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Acreditar no Diálogo



Nas últimas semanas tenho pensado sobre algumas questões. De fato, temos no Brasil hoje um conjunto de problemas graves que afetam a sociedade brasileira. Nas minhas andanças tenho percebido o aumento do número de pedintes na rua, um número grande de sujeitos vivendo na marginalidade social.


Nos últimos anos o Brasil teve uma queda nos índices de diminuição da pobreza, ou seja, o número de pobres aumentou, o que significa dizer que a qualidade de vida da sociedade também caiu, porque o desemprego, infelizmente, alavancou, o atendimento à saúde é precário, e uma série de outros direitos que deveriam ser garantidos, porque estão na Carta Constitucional, não estão sendo cumpridos.


No debate político, me referindo aos/as postulantes à Presidência da República, o que tem se manifestado é um debate muito precário por parte de alguns sujeitos, outros nem tanto. De um lado nós temos sujeitos que culpabilizam o problema social no Brasil, ou melhor, os problemas sociais, como educação precária, ausência alimentar, as dificuldades no tocante a saúde, o conjunto dos direitos sociais precarizados, como se fossem culpa de determinados grupos sociais.


Grupos que são minorias, porque quando você olha para o Parlamento brasileiro, não existem representantes políticos desses seguimentos. No último dia 19 (dezenove) comemorou-se o dia do índio, no entanto, quando você olha para o congresso nacional não se encontra representantes dos grupos indígenas no Brasil. Do mesmo modo, encontramos muito poucos representantes dos negros, da comunidade LGBTQ, das mulheres e outros grupos desassistidos. A ausência de representação configura o conceito de minorias políticas.


Para todo esse cenário, muitos/as candidatos/as têm dito que os problemas são justamente os sujeitos desassistidos do estado, como os grupos indígenas, os quilombolas, os camponeses, e as mulheres. Outros, me parecendo uma direita fascista, que gracejam com o fascismo que ocorreu na Alemanha, para me valer de um exemplo, porque, afinal, como diria Bertold Brecht: “A cadela do fascismo sempre está no cio”. No Brasil, me parece que a cadela está mais do que nunca nesse estágio, porque parte da sociedade se vangloria da repressão e do autoritarismo.


Entretanto, há outra direita, liberal intelectualizada, sendo possível realizar um bom debate político. Portanto, não há uma direita no Brasil, mas direita(s), ou seja, grupos que defendem pensamentos conservadores, grupos que defendem a manutenção do status quo, mas que têm diferentes mecanismos e concepções sobre essa defesa.


Assim, o que fica nesse momento é a necessidade de desprendermos no país o discurso que tem me incomodado muito, que é a ideia de que o único problema no Brasil é a corrupção. Não nego que o problema da corrupção é uma questão gravíssima, e reafirmo o óbvio, a saber, que a corrupção não é fruto das últimas décadas, mas uma questão secular no país. Por exemplo, em 1850 a lei de Terras foi um ato corruptivo, porque entregou terras para os proprietários que haviam recebido a carta de concessão por meio das sesmarias, e depois o estado apenas endossou a doação dessas terras. Está aí, uma das marcas da desigualdade social no campo.


Então, de fato a corrupção é um problema sério. No entanto, não é o único problema, sendo que há também o mercado financeiro que domina a nossa economia, quando a maior parte do nosso orçamento é destinado para beneficiar os donos do capital. Assim, precisamos insistir nesse debate, respeitando essa análise, e dar atenção à ela, porque parte dos nossos impostos não está sendo destinado para fomentar a educação, saúde, alimentação, bem estar social, moradia e outras necessidades sociais.

É preciso que os candidatos/as à Presidência da República façam esse debate, sendo público e de qualidade, e não um debate fascista que quer destruir o outro, negar a oportunidade de fala, e outras arbitrariedades do autoritarismo. Parece que se esqueceram de Voltaire, importante iluminista francês, que já dizia: “Posso não concordar com o que você disse, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”.


Então é isso, mais reflexão e menos ódio.


Texto:

Edson Batista

Professor de Geografia da UEG – Câmpus Itapuranga

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