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Greve dos Caminhoneiros e o Neoliberalismo

Foto do escritor: Lucas PiresLucas Pires


Com a greve dos caminhoneiros, o Brasil vivenciou, novamente, um período de grande efervescência política/social, quando inúmeros desejos estiveram nas pautas das reivindicações dos agentes envolvidos, e também dos populares.


A profissão de caminhoneiro é, evidentemente, onerosa, envolvendo uma série de dificuldades, desde a distância dos familiares, que chega em torno de 19 dias fora de casa, como destaca o sociólogo Ruy Braga, passando pelos riscos, como os acidentes, os percalços da violência, as jornadas intensas, podendo chegar até 24 horas de trabalho ininterrupto, principalmente dos autônomos, culminando na alta constante no preço dos combustíveis, impactando na margem de renda desses trabalhadores. São fatores que legitimam, sem dúvida alguma, as reinvindicações.


Com a greve, sem precedente na história do país, a sociedade foi apresentada para essa categoria, que na maioria das situações passa desapercebida do cotidiano social. Desde o final da década de 1950, culminando em forte intensidade no período da Ditadura Militar, o Brasil optou pelo transporte rodoviário, deixando à margem outras possibilidades, como, por exemplo, o ferroviário e o hidroviário. A opção, eivada de interesses escusos, impacta diretamente na distribuição das mercadorias brasileiras no tempo presente, o que explica o fato de o país ter parado durante os dez dias de greve.


Geralmente, as greves no país não recebem a adesão da sociedade, porque influenciam diretamente no cotidiano das pessoas. No entanto, sempre é importante ressaltar, um dos motivos de relevância da greve é justamente a modificação da rotina, o famoso incomodar, para que o todo veja a importância de determinada categoria. Mas, o que se percebeu, segundo pesquisa divulgada pelo Datafolha, no dia 30 de maio, é que 87% dos entrevistados/as apoiam, ou apoiaram a greve.


Embora não tenha ficado nítido quais eram as principais reivindicações dos caminhoneiros, fator compreensível, porque não estamos falando de uma categoria “organizada”, no qual mais de 70% são autônomos, segundo a historiadora Larissa Jacheta. Em decorrência da ausência de uma pauta única de reivindicação, exceto o preço dos combustíveis, houve a deixa para diferentes interpretações sobre os motivos da greve, fazendo com que diferentes setores da sociedade abraçassem a “causa”.


Por exemplo, tivemos manifestações relacionadas a interesses progressistas, como crítica ao modelo neoliberal, as condições precárias de trabalho dos caminhoneiros, passando por defesas mais intensas, como retirada do Presidente Temer, culminando na antecipação das eleições. Porém, de forma dicotômica, houve manifestações da extrema direita defendendo a intervenção/ditadura militar no país, acreditando ser essa a única solução viável diante da situação, no mínimo, conflitante.


Apesar do grande apoio popular, sem adentrar no mérito da questão, e das conquistas incertas dos caminhoneiros, a greve demonstrou, por um lado, a capacidade que a classe trabalhadora tem, organizada ou não, para parar o país, mas, evidenciou também a organização do neoliberalismo para passar incólume perante as crises que enfrenta.


Nesse sentido, é interessante adentrar na forma com que a grande imprensa se relacionou com a greve, não tocando nas questões essenciais, como, por exemplo, a mudança na política da Petrobras, a permanência, não mais, de Pedro Parente à frente da estatal, o fato de a Petrobras deixar de refinar parte do Petróleo no país, impactando diretamente no preço final pago pelo consumido. Por último, mas não menos importante, os interesses das grandes petroleiras internacionais no esfacelamento da estatal, em curso, procurando a privatização.


Se tivéssemos uma imprensa, me refiro aos grandes meios de comunicação, preocupada com o bem estar social, os problemas elencados acima teriam sido, pelo menos, mencionados. No entanto, a ausência de debate sério e ético na grande mídia é uma das estratégias de manutenção do sistema neoliberal, quando consegue controlar grande parte dos meios formadores da opinião pública, se tornando invisível diante das crises que gesta.


Traduzindo em miúdos, o preço alto dos combustíveis, fator de mobilização e apoio aos caminhoneiros, está muito distante de ser o grande problema. A principal questão está relacionada com o fato de a Petrobras, com a gestão de Pedro Parente, agora, provavelmente nas mãos de Ivan Monteiro, atender aos interesses dos poucos acionistas internacionais, em detrimento da função pública e social.


Se não houver uma discussão ampla acerca do cerne da questão, é provável que os caminhoneiros continuarão no estado da precarização social, e o restante da sociedade continuará pagando o preço exorbitante dos combustíveis, sem esquecer do gás de cozinha, e da redução de investimentos em áreas essenciais para cobrir a contrapartida do governo com a redução do óleo diesel.


Em tese, quem saiu vitorioso dessa situação toda foi a política neoliberal na Petrobrás, porque, independentemente da renúncia de Pedro Parente, o modelo de gestão continuará, infelizmente, sendo o mesmo.

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