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O feminismo é para todo mundo, inclusive para você



A autora, intelectual, crítica cultural e teórica feminista norte americana Gloria Jean Watkins, que adotou o pseudônimo bell hooks, em homenagem a sua bisavó materna, aborda em sua obra O feminismo é para todo mundo questões cruciais para a compreensão do feminismo, desde a fase inicial de reflexão e transformação individual interna, até a necessidade de implantação da educação feminista de base, abordando questões como o direito reprodutivo, o trabalho feminino não remunerado, imposição da rivalidade feminina, opressão sexista, discriminação racial e violência de gênero, sem abster-se da falácia do feminismo liberal.


A autora optou pelo pseudônimo bell hooks, com iniciais minúsculas, como uma forma de retirar o foco do público leitor de si mesma e conduzi-lo as suas reflexões. O feminismo é para todo mundo é dotado de fundamentação teórica de excelência e análise crítica. A autora destaca a luta feminista por democracia racial, igualdade social e de gênero e pela superação de todas as formas de opressão existentes, ressaltando o caráter antirracista, anti-homofóbico, antissexista e fundamentalmente anticapitalista do feminismo.


O feminismo é democrático, solidário, empático, é uma luta política contundente pela emancipação das minorias, fim das desigualdades e opressões e que concede espaço a todos os gêneros, classes, cores e etnias. Quando eu defendo a igualdade de gênero, obviamente estou defendendo uma causa feminista. Contudo, quando eu me posiciono a favor da igualdade social, fim do preconceito e discriminação racial, educação de qualidade a todos, o fim da intolerância religiosa, a sustentabilidade, o fim das classes sociais, etc., eu estou me posicionando a favor de pautas feministas também. O feminismo é plural, é nessa pluralidade que reside a força e a importância do movimento.


A evolução integral de uma sociedade se dá através de transformações em seus distintos âmbitos, o corpo social apenas tem um processo completo de metamorfose, quando todos os seus membros passam por transformações pragmáticas. Segundo a socióloga Heleieth Saffioti(1987), existe uma “simbiose” não harmônica: “patriarcado-racismo-capitalismo”, que beneficia as classes dominantes em detrimento das exploradas. Portanto, pensar que a opressão sexista será aniquilada apenas com a substituição do modo de produção, desconsiderando a questão de gênero e racial é errôneo, já que “a História revela amplamente que nações, cujas revoluções priorizaram a luta de classes, por incompreensão da simbiose já referida, não chegaram a realizar na prática, a democracia para todos. Não se pode negar que as sociedades socialistas melhoraram enormemente a condição feminina, assim como a de minorias étnicas. Mas melhorar a condição destas categorias sociais não significa torná-las iguais às outras”. Do mesmo modo, conceber a ideia de que apenas o fim da dominação/exploração social entre gêneros, basta para que as outras formas de opressão cessem, como bell hooks ressalta que o feminismo liberal propõe, é algo extremamente equivocado. É a superação por completo desta simbiose que o verdadeiro feminismo busca.


É importante para nós, como membros do corpo social, conhecer o feminismo, identificar de que forma ele nos representa e luta pela emancipação das minorias. É preciso que homens e mulheres levantem essa bandeira. Segundo Saffioti “a plena compreensão do patriarcado-racismo-capitalismo encaminha a luta na direção da destruição da simbiose entre estes três sistemas de dominação-exploração, transformados, ao longo da História, em um único e poderoso sistema de opressão da maioria”, esse é o caminho, temos que nos libertar das correntes socialmente construídas e dizer não a todas as formas de opressão, lutando pela conquista de uma verdadeira metamorfose social revolucionária.


Todos nós precisamos do feminismo para garantir nossa liberdade de expressão, assim como nossa liberdade sexual e cultural. Mulheres, nós precisamos do feminismo se acreditamos em uma sociedade igualitária, se queremos que nossas vozes sejam ouvidas, que nossos direitos reprodutivos sejam respeitados, se desejamos independência financeira e o fim do assédio e do sexismo. Homens, vocês precisam do feminismo, se almejam o fim de estereótipos que os obrigam a agir de um modo que não lhes agrada, se querem o fim da pressão social de ser o provedor familiar, fim da castração sentimental masculina, da sobrecarga psíquica do exercício da dominação e da imposição do pertencimento ao padrão heteronormativo. Homem, se você deseja uma sociedade onde você pode ser livre para ser quem quiser, o feminismo é para você.


A contribuição do feminismo para as relações interpessoais também é inegável, não há relação saudável onde há dominação, portanto, em relações embasadas no feminismo, a dominação cede espaço à reciprocidade. Como ressaltado por (hooks,2019), “o bem estar emocional de mulheres e de homens seria maior se ambas as partes aderissem ao pensamento e à prática feministas(...), a prática feminista é o único movimento por justiça social em nossa sociedade que cria condições para que a mutualidade seja nutrida”. O feminismo é para todo mundo, inclusive para você.



Referências:


HOOKS, Bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras.7ed. Rio de Janeiro: Rosa dos tempos,2019.


SAFFIOTI, Heleieth I.B. O poder do macho. São Paulo: Editora Moderna, 1987.

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