
Nos últimos anos uma palavra tem dominado o imaginário nacional, a saber, crise. Em diferentes espaços sempre é possível encontrar alguém falando de crise e, de forma não menos intensa, quando se liga à televisão, nos programas jornalísticos, nas rodas de conversa dos grandes meios de comunicação, e até mesmo na mídia alternativa, a palavra crise, nesse sentido, imbuída de diferentes interpretações acompanha as análises que são feitas.
Crise econômica, crise na segurança, crise no sistema de saúde, crise no congresso, crise no sistema de arrecadação, crise educacional, crise de representação, e tantas outras. Se alguém se deparar diante de um espaço com pessoas que não estabeleça diretamente relações e perceber que o diálogo não fluíra, em vez de recorrer à desculpa do tempo, nos dias atuais é recomendável que solte a palavra crise. Pronto, não tem jeito, o diálogo se iniciara na medida que o interlocutor perceber que o som que forma a palavra rompeu a barreira dos ouvidos. Não há ausência de diálogo que resista.
É evidente que a circulação ampla, no imaginário social, da palavra crise não é meramente uma construção idealizada para ser. Nesse sentido, sem negar as inúmeras tentativas para construir uma narrativa única para direcionar a estética da recepção, é inegável que o país vivenciava um período de crise(s). Afinal, o imaginário social não é somente conduzido, tendo condições para construir suas próprias preocupações.
Sem desmerecer os impactos das crises mencionadas, entendendo que uma está relacionada com outras, mas, talvez seja possível afirmar que uma das crises mais atuantes no cotidiano social esteja associada com o alto índice de desemprego que assola boa parte da população brasileira. Os dados oriundos de pesquisas científicas são fundamentais para atestar o desemprego que assola o país. Há pouco menos de um mês o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que no mês de janeiro o índice de desemprego subiu para 12%, atingindo 12,7 milhões de pessoas. Além disso, a pesquisa demonstra que o número de pessoas que trabalham por conta própria alcançou o patamar histórico de 23,9 milhões de indivíduos.
Somado os dois montantes, atualmente tem se mais de 37 milhões de pessoas que não possuem o chamado emprego formal, com carteira assinada, alguns direitos assegurados, como férias, décimo terceiro e outros que sobreviveram à famigerada Reforma Trabalhista. No entanto, se a pessoa não quiser recorrer às pesquisas que evidenciam a resistente taxa de vulnerabilidade social no país, basta ter sensibilidade social. É suficiente sair às ruas, praças, becos, veredas e vielas para perceber o quanto a miséria social se intensificou nos últimos anos.
Infelizmente, mas novamente tem se tornado corriqueiro se deparar com pessoas vivendo sem as mínimas condições, representadas, principalmente, por pedintes e, majoritariamente, por moradores de rua. A presença constante e crescente dessas categorias sociais se constitui como um reflexo do aumento da crise econômica e empregatícia que atinge boa parte da população brasileira, atuando mais diretamente nos grupos sociais menos favorecidos, com destaque para a população negra.
É comum se deparar com pessoas da classe média reclamando sobre a diminuição do poder de compra. Se há esse tipo de reclamação por parte desse seguimento, o leitor/a dessa coluna poderá ter certeza que o impacto na vida dos mais pobres é muito mais intenso, porque se a classe média reclama de diminuição de poder de compra, o que não deixa de ser importante, os pobres reclamam da falta de emprego, e consequentemente da falta de alimentação básica para suster as necessidades familiares.
Enfim, há muito tempo o neoliberalismo vem dando as diretrizes para, de acordo com sua concepção de Brasil, solucionar os problemas vitais que assolam o país, mas todas as alternativas implantadas, ou com desejo para fazê-la, demonstram-se totalmente ineficazes, deixando ainda mais precária à condição de vida dos vulneráveis. Exemplos não faltam, impeachment, Redução de Investimentos, Reforma Trabalhista e, agora, a propalada Reforma da Previdência, apresentada como a solução definitiva para a crise. Se nos valermos dos últimos projetos, existem exemplos de sobra para desconfiar das “boas intenções” do mercado neoliberal.
A solução dos problemas passa muito distante dos anseios do chamado mercado, que tem potencial para agravá-los e não para dirimi-los. Sendo assim, as crises que o país vivencia somente terão condições de serem aplacadas de acordo com a modificação da concepção social, observando que uma das causas principais está assolada na desigualdade gritante que acompanha os indivíduos nos mais diferentes rincões. O envolvimento coletivo, ocupando os mais diferentes espaços será crucial no desenrolar dos próximos anos.
Porém, a participação coletiva não exime de responsabilidade figuras representativas. Diante de um sistema presidencialista, é notório que o Presidente da República assume protagonismo diante das ações e reações. Sendo assim, não é demasiado perguntar, o que o atual presidente, o senhor Jair Bolsonaro tem feito para apontar caminhos para diminuir os impactos das inúmeras crises que o país vivencia?
Diante da pergunta, é provável que o silêncio assuma o protagonismo de agora em diante, porque o atual presidente opta por se distanciar dos problemas reais para atacar problemas que existem somente em sua cabeça e na de seus seguidores mais fanáticos. Nos problemas criados por Jair Bolsonaro existe, Fake News, marxismo cultural na academia, professores/as doutrinadores/as, ideologia de gênero, comunismo, e tantas outras atrocidades que não têm relação com o mundo real.
No mundo real as pessoas estão morrendo por falta de investimento em saúde, doenças erradicadas estão voltando com intensidade, crianças não estão sendo assistidas por creches, escolas sem condições de funcionamento, alto índice de desemprego, como demonstrado anteriormente, o país voltando a assumir protagonismo no mapa da fome, e inúmeras outras questões que atingem diretamente a vida de milhões de pessoas. No entanto, o mundo real parece ser um tabu para o presidente da República, que se vê acuado diante de uma sociedade que clama por projetos factíveis, e não por inimigos imaginários.
De acordo com a trajetória política do presidente, talvez não seja suficiente apresenta-lo à realidade, porque parece que a realidade assusta-o. Diante da possível constatação, não é possível esperar melhorias proporcionadas pela principal representação política do país. Sendo assim, o protagonismo para a diminuição dos problemas, para a redução das crises, atende por um nome, organização coletiva. Perante outra crise, a saber, de representatividade, o contexto nunca foi tão favorável para o protagonismo coletivo como agora.
Parafraseando Marx e Engels, pessoas pobres e oprimidas desse país, uni-vos.
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