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Memorial do Peg Pag Solidário e Responsável: alimentos saudáveis em nossas mesas



Sol a pino, tarde ensolarada e o despertar de uma ligação. Quem estava do outro lado da linha, um camponês familiar, geógrafo e cidadão que se preocupa e se ocupa com os outros: meu amigo Odean Garcia. Conversas à parte, saudação e muita coisa para conversar. Quando fui indagado, em meio ao processo pandêmico de saúde vivido por todo mundo, me dizendo assim: não estava na hora de fazermos alguma coisa para ajudar os homens e mulheres da agricultura camponesa familiar de Itapuranga? Quando o respondi positivamente que deveríamos fazer algo. Mas o quê?


Pronto! A prosa se estendeu e tivemos que finalizá-la em outro dia, ao marcamos um encontro, uma reunião que havíamos combinado com o Padre Celso Carpenedo, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Itapuranga. O dia não me lembro bem, mais foi na primeira quinzena de maio de 2020. Espero um pouco, o telefone toca mais uma vez. Mais uma ligação, alguns minutos de prosa, passamos o convite para o Ilmon José Queiroz, Presidente da Cooperafi e para os representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itapuranga, Rosa Queiroz e Heraldo Vieira. Tudo estava marcado, 14 horas na casa paroquial.


Encontro marcado, parece que nascia uma luz no fim do túnel. Fiquei a pensar no Mito da Caverna de Platão, ao vermos uma pequena luz, não que nos atrapalhasse, mas que nos dera medo, como também narrado pelo filósofo grego. Mas fomos ao encontro, esperando sair dali com uma ideia boa que pudesse colaborar de forma solidária e responsável com os camponeses e suas atividades na produção alimentar. Além de nascer ações sociais com as famílias que necessitam de alimentos em suas mesas.


Mas espere um pouco, fomos falar com o Padre? Tal como sempre aconteceu na História do Brasil. Talvez seria melhor reclamar, como fizeram muitos de nossos antepassados. Mas não é de ver que o Padre Celso Carpenedo esqueceu de nossa reunião, saiu de casa para outro compromisso e ficamos do lado de fora de sua residência. Olhares entrecruzados! Desanimar, jamais. Mas as ideias foram sendo propaladas e não paramos por aí, o nosso ideal ficou como um martelo em nossas consciências. Aliás, preciso parar para dizer que a nossa prosa foi adoçada, ao ser presenteado com um pote de melado de cana produzido pela família Garcia. Imagine deixar o meu companheiro sem a ajuda. Tudo isso serviu como estímulo e nos deu força e sustança para continuarmos nesta empreitada de manter viva a chama de sonhar coletivamente. Temos que nos tornar mais humanos-ser.


Não é que o Padre Celso nos provocara novamente. Em tempo, Odean Garcia o provocou e marcamos mais uma reunião na casa dos Padres, agora como moradores do Xixazão, mais precisamente em frente à Praça Cunha Lima. Voltamos ao passado para representar o presente. A reunião deu certo! Fomos falar e reclamar ao Padre. E olha que a saudação foi muito boa, todos ficamos em nosso distanciamento social, máscaras, álcool em gel a disposição, sem contar a presença de Isis (deusa da vida e morte) e Nefites (senhora da casa), as duas deusas da mitologia egípcia que foram transpostas para a sociedade greco-romana ajudando a pensar: o que fazer? Em tempo, as deusas aqui são duas cadelas acolhedoras que Padre Celso têm em sua companhia e que ajuda a receber aos chegantes sempre.


A primeira edição, que deu materialidade ao projeto, foi realizada no dia 15 de junho de 2020, a partir das 8h da manhã. Lembrando que, para essa edição preparou-se um banner de divulgação do Peg Pag Solidário e Responsável, gentilmente doado, solidariamente, por Mário Rodrigues da Silva (Marão); tenda hasteada, mesas e bancas de exposição da produção da agricultura familiar camponesa postas. Estava lançada mais uma experiência da agricultura familiar camponesa em Itapuranga.



Sucesso total! Isso mesmo, de uma ideia apreensiva, que careceu de todos envolvidos em um processo de entender às luzes que vinham lampejando, o Peg Pag Solidário e Responsável, é fruto dos alimentos dos agricultores e agricultoras camponeses familiares: Odean, Douglas, Rogério, Leandro, Peixoto, Selma, Eustáquio, Janete, Valdemir, Elza, José Vidigal e Laide. A Produção variada é que garante a soberania alimentar com bolos variados, farinha de mandioca, acelga, tomates, rapadura, açúcar mascavo, brócolis, mamão, mel, açafrão, mexericas, pepino, quiabo, alface, rúcula, ovos, almeirão, cebola de folha, cheiro verde, couve.


