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Impacto da pandemia de COVID-19 sobre a economia brasileira



*Alexandre Bouças Marques

O cenário que temos diante de nós é bastante complexo uma vez que envolve uma grande combinação de fatores externos e internos sem precedentes na história econômica de nosso país.


Os analistas são unânimes em afirmar que a pandemia de COVID-19 representa a maior ameaça à economia nacional desde a crise de 2008. Todavia, cabe lembrar que em 2008 a situação financeira do país era bem melhor do que atualmente, portanto, o paciente – no caso, o Brasil – está bem mais fraco hoje do que estava há 12 anos o que leva a crer que o impacto vai ser bem mais intenso.


Os relatórios estudados para confecção do presente texto, elaborados por variadas instituições – COPOM, FGV, Banco Itaú, Instituto Fiscal Independente – em linhas gerais, apontam para o seguinte:


01) Teremos uma contração da economia, o que é péssimo, uma vez que não estamos crescendo há algum tempo. As projeções com relação ao PIB – Produto Interno Bruto, variam entre crescimento zero (admitido pelo Governo) e queda de 4,4% projetada pela FGV. Depois de avaliar os apontamentos feitos pelos analistas, é plausível esperar uma queda de 1,2%, na esperança de alguma melhora externa no próximo semestre.


02) Como a economia chinesa sofreu um forte solavanco no primeiro trimestre deste ano por conta da COVID, e como o mesmo deve ocorrer agora na Europa e, possivelmente, nos EUA, teremos uma redução das exportações, uma vez que a demanda mundial será menor. Como o Brasil é exportador de commodities, sentiremos um forte impacto, sobretudo no setor de extração mineral, principalmente ferro. Isso causará deterioração dos termos de troca e redução da renda nacional.]

03) A redução do preço do petróleo também vai pesar sobre nós. Nesse cenário, além da contração da demanda global e da redução na circulação dentro do próprio país, a guerra de preços entre árabes e russos deve manter o preço do petróleo em baixa. Isso, em última instância, vai se traduzir em uma queda da arrecadação de ICMS para os estados e redução nos repasses de royalties para as três esferas de governos, prejudicando diretamente o fluxo de caixa do setor público.


04) Os ativos financeiros também apresentarão um comportamento muito volátil em decorrência do clima de incerteza ocasionado pela crise. Como o Brasil não é considerado um país estável, o risco de se investir em nossa economia será amplificado o que ocasionará fuga de capitais, ou seja, os investidores não se sentirão estimulados a aplicar seus recursos no país e optarão por migrar para economias mais maduras. Isso suscitará uma possível tendência de desvalorização cambial, ou seja, o dólar pode ficar mais caro.


05) Outro problema que teremos pela frente será a ruptura nas cadeias produtivas dos setores intermediários da indústria, tais como o setor automobilístico, eletroeletrônico e farmacêutico, uma vez que, boa parte dos insumos que esses setores utilizam são oriundos da China que teve interrupção parcial de seu setor produtivo. Por conta disso, é plausível supor que teremos falta no mercado de alguns produtos industrializados.

06) Do lado da demanda, naturalmente, teremos redução, não somente por conta da quarentena – quando ficamos em casa gastamos menos – como também em decorrência da deterioração dos termos de troca, da desvalorização da moeda e do provável crescimento do desemprego.


Toda essa combinação de fatores constitui um grande desafio para o governo e alguns analistas já consideram que o viés neoliberal da política econômica praticada pela União tenha que abrir espaço para práticas que admitam uma maior presença do Estado na economia.


O fato é que as ações propostas pelo Governo Federal até o momento apenas amenizam o sofrimento.


No que diz respeito aos paliativos propostos para sobrevivermos com alguma dignidade à crise, será necessário socorrer não somente o lado da oferta (as empresas) como também o lado da demanda (as famílias) e, independente do que seja feito, qualquer ação vai resultar em crescimento do déficit orçamentário da União, afinal, o próprio cenário da economia já estará provocando redução da arrecadação de impostos e elevação dos gastos públicos, principalmente em saúde e assistência social.


Essa pressão sobre os cofres públicos terá que ser aliviada de alguma maneira. A opção de se promover leilões de privatização tem pouca chance de acontecer uma vez que o mercado não está com apetite para investir, emitir papel moeda (senhoriagem) não é uma alternava razoável, pois terá como efeito colateral pressão inflacionária, usar as reservas da União para socorrer as pessoas reduzirá nossa capacidade de intervir no câmbio para frear a alta do dólar, elevar a carga tributária a essa altura do campeonato, provavelmente matará o paciente, portanto, o que vai restar ao governo será elevar a dívida pública oferecendo mais títulos pós e pré-fixados no mercado.


Os únicos fatores a nosso favor seriam a inflação baixa (essa inflação controlada é decorrência do cenário recessivo, as pessoas não estão consumindo, portanto, não há margem para elevar os preços), e a taxa de juros baixa, pressupondo que a única solução aparente para o governo será o endividamento e que os juros baixos ajudarão a reduzir os custos de manutenção do serviço da dívida.


Quando esse turbilhão acabar, é fundamental que a pauta econômica se torne realmente prioritária e o foco seja mantido nela. O Brasil precisa de uma política nacional de investimentos em infraestrutura baseada em financiamento privado, necessita de um arcabouço institucional que transmita segurança e estabilidade para o mercado e precisa rever sua legislação tributária, do contrário não teremos condições de retomar o crescimento, o país ficará cada vez mais pobre e desigual.







Alexandre Bouças Marques é economista de formação. É professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Álvaro de Melo, em Ceres/GO.







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