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Pós-verdade: A falsa impressão de saber



Com a consolidação das redes sociais no cotidiano das pessoas, com destaque para o Facebook e Whatsapp, há uma falsa impressão de que os contemporâneos são mais sábios do que os ancestrais. A ideia ganha força com a intensidade de contato com as informações, que circulam além dos periódicos especializados, “invadindo”, literalmente, as redes. Mesmo os sujeitos que não possuem o hábito de ler periódicos, constantemente se veem envoltos com informações de todas as vertentes.


A sensação de se deparar com inúmeras notícias, leva indivíduos, inocentemente, a acreditarem que estão preparados(a) para um diálogo acerca de qualquer assunto. Esse fator, explica o surgimento e a consolidação da “fake news” no tempo presente, porque não há, infelizmente, a preocupação com o conteúdo da fonte, tampouco se faz presente o ato de se ler o que pública, ou mesmo se atentar para o contraditório antes do compartilhamento. Quem frequenta as redes, se depara com notícias distantes de serem honestas intelectualmente, quando o título se tornou mais importante que o conteúdo, principalmente se for ao encontro dos anseios pessoais.


Provavelmente, você já se deparou com esse famoso ditado popular: “Uma mentira contada mil vezes se torna uma verdade”. Então, com a proliferação de conteúdos falsos circulando nas redes, o ditado se modernizou, adquirindo a denominação de pós-verdade. O conceito se tornou tão significativo, que no ano de 2016 a Universidade de Oxford incluiu pós-verdade na língua inglesa.


Além da inclusão, a instituição definiu o que vem a ser o conceito de pós verdade, entendo-o da seguinte maneira: “Pós-verdade, um substantivo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais”. A pós-verdade se apresenta como antítese às pesquisas de caráter acadêmico/científico, assim como é oposta ao jornalismo honesto intelectualmente, porque trabalha com “verdades” produzidas, em sua totalidade, de acordo com a convicção de agentes sociais.


É importante que o saber acadêmico seja questionado, abrindo espaços para outros saberes, mas, desde que os saberes, sejam, de fato, saberes, e não convicções sem sustentação empírica, e tampouco teórica. Mais preocupante do que “fake news”, são os indivíduos que alimentam e reproduzem os conteúdos, porque representam um sentimento crescente na sociedade, a saber, o sentimento do ódio, e também a ideia de pertencimento a intelectualidade. No entanto, o intelectual da “fake news”, construtor da pós-verdade, está muito distante de ser reconhecido como sábio.


Talvez, a melhor definição seja a de pseudo intelectual. Essa nova categoria social, possui uma característica comum, representada pela ausência de leitura, mas, em contrapartida, se depara com excesso de informações, e seleciona aquela que se adapta ao seu modo de pensar e se vale da informação como se fosse detentor do bastião da verdade. Geralmente, os pseudos intelectuais se sentem à vontade para se expressar sobre qualquer assunto. Assim, não é muito difícil encontrar “especialistas” de moda, arte, música, segurança, aborto, descriminalização, produção de materiais didáticos, de economia, previdência e tantos outros assuntos cadentes em nosso meio. Seja qual for o assunto, o “intelectual da rede” se encontra disposto(a) para o debate, ou melhor, embate.


O filósofo Blaise Pascal, em meados do século XVII, afirmou: “É melhor saber alguma coisa de tudo, do que tudo de alguma coisa”. Os pseudos intelectuais, construtores e “reprodutores” da pós-verdade, parecem seguir o enunciado do filósofo, porém, descontextualizando-o. Mesmo diante de saberes transdisciplinares como os do tempo presente, há momentos que é necessário dizer: “Sobre esse assunto, eu não tenho condições de analisar, e prefiro me ausentar do diálogo”.


Reconhecer a ausência de saber é um preceito básico, passando pela Filosofia, e adentrando no caráter do sujeito. Sobre caráter, para reconhecer que não sabe é necessário ter Humildade. Em um contexto, no qual a aparência do ser é mais importante que o ser, a humildade parece ser algo muito distante.


Há uma tendência de se experienciar mundos de faz de conta, e parece que parte da sociedade gostou dessa experiência. Como síntese, há duas tendências representativas do mundo em construção nesse início de século. A primeira está ancorada na felicidade plena, quando parte da sociedade se vangloria de demonstrar uma realidade não existente. (Não ouse postar fotos tristes no Facebook). Por último, se encontra o sábio em extremo, quando finge saber de tudo, tendo nas “fake news” a principal fonte de aprendizagem, entretanto, não dispensam a ajuda dos memes. Porém, suas rápidas construções de saber são desconstruídas por meio de leituras científicas/acadêmicas sobre o tema.


Talvez, a melhor maneira de lidar com a situação, esteja na estratégia de se distanciar do debate proposto, não legitimando o pseudo saber construído do dia para a noite, porque quando se estabelece diálogo, se legitima algo indevido. No contexto das “fake-news”, construtoras da pós-verdade, a dúvida continua sendo uma importante aliada.


Abraço e boa semana para vocês!.

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