
Ronilton Delcides Rodrigues Junior[1]
Os efeitos do Coronavírus vão além das mortes. O início pandêmico assombrou todos os brasileiros, pois existia certa preocupação sobre quais medidas seriam tomadas por parte dos governantes no combate à disseminação violenta da doença, como também no equilíbrio da economia em caso de fechamento do comércio.
Como é versado por boa parte da população, os problemas enfrentados nas áreas da saúde, infraestrutura e economia, que antecediam ao vírus, representava um medo por parte dos envolvidos no âmbito profissional, por ser sabido de tal grupo que os meios públicos seriam incapazes de atender todos com a devida qualidade em caso de um aumento exponencial da COVID-19.
No início havia um certo descaso e até mesmo momentos de negação por parte da população, do quanto profundo seria o envolvimento do vírus em suas vidas. Descartaram o uso de máscaras, o isolamento e o fechamento dos comércios. A doença não poderia chegar em pior momento no Brasil, momento em que a polarização política, evidenciada por um debate sobre os caminhos da economia, meio ambiente e sociedade, dificultou o alinho entre às lideranças políticas, e o brasileiro acabou tornando-se refém da escassez de diálogo.
Evidenciou-se durante o curso primário da pandemia no Brasil, diálogos importantes no executivo, entre governadores e a presidência, para juntos alinharem as ideias e tocar o assunto de modo a tentar sanar de forma eficiente os problemas da saúde. Logo, observou-se que o diálogo diminuiu e os líderes começaram a agir em desalinho com o pensamento existente na presidência da República, governadores cogitando o fechamento de acordo com suas necessidades e a presidência tentando evitar tal pausa na economia.
Com o agravamento da pandemia, e consequentemente aparecendo contagens de mortos maiores, se fez necessário um diálogo com tonalidades mais elevadas, o que levou o envolvimento das casas do legislativo, da União, a um nível participativo mais frequente e sábio. Mostrou-se de extrema importância tal participação, no período em que estados e municípios estavam decretando de forma autônoma o fechamento de seus limites, comércios etc. O congresso nacional mostrou-se a favor do isolamento e passou a defender o pagamento de um auxílio que, de início, foi estipulado em duzentos reais pelo presidente da República. Ao final, com a resistência do congresso nacional, o valor de seiscentos reais foi aprovado.
Desde o princípio da pandemia, a presidência da República tratou com total deszelo a doença, chegando a ouvir por diversas vezes do presidente piadas grotescas, que nenhum ser humano em sã consciência faria diante do momento. No entanto, não é somente por meio de piadas sem graça que o governo federal lidou com a pandemia. Mesmo diante do colapso sanitário evidenciado antes do fim de 2020, o Ministério da Saúde destinou recursos importantíssimos para a fabricação de medicamentos que a própria Organização Mundial da Saúde advertiu sabiamente ser ineficaz. Visto as recorrentes advertências feitas pelo principal órgão de saúde do mundo, como também de diversos epidemiologistas, o governo federal ignorou os estudos existentes e apostou na “soberania”, fazendo valer por último as palavras e decisões do presidente Jair Bolsonaro.
O laboratório químico do Exército Brasileiro, em respeito às ordens da presidência da República, diminuiu a produção de um medicamento para transplantados chamado Micofenolato de Sódio, para então destinar todo o seu recurso para um medicamento chamado Hidroxicloroquina, o qual ficou evidenciando por inúmeros cientistas sua total ineficácia no combate ao vírus.
Inúmeros estudos para se criar uma vacina com rapidez foram criados desde o surto na Europa. No Brasil não foi diferente, instituições renomadas e líderes na produção de vacinas fervorosamente começaram pesquisas avançadas para também levar ao brasileiro uma vacinação eficaz. Fiocruz e Butantan firmaram acordos internacionais para compartilhar tecnologia e desenvolver vacinas em solo brasileiro. Porém, em oposição novamente aos meios eficazes de combate, o presidente da República criticou a criação de vacinas, dizendo que não compraria vacina chinesa, muito menos usaria.
Meio ao negacionismo existente por parte de brasileiros encorajados pelo presidente Jair Bolsonaro, que insistia que a doença não era perigosa, o Brasil entrou em 2021 de forma desastrosa. O desestímulo continuo do presidente Jair Bolsonaro, no uso de máscaras, no isolamento social e também na vacinação, é um exemplo claro da falta de capacidade humana e intelectual como gestor de uma nação do porte do Brasil. Encorajados pelas falácias do dito “líder supremo da nação”, brasileiros e brasileiras estão hoje à mercê de uma instabilidade política e sanitária gravíssima, aproximando rapidamente da casa das 300 mil vidas perdidas pela pandemia e pela “ineficiência” do governo federal[2].
