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Ditadura dos Cachos


Durante um longo tempo, a sociedade padronizou o cabelo perfeito como sendo liso, o que levou muitas mulheres à utilizarem produtos nada confiáveis, e gerando pomposos lucros as indústrias que lucraram com nossas inseguranças e medos de assumir a nossa naturalidade. Eu já fiz parte dessa onda de mulheres em busca da “perfeição”, visando os olhos alheios, como já relatei em um texto anterior, aqui no blog, “Relatos de uma vida”.


A decisão de uma aceitação própria leva um alto conhecimento, e o rompimento com os comentários que antes te afetava, e agora, se não somar, são descartados. A decisão de um big chop é extremamente aterrorizante para quem ainda teme sua decisão baseada no que as outras pessoas irão achar; e mesmo havendo essa desconstrução, a sociedade insiste em transformar uma luta em uma nova padronização.


Uma nova “ditadura”, a saber, dos cachos perfeitos, totalmente definidos, sem frizz, com um volume uniforme. Porém, a variação de formas em uma única pessoa é incrível, e deveria ser admirado sem que ocorresse julgamentos. Eu seria hipócrita se afirmasse que sei de fato o que é ser descriminada e humilhada, porque a forma do meu cabelo remete mais a um ondulado, e apesar de ter sido muito criticada, nada se compara a forma que o cabelo crespo é visto pelos olhos alheios. Então, falo pelas pessoas a minha volta, que são descriminadas. A luta da aceitação do próprio cabelo se iniciou pela luta das mulheres negras, e deveria receber o devido valor, endereçado, ao movimento feminista negro.


Vemos dois lados dessa ditadura, o cabelo crespo não se enquadra e o ondulado também não, e lá estamos nós, longe do padrão novamente, porque temos os cabelos perfeitos (cacheados) e outros não. Aqui se encontra o problema, os outros que não estão enquadrados na categoria, quem mais lutou para se assumir, se vê fora do novo “grupinho”.


Assim, a sociedade mais uma vez cria estereótipos, podendo por muitas vezes não ser, necessariamente, um ato de maldade, entretanto, já me vi nessa ditadura, querendo cachear meu cabelo com quilos de creme e horas na frente do espelho, enrolando cada mechinha como me ensinaram, até que resolvi me amar. Creio que a palavra aceitação já não é tão pertinente.


Se amar, amar cada pedacinho seu, cada forma do seu cabelo, seja do 2A ao 4C (Cada formato de cabelo segundo a indústria de produtos), entender que a desconstrução não é cair novamente em mais uma prisão, mas sim ser quem você é, e saber que ser bonita/o é ser único/a.

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