidos e entre eleitores são provocados para induzir a falsa sensação de democracia, a revolta e a insatisfação, plantadas através de manipulação de discursos moldam a opinião pública que incapaz de perceber o seu estado de alienação age inconscientemente como massa de manobra para moldar o cenário político como convém ao capital financeiro.


A política é o teatro principal dos fantoches, os deputados, senadores, vereadores, prefeitos, presidentes, são os bonecos que vemos em frente as cortinas, mas a mão que controla e a voz por trás de suas palavras vem de seus financiadores de campanha, o verdadeiro poder de decisão vem dos conglomerados financeiros multinacionais. Estes conduzem os rumos econômico-sociais e políticos, não só do Brasil, mas de todo o mundo. E aqueles que não se alinham aos seus interesses são facilmente trocados, através da manipulação da opinião pública, que inconscientemente entra no jogo de fantoches.


A mídia cumpre seu papel de moldar as opiniões da grande massa, que desprovida de uma educação crítica e emancipadora, absorve as informações como verdade absoluta, e reproduzem seus discursos tendenciosos e suas mensagens de ódio no cotidiano. Não é difícil encontrar pessoas que odeiam os políticos da Venezuela, ou de Cuba sem ao menos conhecerem ou estudarem a real situação dos países, apenas reproduzem um discurso maciçamente disseminado pelos meios de comunicação dominante.


Até mesmo as manifestações são artificialmente induzidas quando se pretende tirar alguma vantagem. Tudo funciona como um tabuleiro de xadrez onde o adversário mais experiente e habilidoso (Capital financeiro) induz seu oponente a movimentos que em um primeiro momento lhe parecerá bom, mas que no decorrer do jogo lhe conduzirá a derrota. Ao povo é dado o direito de se manifestar, mas o contra-ataque já está em curso. E infelizmente foi exatamente isso que ocorreu com nossa recente paralisação de caminhoneiros.


No mês de maio de 2018 o Brasil presenciou uma paralisação de caminhoneiros histórica, onde a categoria se uniu e paralisou as estradas do país, em busca de reduções dos valores de combustível e de melhores condições de trabalho. Suas reivindicações foram atendidas, mas apenas pelo prazo de um mês, enquanto os "prejuízos" causados pela paralisação serão compensados com cortes milionários em verbas da saúde e da educação por tempo indeterminado, além de dar a possibilidade de aumentar ainda mais os valores dos combustíveis usados por carros comuns, já que a grande maioria abasteciam desesperados com a escassez aceitando valores ainda mais altos do que os que estavam sendo praticados antes da paralisação. No fim do jogo, quem saiu ganhando foi o capital financeiro, se aproveitando de uma ação popular que aparentemente possuía um engajamento bem-intencionado e democrático. 


Perceber esse macabro teatro de fantoches é assustador, porque para isso precisamos ter consciência de que até mesmo nossas ações e pensamentos podem estar sendo manipulados nesse momento, precisamos aprender nos questionar, a quem nossas ações e discursos podem estar favorecendo, se nossas interpretações e visões de mundo são induzidas ou não. Se apropriando das palavras do Doutor Manhattan um icônico personagem dos HQs da DC Comics "Todos somos marionetes, a diferença é que eu enxergo minhas cordas". Perceber as cordas e quem está atrás das cortinas é o primeiro passo para um verdadeiro e efetivo enfrentamento.


Boa semana amigos!

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