Quando é dito que os efeitos da pandemia não se limitam aos óbitos, diz-se por fatores que foram agravados pela falta de seriedade diante do vírus, que hoje afunda o país em um desastre sanitário, econômico e social. O distanciamento dos/as alunos/as das aulas presenciais gera uma evasão educacional que só será revertida com muito esforço dos educadores e com muito investimento por parte do governo. Os milhares de empregos e empresas perdidas em meio ao caos econômico instaurado pela crise sanitária somente será revertido com incessantes investimentos aos que perderam, não só pessoas queridas para a doença, como também, seus empregos, casas, veículos, desfazendo-se destes para manter-se alimentando. A taxa de desemprego no Brasil é assustadora, o rebaixamento de famílias para a linha da pobreza é alarmante.
Hoje, o governo federal diz que encontra dificuldade para comprar vacina, mas quando teve oportunidade desdenhou. Falacioso, pois ao mesmo tempo que o presidente diz que não tem ou nega o valor das vacinas, se dispõe a comprar spray israelense que supostamente teria condições de prevenir o contágio, mas que nem o próprio israelense usa, aliás, Israel já vacinou quase que por completo sua população. O contágio deve ser prevenido, mas em praticamente todos os estudos existentes sobre prevenção, a medida mais eficiente é o distanciamento social.
Apesar da notável falta de consideração aos estudos, o presidente insiste em visitações estaduais sempre sem máscara e rodeado por pessoas também sem máscaras. Não é hoje um fato isolado, desde o início sempre passeando pelas ruas de Brasília, vezes com guarda, vezes de motocicleta. Enquanto o negacionismo pregado pelo “líder” toma conta, e os seguidores vendados pela onda populista fazem festa e aplaudem o genocídio, quem paga esse preço são os mais vulneráveis. A conduta de Jair Bolsonaro diante do vírus é lamentável, os discursos são de teor maquiavélico e sempre com o mesmo objetivo, o de não parar a economia, mesmo com um número absurdo de mortes. Países fecham suas fronteiras para o Brasil almejando se livrar da pandemia. Além disso, o país convive com novas cepas, falta de oxigênio em várias regiões, conforme observamos em Manaus, falta de insumos e tantos outros problemas.
À frente do Ministério da saúde o Brasil tem, ou teve[3], uma figura tão nociva e imprudente quanto a figura gestora do país. Um ministro dito como o “Deus da logística”, que confundiu catastroficamente o estado do Amapá com Amazonas. Não obstante, a economia também pede socorro. O país que já foi a 6ª maior potência do mundo, atualmente ocupa o 12º lugar no ranking. Crise sanitária, política e social é um prato cheio para especulação de mercado e consequentemente queda dos investimentos. A prorrogação infinita da COVID-19 em território brasileiro contribui para o lento retorno da economia, mas o que deve ser discutido é, o que o governo tem feito para regredir o avanço. O que não tem acontecido, pois fatores que são discutidos em um momento totalmente inoportuno como à privatização de estatais estratégicas, venda de refinarias, ameaças aos direitos básicos dos cidadãos é o que o governo discute com muito entusiasmo.
Enquanto se discutia o retorno do auxílio emergencial, o governo federal propôs que o retorno do pagamento só deveria ser feito se extinguissem o investimento mínimo em saúde e educação. Ora! Hoje vivemos um colapso jamais experimentado por nós, justamente por pouco investimento na saúde, agravado por péssimas decisões do executivo. Se mesmo existindo um gasto mínimo com a saúde o país está nessa crise, imagine o quadro apocalíptico que seria caso não houvesse? Outro fator é a educação. Desde o Consenso de Washington, à educação aplicada no Brasil é trabalhada para dificultar a emancipação social pobres, visando sempre o tecnicismo. Por fim, a catástrofe existente é reflexo de uma péssima gestão do executivo federal.
Às discussões que devem ser feitas não são exclusivamente pelo âmbito político, mas também no sentido humano, afinal qual a forma mais eficaz de encerrar este capítulo macabro vivenciado pelos brasileiros chamado bolsonarismo?. Bolsonarismo, onda populista que sentenciou inúmeras vidas com uma arma chamada COVID-19. Os problemas devem ser contidos pela raiz, pois o orgulho equivocado do presidente impede que à pandemia seja encerrada de forma humana no país.
Texto: Ronilton Delcides Rodrigues Junior
Notas:
[1] Graduando do curso de História da UEG, Unidade de Goianésia. [2] De acordo com os dados compilados pelos órgãos de imprensa, até o dia 20 de março de 2021, o Brasil, oficialmente, havia registrado 292.856 óbitos em decorrência da covid-19, tendo praticamente 12 milhões de pessoas contaminadas pelo vírus em pouco mais de um ano de pandemia no país. [3] Até o dia que o artigo foi revisitado para ser publicado, dia 21 de março, o general Pazuello estava no entre lugar, isso porque ao mesmo tempo que havia o governo federal, no início da semana, havia anunciado o novo Ministro, Marcelo Queiroga, Pazuello não havia sido desligado oficialmente do ministério.
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