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Inventário das Referências Culturais de Itapuranga (IRCI)

Foto do escritor: Lucas PiresLucas Pires


Boa noite a todos e a todas. Inicialmente, gostaria de agradecer a presença de vocês nesse momento especial. O companheirismo de vocês, que estão presentes no lançamento do livro, proporciona um sentimento de alegria e uma emoção que são indescritíveis. O livro apresentado à comunidade, intitulado Inventário das Referências Culturais de Itapuranga (IRCI), resulta de um esforço coletivo. Conforme mencionei na apresentação da segunda parte, essa referência sobre um esforço coletivo não é uma hipérbole, mas uma constatação, que ficará evidente quando tiverem a oportunidade de folhear cada página do Inventário.


Nesses momentos, quando estamos dominados por uma profunda e sincera emoção, quando razão e emoção se entrelaçam, nos faltam palavras. Imaginando que essa possibilidade poderia sair facilmente do campo da hipótese e se manifestar na prática, escrevo e compartilho os meus sentimentos por meio desse pequeno texto. Quando recebi o convite do querido Prof. Dr. Valtuir Moreira, para organizarmos um livro sobre as Referências Culturais de Itapuranga, imaginei algumas possibilidades de pesquisa, principalmente pelo fato de ter me dedicado, no decorrer dos últimos anos, aos temas inerentes à cultura popular. Diante das possibilidades, acreditava ser possível fazer um mapeamento mais abrangente dos valores da cultura popular no município, encontrando representação nos homens e nas mulheres que se valem de todo um saber ancestral, que se valem dos valores culturais de um tempo não tão distante, porque, conforme afirma o filósofo Walter Benjamin, o passado é cheio de ágoras[1].


No entanto, quando iniciei a pesquisa, me deparei com um universo sociocultural muito mais abrangente do que aquele imaginado anteriormente. O município de Itapuranga não possui unicamente uma diversidade cultural, talvez a categoria possa ser mais ampla. Ou seja, o município é permeado por uma vastidão cultural, que, ao mesmo tempo, é imensa, difícil de ser mensurada, mas que faz todo o sentido, não somente para os homens e para as mulheres presentes nesse volume, mas essa vastidão ofereceu e continua oferecendo sentido à comunidade Itapuranguense.


Quando estabeleci contato com a vastidão cultural, identificando que não seria possível abrangê-la no livro, estive envolto por dois sentimentos. No primeiro momento, mencionei que a emoção e a razão, nessa e em tantas outras circunstâncias, são indivisíveis. Porém, os sentimentos que estiveram presentes diante da vastidão cultural não foram tomados pela emoção ou pela razão, mas tomados por uma tristeza e, sem ser contraditório, também por uma alegria. Tristeza por não conseguir alcançar o objetivo desenhado e alegria por saber que o objetivo não se findaria com a entrega do primeiro volume do livro, pelo fato de existir um material vastíssimo para ser pesquisado. Diante da impossibilidade de abraçar o mundo, ou melhor, de abraçar toda a vastidão cultural de Itapuranga, foi necessário fazer uma delimitação sobre os segmentos que seriam entrevistados.


Destarte, no presente livro, estive envolto na teia da sabedoria ancestral e cultural de um narrador artesanal, Daniel Antônio, na teia de uma autora e contadora de causos, Elza Parreira, de um poeta, o senhor José Teodoro, de duas benzedeiras e um benzedor, Divina Leonardo, Maria Fernandes e o senhor José Basílio, e, por último, mas não menos importante, envolto na teia da sabedoria de Dona Orozilda, uma longeva quitandeira do município. Ao ter contato com essas referências culturais, posso afirmar que fiquei conhecendo homens e mulheres humildes e simples. Simplicidade, no presente texto, não se trata de um valor depreciativo, pelo contrário, diz respeito a um profundo e sincero elogio. Segundo o sociólogo José de Sousa Martins, são os simples que nos tiram dos simplismos[2]. Não tenho dúvida, essas pessoas, ao serem entrevistadas, descortinaram uma realidade social e cultural que, enquanto pesquisador, não tinha condições de compreender. 


Passei horas ouvindo atentamente histórias de vida, relações com os valores culturais - contos, causos, poesias - e os sentidos e os significados que atribuem à própria vida. Porém, confesso para vocês, poderia ter ficado muito mais tempo ouvindo esses homens e essas mulheres. Quanta sabedoria, quanta capacidade para interpretar filosoficamente e poeticamente o cotidiano, proporcionando com que a vida tenha, apesar das inúmeras dificuldades sociais e materiais, sentido. No entanto, essas pessoas não se contentam em construir um sentido à vida unicamente individual, mas, aos moldes do narrador benjaminiano[3], procuram transmitir toda a sabedoria para inúmeras outras pessoas, e a melhor maneira que encontraram para compartilhar os saberes está representada na arte de benzer, nos causos, na poesia e nas deliciosas quitandas.


