César Camargo[1]
Tudo que me pedem, faço
Tudo que faço, não alcanço
Tudo é insuficiente e sem retribuição
Querem educação, querem compreensão
Não veem que estou cansado
De uma dificuldade em ser cidadão
Apenas mais um na multidão
Seguindo a direção que pedem
Pra que a engrenagem não quebre.
Querem pontualidade, querem minha maturidade
Tudo parece absurdo
Seguimos de alguma forma surdos
O sistema me oprime
O sistema me massacra
Ele me espanca, me mantêm de cabeça baixa.
Meu mérito continua no mesmo lugar
Abaixo do céu ou mais perto de um buraco
Tento levantar, as palavras são deprimentes
O soco é certeiro, não tenho que mudar
Continuo saco de pancadas, pra fome não voltar
A justiça não é justa, o país não é igual
Querem o estado só pra eles
Herdeiros do mal.
Querem fazer acreditar
Que nossa condição é normal
Querem meu suor, querem meu sangue
Nada é o bastante
Algemas na mente, prisão consciente
A programação tenta nos manter
Na linha do inconsciente
Com tanta pressão e desapego
Tirando-me o sono, até meus desejos
Sufocado no tempo, sem raciocinar
Prendo a respiração, os gritos.
A consciência não me liberta
Continuo a espera da hora certa
Querem minha servidão, querem meus filhos
Faço meu sacrifício diário
O direito de ser explorado
Herança maldita dos antepassados
Hipocrisias do mal normalizado.
Tento seguir em frente
A luta é injusta, está na minha frente
Não sei como resistir
Mas é necessário
Não vejo futuro, ainda que precise
Retorno ao início de tudo
Continua insuficiente.
[1][1] Geógrafo. Graduado pela UEG, Unidade Universitária de Itapuranga.
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