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Ainda sobre Flores

Há uma prática (re)corrente no Brasil, e que infelizmente se acentuou ao longo desses últimos anos, que está centrada na desvalorização da escola e de todos os agentes que à constituem. Apesar de permear no imaginário coletivo a ideia da importância da educação escolar/universitária na vida dos sujeitos, o que se percebe é um distanciamento desse imaginário, quando pensando na prática. Por exemplo, até os defensores mais entusiasmados do neoliberalismo, e, como consequência, do estado mínimo, apregoam a necessidade dos investimentos estarem centrados em áreas que consideram essenciais para o sustento do país, e entre essas, a defesa para com o fomento público na escolarização.


Defender a escola, é um preceito que circunda diferentes correntes ideológicas no Brasil, e essa evidência sem dúvida alguma é um processo importante. No entanto, há grande questão a ser observada é a seguinte; Que tipo de escola desejamos? No Brasil, guardadas as raras exceções, ainda não se teve um projeto nacional voltado para a escolarização/educação da sociedade. O que se tem são medidas paliativas, indo ao encontro de interesses de grupos que assumem o poder. Porém, teoricamente grupos passam, e a ausência de projeto continua.


Um projeto do país para a educação seria importante, porque assim, seria um compromisso coletivo que perduraria por décadas, tendo etapas, métodos e objetos a serem percorridos, não dependendo de interesses, ora de forma legítima, outrora ilegítima, que cheguem ao poder, e procurem fazer da escola brasileira o que bem entendem. No entanto, esse projeto de educação escolar, impreterivelmente terá que ser construído de forma coletiva, demandando tempo para a sua maturação, observando outras realidades tão diversas quanto a brasileira, e se pautando em importantes referenciais teóricos que veem pensando o papel de transformação possível por meio dos preceitos escolares.


Diante da “realidade brasileira”, que pode ser pensada através da desigualdade social, a construção de um projeto de escolarização coletiva, terá, sem me impor, que levar em conta esse caráter social, e promover políticas de integração, combatendo os mais diferentes tipos de preconceito. Um projeto de escola, poderia começar a olhar para as camadas subalternas e retirar o espectro de coisificação, que historicamente fora utilizada para representa-las, e a partir da retirada dessa esfera pejorativa, até o capital, teria melhores condições de ver seres humanos, em vez de olhar somente objetos.


Talvez, poderíamos começar o diálogo com essa perspectiva; “Desejamos uma escola humana”. Um projeto de humanização das pessoas, não tendo dúvida, começaria bem. No entanto, há a construção de um projeto de escola, que está sendo gestado e gradativamente implementado pelos donos do poder. Para isso, se valem da desvalorização do núcleo escolar e dos seus agentes. O projeto é tão claro, que nem sequer escondem o conceito de projeto, e acrescentam o termo, sem partido. Interessante observar o lema de defesa do projeto, que se pauta nesses dizeres: “Por uma lei contra o abuso da liberdade de ensinar”. Parece contraditório, não?


Para implementarem o projeto, procuram construir no imaginário coletivo, o desgaste de todo o meio escolar. A desvalorização começa com a criminalização de educadores sociais que sempre olharam para a escola e viram nela um meio para romper com as estruturas da desigualdade social no país, como por exemplo, os inúmeros ataques feitos a figuras internacionalmente reconhecidas em suas lutas pela educação, como Paulo Freire.


Nesse sentido, após críticas, na maioria das vezes por pessoas que se se quer leram uma vírgula do que Paulo Freire escreveu, começam a atacar as condutas dos e das docentes, dizendo que esses doutrinam os alunos. O que seria uma doutrinação? Trabalhar com a descolonização do olhar é doutrinar? Mas, aceitar com naturalidade as construções sociais, não é aceitar a doutrinação que historicamente fomos submetidos? A pretensa neutralidade não é tomar partido?


Seguindo, após a ideia de que docentes doutrinam, os defensores do Escola sem Partido voltam seus olhares para os discentes. É muito comum ouvir, e pouco ler desses grupos defensores do pretenso projeto, de que os discentes não respeitam os professores, de que não possuem disciplina, e por isso é necessário uma intervenção na escola. Podemos presenciar a materialidade desses conceitos de criminalização ao agente aluno, no crescente projeto de militarização das escolas.


E por último, atacam as próprias escolas, dizendo que esses espaços não possuem relevância social, e que por isso, são onerosos para o estado, e que por meio de um estudo técnico, sempre técnico, chegaram à conclusão da necessidade do fechamento do espaço. Quando não são tão radicais em suas defesas, procuram suaviza-las, defendendo em vez do fechamento, a concessão do espaço escolar para grupos privados.


Há, claramente, a construção de um projeto que visa desenraizar socialmente as escolas públicas do Brasil, que mesmo com inúmeras dificuldades, conseguem transformar vidas. E é justamente na convicção de que, mesmo diante de muitos problemas, a escola transforma vidas, que defensores de projetos como o Escola sem Partido, procuram atuar. Em seu pensamento, único, a escola não pode transformar, ela simplesmente deve manter. Mas, manter o quê? Em rápidas palavras, a desigualdade social, e todos os problemas que essa desigualdade acarreta.


Por fim, uma última pergunta, porque os defensores desse projeto tem na educação escolar o seu grande alvo? Simples de ser respondido, além da transformação, a escola continua sendo um dos poucos lugares que continua a fornecer sustentáculos para a necessária resistência. Convenhamos, resistir é algo inadmissível para esses grupos conservadores, representados nesse espaço pelos simpatizantes e defensores do Escola Sem Partido. Diante da recusa, uma das alternativas é; Transgredir, Transformar e Resistir.


Abraço e boa semana para vocês!.

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