Imagino que, por uma influência direta de Walter Benjamin, citado algumas vezes nesse texto, ao ter contato com esses saberes ancestrais e culturais, compreendendo os sentidos e os significados que representam, não poderia esconder toda essa vastidão sociocultural da comunidade. O livro, mais especificamente a segunda parte, relacionada aos humanos, tem justamente esse objetivo: evidenciar toda a sabedoria ancestral e cultural do senhor José Teodoro, da senhora Elza Parreira, do Daniel Antônio, da Divina Leonardo, da senhora Maria Fernandes, do senhor João Basílio e de Dona Orozilda. Espero que tenha conseguido alcançar o objetivo.


No início, mencionei que o livro é resultado de um esforço coletivo. Nessa parte final, considero necessário apresentar os rostos e as identidades que trabalharam e possibilitaram que chegássemos a esse momento. Quando menciono o princípio do esforço coletivo, ressalto a importância do poder público, representado na sensibilidade e no compromisso com a cultura e com a educação da Secretária Municipal de Cultura, Flávia Rabelo. Sua presença, Flávia, nos alegra imensamente e a maneira de demonstrá-la é por meio do agradecimento. Se não fosse o fomento público proporcionado pela Lei Paulo Gustavo, o primeiro volume do livro não seria possível.


No mesmo ensejo, agradeço imensamente à Professora Luana Nunes e ao Professor Valtuir Moreira, por terem compartilhado toda a sabedoria e experiência acadêmica de pesquisa e publicação na organização do primeiro volume. Agradeço aos pesquisadores e pesquisadoras que trabalharam e continuam empenhados na pesquisa e na organização do segundo e terceiro volume do Inventário das Referências Culturais de Itapuranga. São pesquisadores e pesquisadoras, egressos e egressas do Curso de História, que não se contentam unicamente com a produção do conhecimento, mas se movem a partir da utopia da socialização do conhecimento produzido coletivamente. Por meio do livro, da participação ativa dos egressos e das egressas, afirmo, sem titubear, que o curso de História continua (re)existindo.


Ainda nos agradecimentos, faço uma menção mais do que especial tanto à contribuição quanto à gentileza das historiadoras Maria Rita de Moura, Karen Borges e Eliane Coutinho. À Maria Rita por ter realizado um trabalho fundamental na segunda parte do livro, fazendo a transcrição das entrevistas com as referências culturais. À Karen Borges e Eliane Coutinho, agradeço por terem disponibilizado as entrevistas que fizeram com o senhor José Basílio e com as senhoras Divina Leonardo e Maria Fernandes, benzedor e benzedeiras, possibilitando com que essas pessoas, detentoras da arte de benzer, estivessem presentes na segunda parte do livro.


Por último, mas não menos importante, fico muito emocionado com a presença de todos e todas nesse momento. Amigos, amigas, familiares, estudantes, professores e professoras, referências culturais, enfim, muito obrigado pela presença, companheirismo e consideração. Espero que o primeiro volume do livro[4] possibilite inúmeras e importantes reflexões sobre as diferentes histórias, memórias, temporalidades, valores e culturas que possibilitaram e continuam possibilitando a formação sociocultural do município de Itapuranga.

Obrigado.



Notas:


*O texto foi escrito para o lançamento do primeiro volume do livro Inventário das Referências Culturais de Itapuranga (IRCI). O lançamento ocorreu nas dependências da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Itapuranga, no dia 05 de dezembro de 2024. O livro foi organizado pelos professores: Valtuir Moreira da Silva, Luana Nunes Martins de Lima e Lucas Pires Ribeiro.


[1] Consultar BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre a literatura e história da cultura. 8ª edição. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012.


[2] Consultar MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2018.


[3] Consultar BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In:. BENJAMIN, Walter Benjamin. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. 8ª edição. Tradução de Sérgio Paulo Roaunet. São Paulo: Brasiliense, 2012.


[4] O livro Inventário das Referências Culturais de Itapuranga (IRCI) poderá ser baixado gratuitamente no site da Pedro & João Editores, por meio do seguinte endereço: Inventário das Referências Culturais de Itapuranga (IRCI). Vol. 1 – Pedro & João Editores.

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