A experiência não parou! Isso mesmo, parece que o mutirão solidário e responsável conseguiu ecoar, haja vista que outras edições foram vivenciadas. Dia 22 de junho, esses mesmos agricultores familiares camponeses enviaram mais produção alimentar, tudo adquirido pela sociedade sempre na manhã. Houve alguns clamores, o povo sentiu falta dos bolos e quitandas. Deparamos com algumas senhoras chegando e indagando aonde estavam os biscoitos e o pão de queijo produzido na roça? Os olhos e estômago estavam prontos para a degustação. Mas não vieram nesta edição, nas outras não faltaram.


O tempo passa. Dia 29 de junho nova edição. Não é de ver que tudo se manteve com os mesmos produtos, contando com a presença dos agricultores familiares camponeses, apoiadores e a presença da comunidade apreendendo com o Peg Pag Solidário e Responsável. Tal evento atraiu consumidores dos bairros do Xixazinho e do Xixazão, ou seja, pessoas que trazem consigo ensinamentos que são socializados. Pensa em um local que mantém o cuidado para com os outros, respeitando protocolos essenciais para a manutenção dessa atividade.


Interessante, já estamos na quarta edição, 06 de julho de 2020. Dúvidas surgiram se o Peg Pag Solidário e Responsável deveria continuar suas atividades. O diálogo que permeou as mentes dos interlocutores de tal experiência. Neste dia, após o recebimento das mercadorias e a montagem da estrutura do evento partiram para uma boa avaliação de todo o processo. Registre-se que, ao ouvir os articuladores da ideia, não tivemos como não manter viva essa luz. A chama estava acesa! Mais camponeses se colocaram à disposição para trazerem suas produções ajudando a aumentar o rol dos alimentos para serem consumidos. Espere aí, conclusão: isso é a revolução!


Valeu a pena continuar lutando e mantendo a atividade viva! Talvez a expressão mais reproduzida na reunião avaliativa do dia 06 de julho. Solidariedade e responsabilidade em tudo, aprendizado produzido pelos camponeses coletivamente. Findada a reunião, decidiu-se manter a rotina do Peg Pag Solidário e Responsável procurando ouvir e agregar mais agricultores familiares ao projeto. Foram realizadas mais três edições nos dias 13, 20 e 27 de julho.


O Peg Pag Solidário e Responsável já se tornou uma atividade concreta para a história da agricultura familiar camponesa em Itapuranga (Goiás). E, partindo deste cuidado com o outro, no dia 21 de julho de 2020, em reunião com alguns articuladores do projeto fora idealizado fazer uma reversão do fundo solidário que se constitui, desde a primeira atividade. Reversão definida assim: 80% do que se arrecadou deveria ser para reembolsar os esforços laborativos dos agricultores familiares que participam com suas produções e 20% formou um fundo solidário e responsável que fora revertido em Cestas Camponesas constituídas com produtos da agricultura familiar. Foram montadas 20 Cestas – recheadas com mel, rapadura, leite, alface, mamão, tomate, couve, mandioca, repolho, bolos, açafrão, farinha – que foram entregues às famílias necessitadas da comunidade itapuranguense, evento coordenado pela Paróquia Nossa Senhora de Fátima.


Enfim, todo o esforço colaborativo e comunitário que pode ser resumido com as palavras do Padre Celso, ao afirmar que: “devemos estar atentos com o que está debaixo da mesa, não naquilo que está em cima”. Ou seja: verificar os pés daqueles que estão colocando essa atividade em ação, como uma representação na Ceia do Senhor. Esse o sentido e a sensibilidade do que presentificamos nas atividades desenvolvidas no projeto Peg Pag Solidário e Responsável. Quem sabe as luzes e lampejos da Caverna platônica estejam sendo refletidas em outras ambiências de nossa comunidade. Parece que estou vendo mais gente chegar, vamos recebê-los! Este é o bem viver dos camponeses apreendendo com suas próprias experiências e de outras que são socializadas sempre, são costumes em comum. Esse o ato pedagógico apreendido, de como devemos produzir e consumir de forma responsável e solidária! Exemplo a ser seguido.

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