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O Discurso Pelo Povo

Já diziam os velhos gregos que as decisões deveriam estar no centro da praça – Ágora. Com certeza para se pensar no discurso do povo, ao qual são produzidos em seu nome, precisamos pensar um pouco a respeito da trajetória da população que sempre vivera silenciada em seus sonhos, anseios e até utopias.



Lamento em dizer: “existem muitos discursos proferidos em nome do povo”, exclamou-me um companheiro de debates, articulações e pesquisas, pois o que temos em nossa América Latina, em especial no Brasil, são representantes que fingem ouvir o clamor popular e usá-lo para poder dominá-lo. Triste constatação!


O que encontramos na América Latina, ao qual incluo o Brasil, são governos que preconizam os princípios democráticos e, alguns até, fazem eco à praça grega – Ágora, para dizer que estão ouvindo os clamores populares, construindo um discurso fantasioso de que a democracia acontece em suas nações, com algumas exceções, como assevera chanceleres, como o que acontece em Cuba e Venezuela, como argumentou o governo golpista de Temer ao referir-se a tais nações.


Por falar em governo Temer este proferiu um discurso pelo povo brasileiro quando assumiu a presidência do Mercosul, em 21 de julho de 2017, afirmando que será preciso manter vivo o espírito democrático na região. Nada mais contraditório com tal discurso, ao qual usa o nome do povo brasileiro para se configurar que existe em nosso país um princípio democrático de nossas instituições correspondentes ao republicanismo – executivo, legislativo e judiciário.


O que mais encontramos no meio político representacional são discursos pelo povo. Que o digam os slogans governamentais, em Goiás, “fazendo o melhor pra você”, “o povo no poder”, “ordem e progresso” em nível de governo federal, principalmente nas obras públicas que são produzidas com os recursos do povo e ainda temos que ouvir que fora produzida por um governo municipal, estadual ou federal. Mas com o fito objetivo de falar pelo povo e não ouvir o que o povo gostaria de expressar.


A realidade a qual vivemos deixa o povo sem voz e sem vez. Isso mesmo, pois a legitimidade que temos em participar de todo o processo decisório é construído em tempos eleitorais quando somos convidados a participar para eleger nossos representantes, dando voz e vez ao povo. Democracia não é somente podermos votar.


Temos um processo eleitoral falido, corrupto e ao qual os partidos políticos se contaminaram não se podendo enxergar quais são seus caminhos ideológicos. Tudo levou o povo a afirmar que se vota nos candidatos e não mais nos partidos. Mas de quem será o mandato? Do partido ou candidato? Aonde está a decisão e o papel do povo em todo este processo?


Perguntas sem respostas. Pois há um discurso pelo povo, ao qual somos levados a acreditar que vivemos em uma democracia, Ágora grega – a qual toda nossa legitimidade eleitoral é que consubstancia o que vivemos. Nesta capacidade interpretativa de saber qual o discurso pelo povo, compreendendo o que vivemos nestes tempos difíceis e para que saibamos discernir o real sentido da democracia no Brasil e na própria América Latina, seja preciso pensar muito e abrirmos um diálogo constante com o povo.


O discurso pelo povo é mais contundente, assumido pela mídia poderosa e que espera que alguém fale pelo povo, não que se torne um protagonista de suas próprias ações. Ao máximo são mostrados como aqueles que fazem a baderna, que não respeitam os princípios do ir e vir, que impede que os pais levem os seus filhos à escola, quando de uma greve dos profissionais da educação; demonizam o povo quando fecha uma rua para protestar contra a violência do próprio estado para com os seus cidadãos e muitos outros exemplos que podem ser colhidos. Mas isso não é somente a mídia, serve para aqueles que analisam e produzem uma leitura da sociedade, aos intelectuais, articulistas e muitos que intentam escrever e interpretar o que se vive.


Há um discurso pelo povo que não consegue trazer à tona os inúmeros silêncios do povo que sonha, pensa, analisa e até produzir uma utopia de construção social que atenda a todos. Por outro lado, a sensação é de desencorajar o próprio povo assumir o seu discurso, levando-o ao seu ostracismo e esperançoso de que alguém assuma o seu discurso e o profetize de forma geral para todos.


Assim, o discurso pelo povo, não se rompe com um texto como este, mas com algumas ações concretas de muitos de todos nós. Temos que assumir não o discurso pelo povo, mas trazer à tona o discurso do povo e saber que em um sistema democrático tudo que se decide deve ouvir o povo. Isso mesmo, desde a saída de um presidente, a perda de mandato de um deputado ou senador, governador e prefeito tudo deveria se passar pelo povo.


Evidente que não é somente isso, mas saber que muitas obras públicas são de sonho popular, porém, há uma apropriação do real interesse do povo, que se volta contra si mesmo, caminhando para o que a sociologia e história denomina-se de populismo. Vivemos momentos de tenções e intenções aos quais o discurso pelo povo se torna ainda mais cadente, deixando de lado o real sentido de ouvir o clamor do povo que vive e faz progredir as inúmeras nações de nossa América Latina. Silêncio, ouçamos o discurso do povo!



Doutor em História, Professor e Diretor do Câmpus da UEG em Itapuranga, colaborador do Diário da Comunidade, programa da Rádio Alternativa FM de Itapuranga e Coordenador do Projeto de Extensão Saberes nas Ruralidades: movimentos que educam.

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