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Conversando com a Depressão



A palavra depressão por si só já carrega um peso, cada denominação e termo pejorativo, atribuído, afeta de forma direta quem carrega, em si, a doença. A necessidade de as pessoas constantemente acharem que sabem de fato o que acontece com alguém que se levanta todos os dias se sentindo um fardo, faz com que o peso e o vazio interno apenas aumentem.


Infelizmente já estive dos dois lados, já fui os dois personagens nessa história da doença. Arrastar por cada etapa, e chegar ao nível de tentar contra a própria vida. Então podemos analisar que quando alguém tenta contra si, não é para chamar atenção, nem draminha, ou falta de uma crença religiosa, algo realmente esta acontecendo.

Ter depressão não é ser triste o tempo todo, ou se deixar desleixar fisicamente, quem sorri durante o dia pode carregar no peito o vazio, quem brinca, vai em festas, também pode estar acometido pela depressão.


São os pequenos detalhes que somente quem está próximo percebe. Chega a um nível que carrega o fardo de ver todos a sua volta felizes, e o seu vazio ser enorme. Não entendo como a felicidade parece não existir, e os seus problemas tomarem conta de tudo sem que haja uma solução. A depressão pode não ocasionar de problemas externos, e sim do excesso de pensamentos guardados, sentindo sua mente em turbilhões, principalmente durante a noite, sentir seu estômago cada vez menor, ao ponto de conseguir ficar dias sem se alimentar, ou não sentir forças para se levantar da cama.


O que para muitos são pequenos detalhes, para outros são enormes problemas. Por exemplo, amanhecer e só conseguir pensar que poderia já ser de noite para poder ficar sozinha, e quando está sozinha querer ter alguém por perto.


Após 4 dias desaparecida, encontraram uma amiga minha que, infelizmente, a doença está conseguindo vencer. Porém, ela pediu socorro para todos que estava a sua volta. Do seu jeitinho, vinha lutando contra sua mente por anos. Desde a minha infância me recordo do quanto eu adorava estar com ela, de todos os dias fugir para sua casa e “obrigar” a assistir filmes comigo. Porém, com o tempo fui distanciando e adiando às visitas, não por maldade.


Hoje, o dia de vê-la chegou, e foi o pior dia, fui lembrada constantemente pelas pessoas próximas que eu a ajudava mesmo sem saber, e que ela dizia: "Como uma criança pode me dar tanta força". Mas eu cresci, e à esqueci; sempre deixei para depois, achando que o tempo não passava, e infelizmente passou.


Quem tem depressão sabe o que é estar em meio a uma multidão e se sentir sozinho, sabe como é lutar e ser forte todos os dias, não para “matar um leão por dia”, porque sentem na pele que precisam aprender a ser o leão. Quem tem depressão sabe como isso afeta as pessoas a sua volta, mas, muitos/as não sabem pedir ajuda.


Estar próximo, mesmo em silêncio, é demonstração de carinho, é a forma de dizer: “Eu estou contigo, nunca deixe para amanhã”. Depressão tem cura, quando identificada antes. A dor do arrependimento de pensar que poderia ter feito mais é devastadora.


Hoje estou presenciando o outro lado da doença, sentindo a falta que uma pessoa faz, e diante da reflexão vem o arrependimento.


“É preciso amar as pessoas

Como se não houvesse amanhã

Porque se você parar pra pensar

Na verdade não há”


(Pais e Filhos – Legião Urbana)

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