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Saúde pública ou economia: existe mesmo esta controvérsia?



*João Aparecido Gonçalves Pereira

A situação atual do Brasil frente a pandemia do coronavírus tem se mostrado bastante crítica. Tal criticidade não tem a ver somente com a nocividade do vírus. Mas, em grande medida, ela se assenta no modo como a pandemia vem sendo percebida e conduzida. Quanto a percepção da pandemia, é inegável que existe uma ignorância feroz por parte de muitas pessoas acerca da gravidade do coronavírus, do seu contágio, e, das medidas de evitá-lo.


Em pleno século XXI ainda existe em meio à sociedade brasileira muita aversão à ciência, à racionalidade e à logicidade. Tal aversão e/ou ignorância tem acarretado ações nocivas como à falta de cidadania, de eticidade e de engajamento de uma grande parcela da sociedade brasileira, inclusive do presidente da República, no combate à referida pandemia. Pois, os países asiáticos como, Japão e Coréia do Sul, que têm sido exemplares no combate a tal pandemia, assim se tornaram, graças a uma boa conjugação entre ciência, cidadania e eficiência dos governantes.


Na contramão do que tem ocorrido nestes países mencionados, e em muitos outros que vêm enfrentando esse problema com responsabilidade, o presidente da República brasileira, por diversas vezes, tem minimizado a gravidade do problema, contrariando em grande medida a equipe técnica do seu ministério da saúde. Além disso, ele tem disseminado no imaginário popular a ideia de que o Brasil enfrenta um dilema entre saúde pública e economia. Diante disso, inúmeras pessoas estão sendo induzidas a pensarem que estamos numa encruzilhada onde temos que escolher uma, dentre duas alternativas concorrentes e/ou antagônicas entre si.


São elas as supostas alternativas: de um lado tem-se que escolher acatar as orientações dos profissionais e autoridades ligadas à área da saúde e assim manter a quarentena ou isolamento social como forma de amenizar a transmissão do coronavírus. Do outro lado, pode-se acolher a ideia de que a economia precisa se movimentar a partir da normalização do trabalho. Do contrário, o desemprego, a fome e criminalidade se alastrarão pelo país.


Uma leitura lógica e racional da realidade nos faz entender que não estamos diante de duas situações independentes e antagônicas onde uma anula a outra necessariamente. Todavia, estamos diante de dois setores constitutivos da vida social que são interdependentes entre si, que é a saúde pública e a economia. Tais setores atravessam tempos ruins, e devem ser socorridos de maneira compatível e equânime.


Porque se é verdade que as pessoas não sobrevivem sem o giro da economia, da mesma forma, também é verdade que a economia não se movimenta devidamente num contexto de insegurança e instabilidade da saúde pública. Porque a saúde pública colapsada é economia parada e/ou comprometida.


No Brasil, ambos os setores que são tão essenciais à vida social, estão em situação periclitante. Então o que fazer nesse atual momento? Priorizar um em detrimento do outro? Conforme já afirmei acima, não existe duas alternativas excludentes. A única alternativa se assenta exatamente na necessidade de impedir o alastramento do coronavírus e amenizar ao máximo possível a decadência da economia.


Esse tipo de pensamento, de que existem duas alternativas antagônicas, quando extrapola o imaginário popular, e é defendido por autoridades importantes como o presidente da República, se torna um engodo, uma trapaça que pode conduzir o país a um caos ou colapso total. Porque faz as pessoas acreditarem numa falácia de que se pode e deve salvar a economia simplesmente fazendo uma “quarentena vertical” que consiste no isolamento apenas das pessoas que estão em grupo de risco.


Esquecem que aquelas pessoas que não estão em grupo de risco também podem ser contaminadas, por conseguinte, podem ter complicações e certamente irão procurar o sistema de saúde. Essa realidade poderá causar um colapso no sistema de saúde, não tendo condições de atender a todos. Isso não só acarretará a mortes de muitos, que não terão atendimento médico, como também afetará gravemente a economia.


Portanto, para o bem da nação, a ideia equivocada de que existem duas situações antagônicas, onde apenas uma pode ser escolhida, precisa ser veementemente combatida. Uma vez que não é viável salvar a economia em detrimento da saúde pública e nem se deve focar nesta em detrimento daquela. As experiências desta pandemia no mundo inteiro, como também os profissionais da saúde e muitos economistas apontam, evidencia que não existe viabilidade na escolha pela alternativa de quebrar a quarentena horizontal para salvar a economia.


Porque tal quebra, como já mencionei, tenderá a colapsar o sistema de saúde, emperrando ainda mais a economia (não existirão consumidores nas ruas). Daí, ao invés de ter apenas um, ter-se-ão dois problemas gravíssimos. Essa conclusão é muito bem ilustrada em países como Itália, que mudou a estratégia de isolamento em nome da salvação da economia e vem pagando um preço muito alto por isso, devido ao número alarmante de mortes decorrentes do coronavírus.


Sendo assim, tanto a saúde pública, quanto a economia, precisam ser bem conduzidas nesse momento de crise. O que não significa que se pode salvar o vigor de ambas na mesma proporção. A realidade exige que a saúde pública seja priorizada no sentido de que o sistema de saúde, público e privado, não seja colapsado, e o número de mortes seja o menor possível.


Nesse momento, o bom senso e os profissionais da saúde do mundo inteiro apontam que a melhor maneira de combater essa pandemia é usar de todas as medidas para evitar a proliferação do vírus. E a medida eficaz que tem sido adotada pelo mundo inteiro é o isolamento social, cujo qual, tem sido denominado como quarentena.




*João Aparecido Gonçalves Pereira

Mestre em Filosofia e Professor da Seduc-PA.


Texto originalmente publicado em:

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