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Renascer das Cinzas

A sociedade brasileira, representada por suas camadas populares parece ter uma capacidade impressionante para renascer literalmente das cinzas. E esse renascimento se constitui em virtude das suas próprias forças, não contando necessariamente com a contribuição de outras camadas sociais. No tempo presente, diante de tantas políticas públicas produzidas para os de sempre, em detrimento da maioria da população, alguns projetam um futuro próximo, carregado de mais agravos em todos os campos, desfavorecendo os que, historicamente sempre se encontraram desfavorecidos.



Se depender da figura do estado, pensado em seu sentido mais amplo, não há dúvidas que as projeções pessimistas se sustentam, por que provavelmente na história desse país, nunca se viu tantas ações que procuram destruir as importantes conquistas sociais do povo brasileiro como nos dias atuais. O Brasil de 2017 se distancia cada vez mais da sua sociedade, não somente no sentido de virar-se de costas, mas, no tocante à encarar as pessoas como se fossem coisas, objetos inanimados. Tudo em nome do capital.


Porém, a sociedade constituída por indivíduos que enfrentam ônibus, que levantam de madrugada para poder levar o filho(a) nos postos de atendimento de saúde, que sobrevive milagrosamente com um salário mínimo, que planta para a despesa e vende o que sobra para o seu sustento, que recicla, que vê nos estudos do filho(a) uma esperança, que tem as mãos calejadas, que anda com dificuldades em virtude dos pesos da vida e, assim por diante, possuem algo em comum, no qual, o desumano capital finge não perceber, a saber, uma capacidade de reinvenção enquanto grupo social.


Essa reinvenção histórica e constante, fora aprendida com as ações do tempo, em virtude da negligência do estado para com eles. Assim, aprenderam a se organizar sem necessariamente depender da figura do estado. A não dependência não se efetiva em virtude de acreditarem que o estado mínimo seja o modelo ideal de sociedade, como algumas camadas de privilegiados gostam de defender nos dias atuais. Pelo contrário, aprender a não depender do estado foi uma filosofia adquirida ao longo das gerações, fazendo parte de uma memória coletiva da ampla comunidade.


Assim, historicamente, qual foi o período em que o estado cumpriu sua função com os mais vulneráveis socialmente? No período colonial, estivemos distantes dessa perspectiva, no Império não houve grandes modificações se comparado ao anterior, a República se efetivou para não modificar os status quo, me valendo do conceito defendido por José Murilo de Carvalho, no seu clássico livro, Os Bestializados (1987).

Seguindo a linha de raciocínio, no governo Vargas, apesar de um olhar mais “complacente” com os menos favorecidos, as ações governamentais estiveram distantes dos clamores populares, o período ditatorial dispensa comentários, após esse, na cambaleante construção da democracia, as políticas públicas, com algumas e importantes exceções dentro dos governos petistas que, mesmo diante dos acordos com o grande capital, conseguiu produzir importantes mecanismos de combate à pobreza, fora isso, o Brasil em seu sentido estatal continuou com os olhos fechados e com os ouvidos entupidos para as dores daqueles que transpiram para colocar os parcos alimentos na mesa. Por exemplo, a não realização da Reforma Agrária indubitavelmente demonstra ser uma importante síntese de todo esse processo.


Mesmo diante de tantos infortúnios, a sociedade pobre, que se reconhece como tal, conseguiu e consegue se organizar, encontrando estratégias para se manter ativa, produzindo meios de sobrevivência e, resistência. No Brasil do tempo presente, quando nossas esperanças parecem escorrer pelas pontas dos dedos, as pessoas que transpiram e tem as mãos calejadas, nos dão cotidianamente importantes exemplos, não somente de sobreviver perante tudo e todos, mas, de resistir. A filosofia da vida possibilitou esses inúmeros saberes, voltados para a luta diária, sem pestanejar, sem esmorecer, não esperando, mas, agindo. Ao mesmo tempo em que agem, conseguem uma conquista de espaço.


As recentes ocupações do Movimento Sem Terra (MST) são muito mais do que um alento para aqueles sem esperança, suas ações demonstram uma alternativa de reconstrução social, se valendo da máxima mais importante nesse momento, a saber, ocupar e resistir. Enquanto alguns procuram compreender o período em que estamos envoltos, a sociedade que historicamente sofre diretamente os percalços da negligência estatal, não teve dificuldades para compreender o tempo presente, por que convive com a negligencia cotidianamente, fazendo da prática a sua compreensão e, assim produzindo mecanismos de luta e, de enfrentamento social.


Se as camadas progressistas conseguirem aprender por meio dos saberes populares, haverá uma esperança significativa para o país também renascer das cinzas. Os exemplos de resolução dos problemas históricos estão do nosso lado, sendo necessário apenas, ter capacidade e humildade para enxerga-los.


Abraço e boa semana para vocês.

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