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Foto do escritorSwelington Fonseca

Discursos e Desonestidade Intelectual da Grande Imprensa

Diante dos últimos acontecimentos envolvendo a conjuntura política do país, se torna cada vez mais interessante procurar compreender os diferentes discursos que, de forma direta ou, indireta procuram pensar os desdobramentos do tempo presente e, também inúmeras projeções sobre os direcionamentos vindouros. O historiador russo, Mikhail Bakhtin (1895-1975), considerado um dos mais influentes pensadores sobre a análise do discurso, defende que, o discurso se manifesta de variadas formas, trazendo consigo enunciados que, em muitas ocasiões não aparecem no primeiro plano, porém, estão presentes nas comunicações sociais, quando o sujeito afirma, sem deixar explícito sua afirmação.



Acredito que, o historiador russo nos possibilita uma importante base teórica para compreendermos os discursos presentes na grande mídia, principalmente quando tentam explicar o imbróglio social, político e, dilema ético que, se encontra envolvido o presidente da República, Michel Temer. Acompanhando os discursos de analistas políticos vinculados à imprensa majoritária, se torna muito perceptível a tentativa de tentar implementar no imaginário social, um preceito de estarrecimento, de incredulidade com relação ao que está acontecendo, no que tange as denúncias de corrupção envolvendo uma conjuntura ampla de baluartes da política nacional, como o já citado presidente da República e, também o presidente licenciado e senador afastado do PSDB, Aécio Neves.


O sentimento de estarrecimento que, procuram enraizar no imaginário social, no mínimo demonstra uma desonestidade intelectual muito grande da imprensa majoritária do país. Mais precisamente, há uns dez anos atrás, quando o conceito de corrupção começou a dominar as conversas cotidianas, culminando numa certa “revolta social” com os atos ilícitos do poder político, a grande imprensa tem se comportado de forma desonesta com seus leitores, suas telespectadoras, seus radiouvintes e outros, principalmente pelo fato de procurarem associar a corrupção apenas a um espectro político, fazendo com que, indivíduos que procuram obter informações e construir seus conhecimentos por meio desses meios majoritários, acreditassem piamente que, a corrupção é um elemento pertencente apenas ao Partido dos Trabalhadores (PT), quando com a retirada do partido do centro político do país, todos os problemas imbricados com desdobramentos corruptivos seriam sanados por uma passe de mágica.


Porém, os problemas sociais são muito mais graves, complexos no campo de suas resoluções, em virtude de terem uma raiz histórica e, ao mesmo tempo cultural, existindo uma espécie de naturalização social, quando o assunto se remete aos atos ilícitos, materializado pelo clássico conceito do “jeitinho brasileiro”. A corrupção no Brasil não pertence ao tempo presente, a mesma tem um longevidade considerável, envolvendo diferentes atores sociais, sendo no sentido mais abrangente do termo, uma endemia pertencente ao histórico de relações da sociedade brasileira. As afirmações mencionadas são óbvias, não trazendo em si nenhuma novidade conceitual, porém, para uma gama considerável de sujeitos voltados ao discurso da grande imprensa, essa obviedade deixa de ser óbvia e, passa para o campo de uma defesa inconteste da corrupção.


Torna se evidente que, a linha editorial dos grandes meios de comunicação, possuem e consequentemente são suficientemente sábios para compreenderem que, a corrupção é uma doença social, no qual, dificilmente será dirimida se não for encarada por essa ótica. Se compreendem e são sabedores desse preceito relacionado a endemia e, mesmo assim, preferem adotar uma outra linha de raciocínio, ocasionando e influenciando um convencimento social considerável, há nesse caso, um desvio de funcionalidade da livre imprensa, configurando no mínimo uma desonestidade intelectual sem proporções para o país, deixando um rastro de instabilidade democrática preocupante para uma sociedade que, ainda não se acostumou com a palavra democracia.


O discurso de estarrecimento, ou mesmo quando analistas da grande imprensa aparecem boquiaberto com o conteúdo das gravações, alguns demonstrando indignação, entre outras formas de recusa para com os últimos acontecimentos, não se configura como prática ética e sincera desses meios, mas, uma clara continuidade da desonestidade para com aqueles/as que, procuram construir seus saberes se valendo dessas informações, requerendo dessa parcela uma maior criticidade para compreender o fingimento social, no qual, foram e, estão sendo mergulhados. A tentativa de passar uma imagem de incredulidade por parte dos grandes meios de comunicação, demonstra um sentimento de cumplicidade desses meios e, não de indignação.


Assim, se torna cada vez mais importante que, a sociedade brasileira recorra aos meios alternativos de divulgação de informação e de construção de outros e novos saberes. Quem se pauta apenas pela grande imprensa, está correndo um sério risco de ser ludibriado no campo cognitivo, já que, a grande imprensa brasileira demonstra ter uma aptidão histórica para ludibriar aqueles/as que, mantem os seus status quo.


Abraço, boa semana para vocês!.

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